sábado, 21 de março de 2015

Estoicismo


* Por Carlos Magalhães de Azeredo


Ouve tu, homem bom! ouve, alma forte e pura!
Se a Vida destruiu teu santo ideal antigo;
Se teu pai te expulsou, como um torpe mendigo,
Por que fosses trilhar a rua da amargura;
Se a amante te traiu, num beijo de ternura;
Se te vendeu, sorrindo, o teu melhor amigo;
Se a déspota, da tua altivez em castigo,
Na prisão te deixou por leito a terra dura...
Não te queixes! não dês ao tirano e ao perverso
O prazer de escutar-te um ai... Consciência justa,
Tu podes, num só gesto, esmagar o universo!
Sofre, pois, mudo, sem um gemido mesquinho;
Envolve-te na Dor silenciosa e augusta,
Como num manto real de púrpura e de arminho!


(Procelárias, 1898)


* Jornalista, diplomata, poeta, contista, ensaísta, imortal da Academia Brasileira de Letras

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