quinta-feira, 19 de março de 2015

Abrindo o fole de Gonzagão

* Por Clóvis Campêlo


Se a modernidade existe e nos favorece não há porque desprezá-la. Assim pensando, enviei através do celular, para amigos e conhecidos, mais de 50 torpedos pedindo uma opinião qualquer sobre Gonzagão. Alguns poucos responderam (menos de 10%), o que, aliás, diga-se de passagem eu já esperava. Afinal, ninguém tem a obrigação de exercitar a crítica musical ou de emitir pareceres sobre o que quer que seja. Mas, considerando que a minha geração cresceu e viveu ouvindo as composições do Rei do Baião, nada mais natural do que emitir uma opinião, por mais passional que ela fosse.

Por exemplo, a minha amiga Fatita Vieira, de João Pessoa, respondeu-me dizendo o seguinte: “É o maior representante da música nordestina, do mais autêntico e puro forró. E influenciou todo mundo que veio depois dele, até a turma do ‘forró de plástico’, como diz Chico César. Ouvir as músicas de Gonzagão, em qualquer época, não só nos festejos juninos, é um prazer indescritível para mim. Jamais haverá outro com o talento dele”.

A poetisa Vilma Abubua, da Várzea do Capibaribe, com toda a sua sensibilidade poética, vaticinou: “Gonzagão é xote, é baião, é vida alucinação, é Asa Branca, Légua Tirana, Sanfona do povo, Ovo de codorna, Vem morena, vem, é Lula, Marimbondo, Calanga da Lacraia, É lampião, É Vida, É Luz, É forró no escuro, é Assum preto no peito, É pé de serra na serra e no sertão”.

O meu amigo, o arquiteto Aristóteles Pinheiro foi curto, grosso e afirmativo: “O Rei do Baião!”. Outro amigo, o advogado Rômulo Barreto foi sincero: “Adoro seu trabalho”. E Inaldo Sampaio, o meu compositor contemporâneo preferido, foi taxativo: “O fodão!”.
Outra amiga de longas datas, Zenita Falcão, mandou me dizer que "Gonzagão é só saudades. Curto demais um cd que tenho dele com Gonzaguinha".

O meu amigo Marcos Lothar, músico, compositor e líder comunitário lá na comunidade do Encanta Moça, no Pina, telefonou-me para dizer que, junto com Jackson do Pandeiro, Gonzagão inventou a música nordestina. Não tive como contestar, aliás, muito embora tenha contra-argumentado, bancando o advogado do diabo, que Gonzação era chegado a colocar a sua assinatura em músicas dos outros, comprando as composições ou simplesmente assumindo uma parceria que não houvera. Isso, eu escutei da boca de um pandeirista de mão cheia e que já tocou com grandes nomes da música popular pernambucana e brasileira.

Dizem as más línguas que Jackson do Pandeiro, paraibano de Alagoa Grande, também assim o fazia, tendo como vítima principalmente sua mulher, Almira Castilho. De qualquer modo, Jackson era um grande intérprete, que domava e dominava a melodia, dividindo os compassos com maestria e originalidade. Roubadas ou não, suas melodias se impuseram e deram-lhe um lugar de merecido destaque na música nordestina e na MPB.

Quanto a Luiz Gonzaga, nascido numa sexta-feira, 13 de dezembro, na cidade de Exú, no sertão de Pernambuco, ralou um bocado no Rio de Janeiro, tocando na zona e em cabarés de baixa categoria até alcançar o sucesso. Nos anos 60, quase esquecido pelo grande público e pela mídia, foi reabilitado pelos mestres do Tropicalismo, Caetano Veloso e Gilberto Gil, com citações e regravações de alguns dos seus antigos sucessos. Pra completar, o compositor carioca Carlos Imperial lançou a notícia de que os Beatles, o famoso quarteto inglês, iria gravar a música Asa Branca, em reconhecimento ao talento do seu Lua. Era a glória retornando com força total.


Recife, março 2015

* Poeta, jornalista e radialista, blogs:


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