sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Filosofia de banheiro


* Por Rodrigo Ramazzini



Era véspera de feriadão. Augusto, aproveitando a folga, programou uma visita aos pais, que moravam em uma cidade a pouco mais de uma hora e meia de ônibus. Chegou à rodoviária, e como sempre acontece nestas ocasiões, as filas dos guichês para compra de passagem estavam lotadas. Demorou cerca de vinte minutos para ser atendido. Comprou a passagem, porém, o horário de partida do ônibus seria somente dali a uma hora. Resolveu, então, sentar-se em uma pequena lanchonete para comer um pastel e tomar um refrigerante.

Comprou um vultoso pastel de carne calabresa e um refrigerante de dois litros, pois o único que gostava só tinha nesta quantidade. Ficou a saborear o pastel e a tomar o refrigerante por uns trinta e cinco minutos. Satisfeito, levantou-se e se dirigiu ao banheiro, pois o um litro e meio de refrigerante que ingerira já estava fazendo efeito.

Com a rodoviária lotada, o banheiro estava sendo bastante utilizado. A fila iniciava na porta e ganhava uma boa extensão. Augusto entrou na fila e ficou a esperar a sua vez.

Quando estava quase entrando no banheiro, e a vontade de urinar era grande, Augusto olhou o relógio e viu que faltavam cinco minutos para a partida do seu ônibus. Com medo de perdê-lo, pensou: “Eu agüento”. E saiu da fila, rumando para o box de embarque.

Embarcou no ônibus e sentou-se na poltrona 33, ao lado da janela. Na poltrona “do corredor”, uma senhora, com os cabelos fortemente pintados de preto e uns óculos com lentes bastante grossas, lhe faria companhia pela uma hora e meia de viagem que os aguardava.
 
Passados quinze minutos de viagem, Augusto começou a sofrer devido à grande vontade de urinar. A sua bexiga parecia ter enchido por completo. Mesmo com dificuldades e gemendo um pouco, conseguiu averiguar que o ônibus não possuía banheiro. Passando a mão pelo rosto, limpou uma gota de suor e abriu a janela para entrar um ar, pois o ônibus também não tinha ar-condicionado.

Certo alívio viera, mesmo com o olhar apavorado da senhora ao seu lado, quando Augusto, em um ato extremo, abriu o cinto e o zíper da sua calça. Deixou escapar um “ufa”, mas a sensação de “conforto” não durou muito, pois parecia que a cada segundo mais lhe enchia a bexiga.

O tempo não passava. Também pudera, Augusto olhava de três em três minutos para o relógio. O “aperto” já lhe causava dores na região da barriga. Gotas de suor escorriam por suas frontes. Visto o desespero que se encontrava, pensou em pedir para o ônibus interromper a viagem por um instante, para que ele pudesse urinar em um mato qualquer.

Com os olhos fechados, Augusto respirava profunda e lentamente. Foi quando sentiu que o ônibus parara. Havia chegado ao seu destino. Enfim, estava na rodoviária.

Mesmo em apuros, Augusto foi o último a desembarcar do ônibus. Com cuidados, pois não queria que ocorresse qualquer acidente nas calças, rumou até o sanitário mais próximo.

Ingressou no banheiro, viu uma “vaga” em aberto, fechou a porta, levantou a tampa do vaso sanitário e: “Aaaaaaaaahhhh!”.

Foi então que, enquanto desaguava uma “Cataratas do Iguaçu”, Augusto viveu um momento filosófico no banheiro, quando ao olhar para frente, viu escrita na parede a frase que o deixou vários dias a refletir até entendê-la: “O futuro está em suas mãos!”.

* Jornalista e cronista

Um comentário:

  1. Quase sem beber preciso ir ao banheiro cada duas horas. Com um litro e meio eu teria ido uma dez vezes. Pobre rapaz. Boa história.

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