segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

À mesa, como convém


* Por Daniel Santos


Após décadas de raros contatos, quando abraçamos carreira e deitamos prole, nos reencontramos no aniversário de um camarada da velha guarda com expectativas que, afinal, se frustraram.

Pensei, de início, que o problema era da mesa. Remediados desde a época da faculdade, comíamos o trivial simples; não, aquele escargot que nos pareceu uma espécie de lesma com grife.

Coberta por fina toalha de renda, além de cristais, pratarias, louça chinesa e perfumosos candelabros, a mesa rebrilhava suntuosa. Tanto requinte mais nos intimidava do que açulava nosso apetite.

Dessa forma, no entanto, o anfitrião alardeava sua prosperidade. Mas não só ele. A maioria de nós, em tagarelice compulsiva, se esforçava por dar veracidade a histórias de sucesso pessoal.

Não comíamos mais juntos! – grande escândalo e grande verdade ... que afinal se impôs ao encontro logo encerrado. Ficamos de marcar nova reunião; ano que vem, talvez. Ou no outro, quem sabe. A confirmar.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.

Um comentário: