segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Trazendo ausentes para junto de nós


O padre Antonio Vieira – um dos maiores, se não o maior estilista de língua portuguesa de todos os tempos, além de destacado e notável pregador – declarou, em um dos seus tantos e inspirados sermões: “O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a nós, para que estejam conosco”.  É com isso em mente e é tendo este objetivo que, há muito tempo, há mais de quatro décadas, cultivo um hábito específico: em cada início de janeiro, destino uma semana inteira à pesquisa das personalidades que completam centenário – ou de nascimento (na maioria dos casos) ou de morte (uma vez ou outra) –  em cada ano. Com esse procedimento, “mato dois coelhos com uma só cajadada”.

Caso eu conheça os respectivos personagens (na maior parte dos casos, artistas, e mais especificamente ainda, escritores, embora não somente estes), consolido o conhecimento que tenho deles. Salvo exceções, escrevo a seu respeito, após reler suas obras (no caso dos que tenham se dedicado à Literatura) ou apreciar seus quadros (se pintores), ouvir suas composições (se compositores) e vai por aí afora. E teço comentários (estritamente pessoais) a propósito. Com isso, amplio e consolido minha cultura artística, além de “engordar” minha pauta de crônicas e ensaios a redigir. É certo que nem sempre me atenho a esse programa informal que é bastante flexível. Mas traço um roteiro a seguir nos 365 dias que tiver à frente.

Lucro maior, todavia, obtenho caso não conheça as personalidades pesquisadas. Passo a conhecê-las, ampliando assim, e muito, minha cultura artística. Em ambos os casos, como acentuou o padre Vieira, trago estes “ausentes”, que a morte levou, para junto de mim, em um processo em que as duas partes saem lucrando. Eu, por aprender o que não conhecia (ou consolidar o que já sabia) e os tais personagens, geralmente esquecidos, também lucram, pois trago à baila do público seus nomes e seus feitos, impedindo que permaneçam no esquecimento. Pretensão à parte, sonho que algum dia alguém aja da mesma forma, em relação a mim. Bem, é verdade que, para ter mínima chance disso ocorrer, tenho que merecer essa distinção. É o que venho tentando, há anos, nesta minha acidentada jornada pelas trilhas da Literatura.

Como em 2014, 2013, 2012, 2011, 2010 etc.etc.etc. fiz, neste início de 2015, minha relação (que, admito, é incompleta por razões que o leitor pode imaginar com facilidade) das personalidades (com ênfase para escritores) que completariam cem anos de idade nos próximos meses, caso estivessem vivos. É grande a probabilidade de escrever a respeito deles, embora isso vá me exigir muito, muitíssimo trabalho. Antes de fazê-lo terei que ler seus livros (se escritores), pesquisar suas biografias e, sobretudo, formar opinião a respeito. Mas o tamanho da tarefa não me assusta. Na verdade, fascina-me.

Sobre alguns, nem precisarei escrever, por já haver escrito sob outro pretexto, que não seu centenário. É o caso Thomas Merton, poeta, escritor e religioso francês, que completa cem anos de nascimento em 31 de janeiro, sobre o qual tratei, não faz muito. Não é o caso do segundo da lista. Confesso que nada sei a propósito do jornalista e escritor José Jacintho Pereira Veiga, nascido em 2 de fevereiro de 1915. Espero suprir essa falta de conhecimento e partilhar com você, paciente leitor, o que apurar a seu respeito. Sobre o terceiro da minha relação, cujo centenário ocorrerá em 10 de junho, conheço muita coisa. Li diversos dos seus livros e nem sei por que não escrevi nada sobre ele. É, no meu entender, um dos tantos injustiçados do Nobel de Literatura. Refiro-me ao escritor norte-americano Saul Bellow. Está aí excelente oportunidade de emitir minha opinião sobre este polêmico intelectual.

Para julho, mais especificamente no dia 27, terei que arregaçar as mangas e pesquisar tudo o que possa a propósito do jornalista, poeta e historiador Rubens de Mendonça, sobre o qual nada conheço. Farei o possível e o impossível para resgatar sua memória. Assim como pretendo me empenhar para esclarecer-me sobre a vida e a obra do acadêmico da ABL,. Dom Marcos Barbosa, cujo centenário se dará em 12 de setembro. Em outubro, pretendo tratar de três personagens para mim também desconhecidos, além de outra figura conhecidíssima dos amantes de Literatura. No primeiro caso refiro-me às escritoras Silvina Bulrich, argentina (no dia 4) e Marisa Villardefrancos, espanhola (14 de outubro) e ao membro da ABL, João de Scantinburgo, que apesar do sobrenome, é brasileiro (31 de outubro). Dezesseis dias antes, ocorre o centenário do tradutor, filólogo, lexicógrafo, ensaísta e crítico literário Antonio Houaiss. Este (nem é preciso ressaltar) é conhecidíssimo. Pudera!

Em novembro, três “monstros sagrados” das letras (um estrangeiro e dois nacionais) completarão cem anos de nascimento. No dia 12, será o francês Roland Barthes, crítico literário, sociólogo, filósofo e semiólogo. Três dias depois, será a vez de Bernardo Élis. E no final de novembro, no dia 27, ocorre o centenário de Adonias Filho, jornalista, crítico, ensaísta e romancista, expoente da Academia Brasileira de Letras. Finalmente, em dezembro... terei folga nas pesquisas. Afinal... ninguém é de ferro, não é mesmo?

Boa leitura.


O Editor.

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Um comentário:

  1. Você se obriga a tarefas árduas, Pedro. Fiquei curiosa, mas cansada só de imaginar. Tenho lido sobre Jose J. Veiga, porque um amigo, Luiz de Aquino, jornalista e escritor de Goiânia e da Academia Goiana de Letras fala muito nele (Cavalinhos de Platiplanto). Escreveu há uma semana uma crônica na qual homenageia este e mais três escritores de Goiás que fazem cem anos, todos mortos. Vou colar o link: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.br/

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