sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dia da partida


* Por Ana Deliberador


Dia muito claro, de uma luminosidade tão suave quanto intensa.

A subida, quase vertical, era ladeada pela mata rica e perfumada, que tanto amava. No topo, muitos dos amigos o esperavam, sorrindo. Sua mãe e seu pai gesticulavam, pedindo que se apressasse.

Estranhamente, sentia que o cansaço diminuía à medida em que caminhava. Seu coração ficava mais leve, apesar de uma certa angústia que não conseguia definir.

– José…Joséé! – alguém chamou às suas costas. Estacou, parou para ouvir melhor.

– Joséé…não vá!

Essa voz…que estranho. Era a voz de Anita. Mas voltar!?  Voltar por quê!?  Estava com tanta pressa!

– Joséé…não me deixe!!!

A angústia na voz de Anita era tanta que ele…voltou.

Passaram-se os meses.

Seu sofrimento era sem medida. Tão grande que Anita passou a pedir, implorar, que fosse embora.

Mas ele não ia. Ainda não.

E Anita passou então a rezar, arrependida de não tê-lo deixado partir.

Rezou, rezou muito!

E José, sabendo que agora poderia fazê-lo, foi embora.

E, finalmente, descansou em paz!



 * Professora, pintora e escritora




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