sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A vizinha


* Por Rodrigo Ramazzini



O Fabinho tomava banho, cantarolando “boate azul” do Bruno e Marrone, quando ouviu um delicado bater na porta da sua casa. Toc toc toc. Gritou: “Já vou!” Fechou o chuveiro e enrolou-se em uma toalha. Antes de abrir a porta, espiou pela janela, por uma fresta deixada pelas cortinas, para ver quem era. Enxergou apenas a cintura e o quadril da moça, mas aquela marca de biquíni era inconfundível. A sua nova vizinha de frente estava parada na porta da sua casa.

Correu para o quarto para pôr uma roupa, pensou melhor e achou que apenas com a toalha ficaria mais sexy. “Sabia que aqueles meus olhares, com sol do fim de tarde batendo no meu rosto, ela não resistiria”, gabou-se. Paquerava a nova vizinha deste que ela se mudara, há cerca de três meses.

Cibele, assim ela chamava-se, uma morena, de pernas torneadas, olhos verdes, estilo asiático, com bolsinhas abaixo dos olhos. Aquelas bolsinhas! Por onde passava os homens comentavam: “Essa é de largar a família”. Já as mulheres invejavam tamanha perfeição. Olhavam-na minuciosamente, dos pés à cabeça, à procura de um defeito. Não achavam!

Fabinho gritou novamente um “Já vou!” E planejou antes de abrir a porta: “Recebo-a, convido-a para entrar, ofereço algo para beber, dou aquela xavecada básica e... Craw! Pego e levo-a para cama, tiro toda a sua roupa com dentes e lhe proporciono uma tarde de amor que ela nunca pensou que teria... Eu sou o cara! Aposto: depois disso não terei mais sossego com essa mulher, vai ser todo o dia batendo nesta porta... Eu sou o cara mesmo! As mulheres chegam a me procurar”.

Fabinho olhou-se no espelho, escabelou o molhado cabelo um pouco mais, estufou o peito e foi abrir a porta. Girou a chave e nada da porta destrancar. Tentou uma, duas, três vezes e nada. Gotas de suor já escorriam pelas frontes. Foi então que na quarta tentativa, quase quebrando a chave, ele conseguiu. Abriu a porta, a visão ofuscou-se por causa dos raios de sol que bateram em seu rosto. Colocou a mão na testa, e então pôde contemplar toda a beleza de Cibele. Deixou escapar um “Meu Deus!” E Emudeceu. Era a primeira vez que a apreciava tão de perto. Ficou olhando-a, pasmo. O braço escorado no arco da porta tremia. Ela fitou-o seriamente e cumprimentou: “Oi”. Fabinho, gaguejando, respondeu: “O-o-o-iiii!”

“Você que é o Fábio?”, perguntou, fazendo os movimentos de lábios mais sexy que Fabinho já viu. Ele grunhiu um an-rã “An-rã!”, olhando para o vão” existente entre os volumosos seios. Ela lhe entrega um envelope e fala: “É para você. O carteiro largou enganado em minha casa”. “Ooobrigado!”, sussurra Fabinho, contemplando o piercing no umbigo de Cibele.

Então, ficam por alguns segundos olhando-se em silêncio. Sem mais o que ter a fazer ali, Cibele despede-se: “Tchau, Fá-bio!”. O “bio” sendo pronunciado fazendo biquinho. Ela dá meia volta e ruma para casa. Coube ao Fabinho acompanhar o “bailar” das rígidas nádegas naquela mini-saia. Quando saiu do estado hipnótico, gritou: “Tchau!”. Mas ela já ia longe.

Fechou a porta, retomou a cor e a confiança, e consolou-se: “Ufa! Que mulher! Pena que é muito antipática. Não fala nada, nem uma abertura sequer... A minha sorte é que não dei em cima dela. Como é bom conhecer as pessoas!”.

* Jornalista e cronista

Um comentário: