quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Porque eu não procuro mais ninguém


* Por Gustavo do Carmo

Há uns doze anos, quando reclamava com uma colega de faculdade de publicidade que ninguém me procurava, ela me deu um fora me perguntando:
— Você procura?

Na época, fiquei completamente sem graça e apenas murmurei que sim. Ela duvidou, claro. E ainda retrucou com um “Não procura nada”.

Para eu ter a atitude de procurar alguém preciso ter a segurança de que serei bem recebido, sem desculpas ou não ser tratado como um chato de galocha. Pois comigo acontece exatamente isto.

Não vou contar detalhes, mas alguns ex-colegas - inclusive quem eu considerava muito amigo - davam desculpas de que estavam muito ocupados com o trabalho, enquanto sabiam de tudo sobre os outros da turma. E eu cometia o erro de cobrar, insistir, causando ainda mais constrangimento e inimizades.

Me sentia culpado de cobrar, pois em algumas vezes eles estavam ocupados mesmo. Mas ao mesmo tempo era cristalina a ausência de vontade de manter uma amizade comigo. Já me tornei até persona non grata para eles. No antigo Orkut nunca interagiam comigo. No Twitter nunca me procuram para seguir e no Facebook já fui rejeitado por vários, com a desculpa presumida de que eu os deletava no Orkut.

Hoje em dia falaria tudo isso para essa ex-colega, de quem não tenho mais notícias e nunca foi amiga, e ainda completava que só procuro quando me sinto bem-vindo. Detesto ser inconveniente.

* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
Seu  blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores
   


Um comentário:

  1. Procuro, insisto e desisto. Loucura é tentar remendar, ainda que amizade, algo que já se desfez. Raramente eu tento, para invariavelmente me frustrar. Se acabou, não é menos do que isso. É o fim.

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