terça-feira, 18 de novembro de 2014

À guisa de esclarecimento

O que é melhor para um escritor aumentar suas chances de sucesso: escrever muito ou ser parcimonioso na quantidade de textos produzidos, concentrando toda atenção na qualidade? Depende. O ideal, conforme vejo a questão, é escrever bem e bastante. Há, contudo, condições para que a quantidade seja fator que amplie as chances de êxito. Ela torna-se importante, por exemplo, desde que o redator não cometa deslizes de qualquer natureza. Desde que, não seja repetitivo e nem tenha estilo monótono e outros tantos defeitos comuns a redatores de potencial até que elevado. Desde que escreva sobre o que seja interessante e principalmente útil e por prazer, não por mera obrigação. E vai por aí afora.

Não existe, todavia, nenhuma fórmula mágica, alguma regra fixa que, se seguida, atrairá com certeza a atenção e  gosto de uma infinidade de leitores e fará com que todos os livros de determinado escritor sejam best-sellers, Até porque, o sucesso é caprichoso e traiçoeiro. É, em boa parte dos casos (desconfio que em todos) aleatório. Depende de você fazer a coisa certa, no momento adequado e que tenha como “juízes” (no caso os leitores) que coincidentemente gostem dos temas que você tratou e da forma com que os desenvolveu. Às vezes você faz tudo certinho, conforme o figurino e... fracassa. Em outras, sem mesmo saber como e por que, transforma um tema banal em obra-prima. Teme pelo fracasso e é surpreendido pelo sucesso.

Alguns escritores escrevem e publicam uma infinidade de livros e são bem-sucedidos com a maioria e não raro até com a totalidade. É o caso de Isaac Asimov, cuja obra literária ascende a 511 publicações, todas com excelente volume de vendas e ótima aceitação da critica e do público. Há, porém, escritores que ao longo de toda a vida escrevem e publicam uma única obra, que, no entanto, os consagra e perpetua seus nomes na história da Literatura. Querem um exemplo? O mexicano Juan Rulfo, autor de “Planalto em chamas”, livro que lhe trouxe fama (e não sei se também fortuna. Mas...).

Da minha parte, optei pela segunda condição, ou seja, por escrever bastante, o quanto puder, sem deixar de ser obcecado pela qualidade. Pondero, no entanto, que fiz essa opção não de olho propriamente no sucesso, embora se este vier, será, claro, muito bem vindo. Gosto de escrever. Para mim este ato tornou-se vital, como comer, beber, respirar etc. Juro que não é exagero e nem estou fazendo gênero, querendo mostrar um Pedro que não sou. Quando escrevo, é como se estivesse conversando com uma multidão, embora esteja rigorosamente sozinho em meu gabinete de trabalho. Ademais, assunto não me falta. A quantidade de temas que gostaria de tratar é, sem exagero, infinita.

É verdade que às vezes me repito. Não raro, me contradigo. Volta e meia meus críticos detectam em meus textos inúmeras incoerências. Mas... por mais genial que eu fosse, dificilmente conseguiria aliar, sempre, sem nenhuma exceção, a quantidade à qualidade. Se conseguir unir esses dois fatores em, digamos, 5% dos textos que produzir, já me darei por satisfeito. Mas não de olho no sucesso, que raramente me passa pela cabeça. Quero, sim, é conquistar novos leitores (quanto mais, melhor) e conservar os que já tenho, cuja quantidade desconheço e tenho certeza que jamais conhecerei. Presumo que seja um número razoável, a julgar pelos e-mails que recebo diariamente, com críticas (felizmente poucas), elogios (em quantidade razoável) e sugestões, a maioria das quais acato.

Às vezes, esses correspondentes me confundem. Um número razoável deles confessa não se sentir bem com essa forma minha de escrever, personalizando meus textos, escritos invariavelmente na primeira pessoa do singular. Ora, eles são (salvo exceções) conversas com “fantasmas”. É como eu estivesse batendo papo com um punhado de amigos, de maneira descontraída e livre, quando os escrevo. E essas tertúlias (gostaram do termo?) não podem ser com linguagem empolada e formal. Não combina. Ademais, escrevo sobre o que conheço, mesmo que superficialmente, e as opiniões são exclusivamente minhas. Têm que ser expressadas, portanto, na primeira pessoa, ou não?!

Mas, como disse, meus correspondentes às vezes me deixam confuso. Enquanto alguns reclamam da personalização que adoto, outros me cobram que fale mais de mim, de minhas experiências, das minhas idéias e emoções e vai por aí afora. Alguns vão ao extremo de me exigir extensa e detalhada autobiografia. Ora, ora, ora. Mas meus textos já são, de certa forma, autobiográficos. São frutos exclusivos da minha experiência pessoal, do que vejo, ouço, leio ou simplesmente imagino. Há tempos eu já devia esta explicação aos que me dão o privilégio de sua leitura diária. Trago-a à baila, aliás, por sugestão de um dileto amigo, desses raros em que a gente confia irrestritamente, sem receios ou vacilações. Quanto a obter sucesso... Se não obtive até hoje, é improvável que o consiga algum dia. Mas... Quem o sabe? Como prever, com um mínimo de possibilidade de acerto, o aleatório? Se a previsão fosse possível, perderia a característica da casualidade, concordam?

Boa leitura.


O Editor

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Um comentário:

  1. A chamada me deu um grande susto. Ainda bem que eram apenas sugestões sobre escrever. A maioria dos escritores tidos como sérios, acha que se deve escrever menos, em nome da qualidade. Acha até que os que muito escrevem têm compromisso apenas com a quantidade. Também não vamos exagerar nem com simplismo como o afirmado e nem com escrever por escrever.

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