quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Palavras sobre “Três olhares e o fascínio das cores”

* Por Mara Narciso

Três amigas de longa data vinham, há alguns anos, namorando telas e enchendo-as de cores, fazendo da prática e aprimoramento o crescimento delas nas artes plásticas. De um tempo para cá, estão com o mesmo professor, o renomado Sérgio Ferreira, no Ateliê Galeria Felicidade Patrocínio. E não é que pegaram suas produções e as expuseram no Centro Cultural Hermes de Paula no último dia 17? Lá estavam obras de Magela Sena, Adelaide Godinho e Carmen Lopes. São pintoras iniciantes que copiam o traço do orientador, ou estão prontas? Nem uma coisa e nem outra, e já estão esboçando seu estilo e seu caminho.

Na qualidade de apreciadora de arte, arrisco-me a falar sobre os quadros que vi, numa produção vasta, que mostra a própria evolução de cada artista, nos temas, na técnica e no traço. Como há um distanciamento temporal longo entre uma obra e outra, percebe-se diferenças tais que, a uma curiosa como eu, não se parecem ter sido feitas pela mesma pessoa. As considerações que poderiam ser vistas como negativas acabam aqui, pois o que apreciei foram telas surpreendentes, que poderiam estar embelezando paredes por aí, e seria um gesto de egoísmo escondê-las nas casas das autoras.

Fizeram bem as artistas plásticas, que, numa atitude de desapego mostraram as suas almas. Mais perigoso do que escrever o que se sente, ou declamar em altos brados os versos que se fez, correndo o risco de ser ridículo, como disse um dia o nosso mentor do Psiu Poético, Aroldo Pereira, é pegar uma tela nua e vesti-la de ideias, de pinceladas, de cores e imagens, passando uma mensagem para quem a olhar. Se de beleza e contemplação, melhor. A cada um, a imagem fala de uma maneira diferente. Depois de exposta, a obra pertence ao público, e não mais a quem a produziu. Arte não se explica, se sente. E eu senti.

Magela Sena já escreveu e publicou diversos livros de poesia. Tem uma memória brilhante e declama com vivacidade e alegria. Desenvolveu seu dom e dele faz uso sempre que há oportunidade, especialmente no Escambo de Livros, no Clube de Leitura ou em outras manifestações literárias. Noutro dia falou tão baixinho de dois livros que tinha publicado (com eles nas mãos), que tivemos de mandá-la repetir as palavras da apresentação, pois ela, tímida, não estava valorizando o seu feito. Diante da sua tela com a qual mais me empolguei, por mostrar uma mulher dançarina, de cabelos de medusa e uma saia que era uma rosa em flor, viva e repolhuda, perguntei sobre o que ela sentia: “Sei que foi muita ousadia da minha parte, mas as pessoas estão olhando com cuidado, gostando e falando comigo”.

Adelaide Godinho pinta há mais tempo, acho eu, pois uma das suas telas era de oito anos atrás. Mostrei-lhe dois quadros de flores com pistilos de fogo, ardentes e flamejantes, com os quais eu tinha simpatizado, e ela me disse que eram de Carmen Lopes. Mas eu não me dei por vencida, pois as margaridas do campo tinham me seduzido, e mostravam serem flores modernas que não existem, embora lembrem margaridas. E assim como as gaivotas em revoada, obras de Adelaide.

Os três quadros verdes, que lembram a Amazônia, são de Carmen Lopes. Falei com ela dos seus pistilos férteis e em movimento, e das flores de pequi que mais parecem ter sido feitas a Laser. Quase não conversamos porque ela estava muito requisitada. E foram muitas fotos, com a ampla sala da Galeria Godofredo Guedes bem concorrida, a fotógrafa Silvana Mameluque fazendo seus cliques, enquanto a radialista Ana Valda Vasconcelos comandava o evento, e João Jorge Soares, na qualidade de gerente do lugar, falava sobre o vernissage. A escultora Felicidade Patrocínio leu uma apresentação das artistas e logo um coquetel foi servido.

Montes Claros, cidade da arte e da cultura, termo cunhado pelo falecido jornalista Reginauro Silva, tem produzido arte e literatura. Muitos livros são lançados por semana em nossa cidade. Precisamos formar mais leitores. O escambo de livros e o Clube de Leitura os produzirão, e visitas a galerias formarão apreciadores de arte, pois por essas bandas o que não falta são bons artistas.

Não quero fazer um comentário tendencioso de amiga. Em relação às obras expostas, eu não diria que todas têm alta qualidade, ainda que, não sendo crítica de arte, nem sei muito bem do que estou falando, mas, asseguro que, como amante da arte, levaria muitas daquelas telas para a minha casa.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   



2 comentários:

  1. Êta, mulherada talentosa... Isso inclui a resenhista! Abraços e parabéns, Mara.

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  2. Agora estamos precisando formar leitores e apreciadores de arte. A produção vai bem, obrigada. Agradeço o carinho, Marcelo.

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