segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O cesto de Davir Jacques Louis

* Por Talis Andrade

No espelho dos teus olhos
      o desejo de me ver
      que seja uma única vez

      Eu pago o preço
      mesmo que custe
      o temido castigo
      de ter os olhos
      para sempre vendados
      com uma faixa tecida
      por hábil tricotadeira
      todos os dias
      ajoelhada
      com as companheiras
      junto à guilhotina
      alegre vivandeira
      do terror
      o terror político
      transformado
      em espetáculo

      O rosto voltado
      para a terra
      a cabeça decepada
      em um só golpe
      a cabeça jogada
      no cesto forrado
      com seco capim
      para absolver
      o sangue golfado

      No horrendo cesto
      sanguinoso cesto
      em que revoam
      um enxame de almas
      a cabeça mumificada
      por Davir
      os olhos abertos
      revirados de cego
      que mais desejam ver

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).



Um comentário:

  1. Cabeça decepada, degolada ou decapitada, que está mais em voga, diante da moda de cortar o pescoço dos inimigos.
    Destaco as palavras "golfada" e "sanguinoso". Fortes para uma cena feia, porém necessárias para dizer tudo em um ai.

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