sábado, 27 de setembro de 2014

Audiência de TV

* Por Rosana Hermann

Existe um grupo de garotos menores de idade que são totalmente viciados em Ibope. Isso mesmo, viciados. Totalmente loucos, alucinados, dependentes químicos desses números que medem a audiência dos programas de televisão, eles se dividem em ‘sbtistas’ e ‘globistas’ segundo os próprios. Não sei se existem ‘recordistas’ entre eles mas se não existem, breve ai, eles. Redetevistas eu sei que não tem nenhum, certamente.

Esses garotos, que não saem do MSN e dos fóruns sobre televisão, disputam a tapas, unhadas e até pequenos subornos o acesso aos números do Ibope que, em princípio, é restrito às emissoras e eventualmente, grandes celebridades que pagam para ter um terminal minuto-a-minuto em tempo real em suas nababescas mansões.

Dia desses, conversando com um colega profissional de televisão, soube que um deles, desesperado atrás de um link na rede que pudesse oferecer os números em ‘real time’ chegou a dizer que ele precisa do Ibope como um faminto precisa de comida. Fiquei chocada. A pergunta é .. pra quê um garoto de 13, 14 anos, precisa desesperadamente dos números da audiência dos programas de tv? Por que essas medições, que só serviriam para anunciantes, diretores e profissionais da área, teriam se tornado vitais para crianças que são apenas telespectadores? Será que eles transformam os programas em cavalinhos de corrida que competem pelo primeiro lugar? Eles apostam? Ou são apenas maluquinhos?

Não compreendo e acho que não faz sentido tentar. Fato é que o Ibope para quem é ou não do ramo, torna-se um vício enlouquecedor. Acompanhar os números pela tela, enquanto a programação está no ar é um ato doentio. Isso, sem mencionar a crueldade que o ibope impõe em muitos casos de programas de variedades ao vivo. Tem convidado que fica horas esperando e acaba não entrando, simplesmente porque a outra atração está dando mais Ibope. Já fui uma dessas vítimas. Lembro de um finado programa vespertino para o qual fui convidada a contragosto, cujo produtor me fez esperar mais de três horas para, ao final, ser avisada que eu não entraria porque uma receita de torta de palmito estava com audiência muito alta. Virei as costas e fui embora com aquele sentimento de humilhação que só os profissionais trocados por tortas salgadas são capazes de compreender. Se ao menos fosse um cheese cake, vá lá.

O monopólio da medição, o destaque que a mídia dá para os resultados numéricos e nossa paranóia humana de medir e comparar aumentam nossa loucura por esses malditos números. Que transformam a criatividade em inimiga, que nos rouba a capacidade de ousar, que enfim, glorifica a cópia de programas já testados em detrimento do novo e do original.

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.



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