quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Angu à moda de Dali


* Por Marcelo Sguassábia

Ah, como foi flácido o fluir dos flocos de nuvens pagãs, ficar de joelhos e estalar artelhos dentro da redoma. Quis um cafuné despido de intenção para comer com pão no café da manhã. Mas não estava são, como nunca estarei - apenas maldizia em régua derretida e compasso de espera.

A cara metade a léguas daqui. A cara metida em downloads de lá. Teimo rabiscando sem mãos a medir nem pés a amparar, mesmo sabendo que nada restará exceto o jasmim de raras consoantes. Brancas, fofas, sem serifas que machuquem. Caem flutuando no texto e deixam-se ficar, sem mais o que fazer e dóceis de lidar.

Que nada, quimera, que sina, pintassilgos de resina nessa piscina de esperanto. Regrido aos idos das lascadas pedras, desvãos, lodos e escaninhos por toda a inadequada geografia. Acesso de riso no acesso da estrada, recém-asfaltada com pasta de anis e raspas de misericórdia.

É quando, de repente, tudo passa a destoar de Dostoievski. Incensa e chora, lamenta e geme. À beira do Sena, a chanson se esvai em acordes lácteos. Espana, gira em falso. Espanha, falsos Mirós. Descem carradas de mouses de esgoto a farejarem rotos e a soltarem arrotos sobre outros ratos. Entrementes, há mulheres lusas ainda muito quentes, moídas por engano na bacalhoada. Uma soneca no vinco do teu jeans, sob o embalo cômodo de Brothers in Arms. Sem mais delongas, estimo melhoras.

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).



Um comentário:

  1. Um angu digestivo e danado de difícil. Uma faceta que era desconhecida para mim. Relendo...

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