quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Um pulo na Grécia: um recado dos deuses

Por  Johnny Virgil 

Na viagem à Grécia, Delphi ficou por último. Quis assim o destino.

São menos de 3 horas de Atenas, metade delas por uma autopista pedagiada e a outra por uma rodovia interiorana. É estranho que o outrora “umbigo” do mundo fique um pouco fora de mão nos dias de hoje.

Havíamos contratado um pacote de um dia (com almoço incluso) em uma agência de turismo. De ônibus, sairíamos um pouco antes das 8h e voltaríamos pelas 19h. Na primavera, os dias são longos, e o anoitecer chega tarde, pelas 20h30min. Então, seria um dia cheio, mas ainda teríamos tempo para tomar o café da manhã e jantar tranquilamente.

O serviço de coleta da agência nos pegou no horário. A princípio, não sabíamos que estávamos sendo enviados para um local intermediário; quando percebemos que íamos todos para lugares diferentes e, após um curto desespero, questionamos o motorista, é que ficamos sabendo. No fundo, melhor assim do que indo para o destino errado.

Mas, ao chegarmos, a confusão ia logo formar-se, bem ao estilo grego: uma recepção cheia, um bando de turistas perdidos, gritos e gestos, um motorista que não sabia para onde iria. Que Deus me permita nunca mais depender desse tipo de serviço!

Bem ou mal, lá fomos nós, saímos de Atenas. A paisagem grega é sempre dramática. Quando mais se avança para o norte, mais verde temos; vemos plantações, árvores de porte mediano, ciprestes, montanhas abruptas, picos nevados, pedras e pedras, vilas e pequenas cidades. Poucos rios. Os campos salpicados de papoulas são uma visão belíssima, na primavera.

Pouco a pouco, aproximamo-nos da montanha das Musas, o Monte Hélicon; logo ali, o Monte Parnaso. É realmente uma sensação estranha chegar próximo de um lugar sobre o qual se leu e ouviu falar tanto. O que você um dia imaginou nunca corresponde à realidade. Por mais que lhe houvessem dito sobre a grandeza desse lugar, da majestade das montanhas, dificilmente alguém seria capaz de descrevê-lo sem visitá-lo, pois só descrevêlo já é uma tarefa árdua.

Após uma cidade, uma descida e uma curva, lá está Delphi. Não é mais que uma escarpa íngreme cheia de ruínas, uma bem ao lado da outra, para aquele que não sabe a importância das coisas e não entende quanto de alma as coisas podem conter.

Imagine-se uma fila interminável de pessoas, pobres e ricos, de todos os cantos do Mediterrâneo, buscando respostas — um canal aberto com os deuses somente 9 dias ao ano! Impressiona que as cidades gregas, como Atenas, Sifnos, Tebas e Argos, deixavam ali parte de seu tesouro, ou despojos de guerra. Impressionam as colunas sobreviventes do templo de Apolo, sob as quais o oráculo inalava os fumos que outrora fluíam do interior da terra, entrava em transe e decretava o destino em versos dúbios. E depois um teatro, e no topo um estádio!

É estranho esperar que deuses mortos como os gregos nos falem. Mas eu esperava. Um turista ingênuo à caça de um milagre. Tirando fotos de todos os cantos, ouvindo a arenga dos guias, andando pelos caminhos estreitos lendo a história das pedras.

Então, quando já estava descendo a colina, ao lado do Templo de Apolo, uma vozinha dentro da minha cabeça sussurrou algo que certamente seria verdade, porque tudo, em última instância, provém dos deuses: “A vida é curta”. Se era a minha vida, se era a dos que amo, tanto fazia. Mesmo sem oráculo, a frase tinha sentido e queria dizer, simplesmente, “deixe de ser preguiçoso e se preocupe com o que realmente vale a pena”.


* Escritor

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