domingo, 20 de julho de 2014

As primeiras ostras

* Por Sílvio Lancellotti 

Sentaram-se os três, ele e os pais, numa mesinha à beira da praia, bem ao lado do rapaz que abria as ostras. Tinha menos de dez anos de idade – mas, já se fascinava com as coisas da gastronomia. Admirou a habilidade com que o especialista manejava a faquinha. Prendia metade de cada casca num pano, buscava em seu topo o encaixe ideal, enfiava a pontinha de metal, bingo!

Cinco minutos lhe bastaram até que colocasse uma dúzia de ostras sobre a mesinha. Os pais ignoraram o filho, não imaginaram que ele pudesse curtir a estranheza daqueles moluscos. Saborearam as suas quotas, as ostras em banho de sumo de limão e de gotinhas de pimenta. Solicitaram mais uma dúzia.

E assim boa parte da manhã do sábado se esvaiu sem que os pais lhe permitissem experimentar um único exemplar. Absurdamente, se frustrou.

Já ganhava uma mesadinha, porém. À tarde, enquanto os pais faziam a sua sesta e lhe caberia disputar a sua tradicional partida de futebol de areia com a molecada dos arredores, resolveu mudar de planos. Com um punhado de notas, algumas moedinhas, rumou à barraca das ostras – e perguntou:
- Quanto custa uma?

O rapaz da faquinha esperta o reconheceu. E achou graça:
- Por quê não pediu aos seus pais?
Não se abalou. Preservou a dignidade, e a determinação:
- Quanto custa uma?
Recebeu um sorriso, e um presente:
- Pra você, na primeira vez, uma não custa nada.

Dito e feito, lhe escancarou uma ostra. O garoto a molhou com o limão, evitou a pimenta, lançou a maravilha à boca, testou-lhe a textura, e pediu uma outra. Ao final de seis amostras, indagou sobre o preço, pagou e se foi.

Havia caminhado alguns metros quando o rapaz gritou:
- E aí, gostou?
- Adorei. Mas não peguei nenhuma com pérola...


* Diplomou-se em Arquitetura. Trabalhou na revista “Veja” de 1967 até 1976, onde se tornou editor de “Artes & Espetáculos”. Passou por “Vogue”, agências de publicidade, foi redator-chefe de “Istoé”, colunista da “Folha” e do “Estadão”, fez programas de gastronomia em várias emissoras de TV, virou comentarista de esportes da Band, Manchete e Record, até se fixar, em 2003, na ESPN. Trabalha, além da ESPN, na Reuters, na “Flash”, no portal Ig e na “Viva São Paulo” e é sócio da filha e do genro na Lancellotti Pizza Delivery – site de Internet www.lancellotti.com.br.

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