sexta-feira, 27 de junho de 2014

Simbiose da TV com o futebol

O futebol e a televisão formam perfeita simbiose, em que ambos se beneficiam. O primeiro, o chamado “esporte das multidões”, lucra, com esse veículo, pela megadivulgação mundial (entre outras tantas vantagens) que este lhe proporciona, o que torna a modalidade cada vez mais apreciada e faz dela a mais popular do Planeta. A segunda, no caso a TV, não sai perdendo. Muito pelo contrário. Lucra com massiva audiência das transmissões futebolísticas, que resulta em volumosa publicidade que, ao fim e ao cabo, é o que sustenta e viabiliza esse hoje tão disseminado e indispensável veículo de comunicação. Para quem não sabe, ou não se lembra, esclareço que simbiose é “uma relação mutuamente vantajosa na qual dois ou mais organismos diferentes são beneficiados por esta associação”.

No Brasil, a televisão não somente divulga o futebol, mas o sustenta. Sem ela, o profissionalismo da modalidade seria inviável. Os clubes, por exemplo, praticamente se sustentam com as verbas da TV (embora reclamem e considerem-na insuficiente). A arrecadação de bilheteria, por exemplo, nos jogos, mesmo nos que mais atraem público e superlotam estádios (o que, infelizmente, por uma série de razões, é cada vez mais raro), nos chamados “clássicos”, mal cobre (e quando cobre), sequer os custos da própria partida. Isso em eventos muito atrativos. Nos outros... A maioria dos jogos dá prejuízo. O montante arrecadado nas bilheterias não cobre nem mesmo os custos de manutenção dos estádios, as taxas de arbitragem e outras tantas despesas.

Já houve partidas do Campeonato Brasileiro, até mesmo da elite, com a presença de menos de uma reles centena de torcedores. O dinheiro arrecadado não pagou nem mínima parcela da conta de luz do estádio. Em competições regionais de alguns Estados (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro) isso já se tornou até mesmo corriqueiro O leitor já imaginou se os clubes tivessem que se sustentar, somente, ou mesmo prioritariamente, com essa pífia fonte de renda? Não suportariam sequer uma temporada. Iriam à falência, atolados em dívidas de toda a sorte, a partir (e principalmente) do próprio salário dos seus atletas e comissão técnica. É aí que entra em cena a providencial e salvadora verba da televisão. Mesmo com esta, destaque-se, inúmeras entidades esportivas, profissionais, Brasil afora, algumas de grande projeção e apelo popular, estão há muito tecnicamente falidas. Milhares de atletas, técnicos e funcionários são forçados a ingressar com ações na Justiça para receber o que pactuaram com seus empregadores em contrato. E muitos deixam de receber até recorrendo a esse expediente. Ou recebem o devido muitos anos depois. E se não houvesse a verba da TV, o que ocorreria? É facílimo de concluir.

Os clubes brasileiros – e isso os mais bem administrados e com maior número de adeptos, ou simpatizantes ou torcedores, como queiram – contam, basicamente, com três fontes de renda para sua manutenção e para impedir, assim. que seus balanços anuais fechem no vermelho. A primeira é a mensalidade paga por associados. Poucos, pouquíssimos contam com uma quantidade de sócios pelo menos razoável, compatível com o seu prestígio. E nenhum, rigorosamente nenhum proporcional ao número de alegados torcedores que têm. Os de melhor quadro associativo, salvo engano, são o Internacional de Porto Alegre e o São Paulo. Nenhum, todavia, nem esses dois ou outros em situação semelhante, conseguiria se manter somente com essa renda. A segunda fonte de recursos é a obtida com o repasse dos direitos federativos de atletas, geralmente (ás vezes unicamente) para clubes do exterior, da Europa, Ásia ou do genericamente denominado “mundo árabe”.

Todavia, a chamada “Lei Pelé” acabou, e há já bom tempo, com a figura do “passe”. Quem lucra, de fato, com as transferências, portanto, não é mais, como antes, a entidade que revela os jogadores ou que lhes serve de “vitrine”. São os empresários. De uns tempos para cá, empresas, que nada têm a ver com o futebol, passaram a investir pesado neste ramo, pelos lucros potenciais que apresenta. É, como se vê, ostensiva distorção, que raia o absurdo. Mesmo assim, essa é uma fonte de renda bastante importante, mas só para quem tem a felicidade de contar com jogadores que apresentem bom desempenho técnico nos gramados e assim despertem o interesse de multimilionárias potências futebolísticas internacionais. Todavia, o que sustenta, de fato, os clubes mais populares são as verbas de TV. Estas, contudo, não são iguais para todos. Há agremiações que recebem dez vezes ou mais do que outras, de porte parecido, o que lhes permite, mesmo que teoricamente, montar melhores grupos e manter a hegemonia técnica. Nem sempre montam, é verdade. Mas até os menos aquinhoados, os que recebem quantias expressivamente menores do que os chamados “grandes”, não têm muito a reclamar. Sem esse dinheiro, não teriam sequer como sobreviver.

Em termos de Copas do Mundo, a televisão é a grande responsável por tamanha popularização do futebol Planeta afora. “E quando esta não existia, ou quando não tinha desenvolvimento técnico para ter a abrangência que atualmente tem, para transmissões para todos os recantos da Terra, os torneios mundiais não despertavam nenhum interesse?”, muitos, certamente, estão se perguntando. Despertavam. Se não despertassem, não existiriam mais. Sim, a Fifa, promotora do evento, sobrevivia. Mas o número de pessoas que acompanhavam a competição era muitíssimo menor. E os lucros dele advindos, se ou quando existiam, eram pífios, se comparados aos atuais.

Hoje, por exemplo, estima-se que alguns jogos da atual Copa tenham sido vistos por mais de três bilhões de pessoas. Os patrocínios são múltiplos e bilionários. E até a arrecadação de bilheteria, que em jogos de outras competições, salvo uma ou outra exceção, não cobre sequer as despesas básicas, entra agora no ítem “lucro”. Está longe, muito longe de significar prejuízo. Claro que a audiência de mais de três bilhões de pessoas de alguns jogos da Copa é somente estimativa. Pode ter margem de erro bastante ampla, para mais ou para menos. Até o mais ingênuo dos ingênuos pelo menos intui que um tipo de pesquisa tão abrangente e que ainda assim seja minimamente correto, é impossível de ser feito. Pode ser que a quantidade de espectadores tenha sido bastante aquém da cifra estimada. Mas pode, igualmente, ter sido razoavelmente, ou muitíssimo maior. A exemplo de todo tema que abordo, este, também, é amplo demais para ser esgotado nestas reles reflexões, nestes despretensiosos comentários à margem. Pretendo, pois, ampliá-lo, mas apenas se surgir oportunidade para tal. Por enquanto...

Boa leitura.

O Editor

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