segunda-feira, 23 de junho de 2014

Piada de português

* Por Daniel Santos


Em recente visita a Santa Teresa, centenário bairro do Rio de Janeiro onde amigos da faculdade e eu formamos uma república no início dos anos 70, procurei pelo “seu” Antônio da Arara, mas havia já falecido!

Apesar de previsível, porque quase octogenário naquela época, a notícia da morte me chocou. Primeiro, porque, português dos bons tempos, daqueles que ainda usavam tamancos, sabia ser generoso como ninguém.

Tinha uma vendinha no Largo das Neves, à rua Progresso, bem ao lado de minha casa, onde cuidava de uma arara para atrair fregueses. Pois, conseguiu firmar-se como comerciante e tornar-se figura folclórica local.

Isso lhe deu certa representatividade, e foi graças a ela que naqueles anos de chumbo denunciou à Polícia Militar um certo veículo estacionado no Largo, repleto de fuzis e metralhadoras. A PM acorreu e fez o cerco.

Não eram assaltantes, mas agentes do DOPS que se preparavam para prender “comunistas”. Polícia contra polícia – pastelão clássico ... que fez Santa Teresa gargalhar, graças ao para sempre saudoso Antônio da Arara.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.



  

Nenhum comentário:

Postar um comentário