quarta-feira, 18 de junho de 2014

Dificuldades no segundo degrau

A Seleção Brasileira não teve o sucesso esperado por seus torcedores na tentativa de galgar o segundo degrau, dos sete que terá de subir para a conquista da sua sexta Copa do Mundo. Todos falam em “hexa”, mas, para mim, essa designação não é apropriada. Por muitos e muitos anos, as designações bi, tri, tetra etc. eram utilizadas, apenas, quando se tratava de ganhar títulos consecutivos. Isso mudou, se não estou enganado, em 1970, quando o Brasil  venceu seu terceiro mundial, embora não seguido – pois houve o vexame de 1966 -   em gramados mexicanos. Mas... isso não importa. Consideremos que a Seleção esteja em busca do hexa.

Não se pode falar em tropeço, na tentativa de galgar o segundo degrau, pois os comandados de Felipão não perderam. Digamos que subiu “parcialmente” esse segundo piso, com metade dos pés nesse patamar, tendo que se equilibrar e dificultando, por conseqüência, a subida do seguinte. E olhem que essa é a parte mais fácil desse enorme desafio. Afinal – não resisto a tentação de repetir o surradíssimo clichê – “no futebol não existe mais time bobo”. Não existe mesmo? Claro que existe! Mas em uma Copa, com os nervos à flor da pele, todo cuidado é pouco. Exemplo? A todo-poderosa Holanda por pouco não foi surpreendida pela teoricamente medíocre Austrália.

Não me canso de destacar e de reiterar que o futebol, notadamente em nível profissional, é, mais do que um esporte, um jogo. Está, portanto, submetido a todos os fatores aleatórios desse tipo de disputa. Além do que, é modalidade coletiva. Não depende de um único atleta, mas dos onze e dos três reservas que possam evetualmente ser aproveitados. É certo que se os dez tiverem desempenho normal e décimo primeiro for excepcional, este último pode ser decisivo. Mas o mesmo raciocínio vale, também, em sentido negativo. Ou seja, se algum zagueiro, meio campista e, principalmente goleiro, destoar, essa má atuação pode (e quase sempre é) ser decisiva para determinar a derrota de toda a equipe. É isso que os “teóricos” não entendem. Tratam o futebol como aquilo que ele não é: ou seja, como ciência exata. O que irrita é a arrogância com que determinados comentaristas tentam nos enfiar goela abaixo suas opiniões. Mas... deixa pra lá!

Discordo dos que disseram que a Seleção Brasileira jogou mal. Se assim fosse, teria saído derrotada do campo. Todavia, não foi nenhum primor de técnica. Alguns jogadores, sobretudo os do meio de campo – Paulinho, Oscar e Ramires – deixaram a desejar. Nossa maior estrela, Neymar, teve performance apenas discreta, embora sem comprometer. Todavia, houve atuações destacáveis, sobretudo as do sistema defensivo, com a segurança de Thiago Silva, David Luís e, principalmente, de Luís Gustavo, que teve atuação impecável. O México teve, a rigor, apenas duas chances claras de gol e em ambas Júlio César se houve bem.

Do lado mexicano, porém, seu goleiro, Ochoa, fez uma partida memorável. Sem exagero algum, evitou no mínimo quatro gols brasileiros, o que derruba a opinião dos comentaristas que, do alto da sua arrogância, juram por todas as juras que a Seleção jogou mal. Com certeza, assistiram a outro jogo ou, então, sonharam que isso aconteceu. Afinal, vimos as mesmíssimas imagens que eles. E supondo que todas as oportunidades criadas pelas duas equipes fosse, convertidas em gols, o placar seria de 4 a 2 para o Brasil e não o “mentiroso” 0 a 0.

O curioso é que Ochoa não é tudo isso que mostrou particularmente em Fortaleza. Não está, por exemplo, entre os primeiros no ranking de sua posição na Copa. E muito menos no europeu. Tanto é que na última temporada, jogando na Espanha, teve temporada de discreta para ruim. Chegou ao Brasil desempregado, dispensado pelo clube espanhol que defendia. Diz-se que, após a atuação contra a Seleção Brasileira, já tem propostas de clubes ingleses para disputar a Premiere League da próxima temporada. Ele mesmo admitiu que fez a partida de sua vida. E fez mesmo. Isso confirma o que não me canso de afirmar e de reiterar: que o futebol, mais do que  esporte, é um jogo. Como tal, está sujeito a fatores aleatórios, de sorte e azar.

Se há uma atividade em que é ingenuidade teorizar, esta é a modalidade que tanto nos apaixona. Mesmo não sendo comum, não é tão raro assim um time, ou uma seleção, tidos e havidos como muito fracos, como “galinhas mortas”, derrotarem os bichos papões, os considerados grandões pela quantidade de adeptos e, sobretudo, pela fartura de dinheiro para contratar os jogadores mais habilidosos e eficazes. Por isso, não faço prognósticos. Limito-me a dar palpites, o que é muito diferente. Ninguém pode prever, portanto, com um mínimo de certeza, se a Seleção Brasileira galgará, até com certa tranqüilidade, o terceiro degrau, representado pela Seleção de Camarões, dessa escada de sete, ou se tropeçará e se esborrachará pateticamente no chão. Tomara que suba...

Boa leitura.


O Editor

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Um comentário:

  1. O jogo Croácia e Camarões de hoje, pelo menos no segundo tempo que vi, mostrou uma equipe africana patética, com jogador dando cotovelada nas costas do adversário fora do lance, brigando entre si, levando quatro gols e ainda assim, com dez jogadores, deixando a retaguarda desguarnecida para tentar o gol de honra. Certo que você não sabia de nada disso quando fez seu texto, e que agora é razoavelmente fácil imaginar que Camarões não oferecerá grande ameaça. Observei que eles têm força, velocidade, juventude e muita coragem, uma coragem até irresponsável. Mas vamos aguardar para ver.

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