quarta-feira, 28 de maio de 2014

Precisamos nos melhorar como brasileiros

* Por Mara Narciso

Toneladas de mentiras de origens irresponsáveis e apócrifas são veiculadas na internet, faltando com a verdade à exaustão. Ler mais um texto desairoso pode dar desânimo aos mais conformados e vontade de se calar. Afinal, sofismas são fatos aparentemente verdadeiros, mas que não resistem a uma análise detalhada. Com a ajuda de brasileiros equivocados, os franceses extrapolaram em sua capacidade de discriminar e se meteram a dizer disparates. O que os brasileiros fazem é divulgar bovinamente tais inverdades, colocando no ápice o velho complexo nacional de inferioridade. Afinal eles são brancos, europeus, recebem em euros. Acham que podem nos avacalhar, e o melhor para eles, com a anuência dos nativos. Algumas afirmações aproximam-se de fatos, mas quando espremidas mostram-se como grosseiras deformações.

O Brasil não consegue formar médicos? Desde quando? A Medicina brasileira é de boa qualidade. Os médicos brasileiros, em geral, trabalham muito e recebem baixa remuneração dos convênios, de tal forma, que, acreditavam haver excesso de profissionais. Foram os últimos a saber que faltavam médicos no mercado, embora não tenham acreditado nisso até agora.

Em relação a outros problemas tupiniquins, sabidos por todos, são pontuais e esporádicos, mas foram colocados pelos estrangeiros como generalizados e dominantes. Os cariocas sabem que não são em todos os lugares do Rio de Janeiro que há mortes por atacado, assaltos em profusão, falsas blitz e sequestros relâmpagos. Os opositores do governo, por estratégia, querem difundir o caos, associados por conveniência a toda sorte de descontentes, que veem na Copa um bode expiatório vistoso, uma boa vitrine para seu desastroso marketing. O preconceito somado ao complexo de inferioridade (cachorro vira-latas de Nelson Rodrigues) edifica e cristaliza o desprezo que o nativo tem por si mesmo. A legião de maus brasileiros que querem por motivos políticos desmoralizar a Copa e o país pensa que tal comportamento tira votos da situação, e traz vantagens para si. Querem voltar ao poder, o que é muito justo. Então voltem, mas que usem armas inteligentes.

Entendam compatriotas, que a Copa passa e o país fica. Ou depois dos jogos, os simpatizantes de correntes opostas ao Governo construirão outra nação, ou, quem sabe se mudarão para a França? Não sejam tolos. O Brasil somos nós. Destruir a reputação do país esmigalha aonde vamos viver. Quem ganha com isso? Não parece valer à pena mergulhar em tal engano. Seremos 200 milhões de deserdados.

Nenhum país existe só. Precisa ter credibilidade como nação para relacionar-se comercialmente com os demais. Quem vai querer comercializar com uma tropa de neófitos, cujos defeitos são inventados, ampliados e propalados aos cinco continentes pelos próprios? Não dá para aceitarmos calados este preconceito daninho contra o povo brasileiro, como se, por sermos mestiços, fôssemos atrasados, desonestos e burros. Parem de pensar assim de nós mesmos. Isso de raça superior não existe. Acreditemos em nós. Nossos problemas estão aí para os resolvermos, não para darmos como combustível aos franceses ou outros adversários no futebol. Vamos à desforra em campo, não deem esse golpe baixo em nós mesmos, apoiando essas fraudes infames. Ao invés disso, façamos um país melhor com o bom material que temos. Eles puderam? Nós também poderemos!

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   

4 comentários:

  1. Prezada Mara, parabéns. Permita-me assinar embaixo do seu lúcido e pertinente texto, com o qual concordo integralmente, sem tirar e nem pôr. Amo de paixão este País e não somente por haver nascido nele, o que considero privilégio, mas pela forma com que acolheu meus pais, imigrantes russos, que não tardaram a assimilar nossa cultura e a se integrar à nossa sociedade. Tanto que meu pai, até a morte, não admitia, em hipótese alguma, ser considerado estrangeiro. Achava-se brasileiríssimo, até “a raiz dos cabelos”. Claro que temos problemas pontuais, e muitos. Mas qual país que não tem? Os Estados Unidos, riquíssimos e poderosos, a única superpotência do Planeta, têm mais pessoas abaixo da linha da miséria do que o Brasil. E não sou eu que afirmo. São as estatísticas que constatam. A arrogante Europa, que fez fortuna espoliando africanos, asiáticos e americanos e jogando no lixo muito do que surrupiou com suas duas estúpidas e absurdas guerras mundiais, tem crise social mais grave e acentuada do que a nossa, mas a esconde debaixo do tapete. Repudio os idiotas oportunistas, que se valem da vitrine internacional proporcionada pela Copa, para esculhambarem nosso País. Ora, se não querem ser brasileiros, que vão viver nos Estados Unidos ou na Europa, onde com certeza terão que se contentar com migalhas, se tanto. Ali, certamente, serão tratados como “subespécie”. Da minha parte, prefiro lutar por um Brasil melhor, mais justo e solidário, que certamente construiremos. Este País é o Paraíso? Ainda não é! Um dia será. É questão de lógica. Ademais, é meu! Por isso, defendo-o com unhas e dentes e repudio os derrotistas e, sobretudo, os nojentos oportunistas, que por razões políticas, e de péssima política, se mostram capazes de vender a própria mãe para um prostíbulo, por míseras e ridículas trinta moedas de chumbo. Parabéns, Mara, por seu talento e lucidez.

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  2. Obrigada, Pedro. Sintia-me pregando no deserto. Agora, não mais.

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  3. Nos falta uma virtude que nossos vizinhos portenhos têm de sobra: o sentido de Nação. Se tivéssemos isso, estaríamos muito mais próximos do chamado primeiro mundo. Muito bom, Mara.

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  4. Obrigada, Marcelo, pela participação. Peço desculpas pelo erro de digitação acima: sentia-me.

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