quarta-feira, 28 de maio de 2014

Por uma dieta rica em fibras

* Por Luiz Eduardo Caminha

Nos anos 1970, as pesquisa do cirurgião irlandês Denis P. Burkitt assombraram o mundo e mudaram radicalmente a cultura ocidental quanto às dietas na prevenção de doenças, notadamente o câncer. Médico missionário em Uganda, África, desde o final da 2ª. Guerra, o cientista, entre inúmeras contribuições para a Medicina, como a descoberta do Linfoma de Burkitt, estudou a presença de câncer do intestino grosso (cólon e reto) em descendentes africanos que migraram para a Europa.

Embora parte de suas hipóteses sobre dietas ricas em fibras como fator de prevenção do câncer tenha sido contestada por alguns cientistas, o mais notável de seu trabalho foi demonstrar que o câncer colorretal, antes inexistente nas tribos estudadas, alcançava o mesmo percentual dos europeus a partir da terceira geração de descendentes destas mesmas tribos vindos para a Europa. Isto era algo surpreendente.

Burkitt notou que a base da dieta dos remanescentes em África era a caça, a pesca, as frutas e raízes ou tubérculos. Mais natural impossível. A ingestão de fibras era de tal ordem que o bolo fecal destes aborígines chegava a espantosos 1,5 Kg contra 150 a 300 gramas dos europeus. Paralelamente, era notória a baixa incidência deste câncer nas populações do extremo oriente, habituadas a uma dieta rica em fibras e muito próxima do natural ou orgânico. Aí estava uma boa hipótese: “Porque comiam grande quantidade de fibras naturais não tinham câncer colorretal”. Foi um verdadeiro “boom”. O fato é que, sabe-se hoje, a dieta pobre em fibras aumenta em quase 20% as chances de um indivíduo vir a ter câncer colorretal, mas não é verdade que a dieta rica em fibras elimine sua existência. Ou seja, comer fibras diminui, mas não elimina a possibilidade de um câncer de intestino grosso.

Ao fazermos, hoje, uma releitura de Burkitt, desperta-nos uma inquietante questão. A partir de 1940 começou o uso dos organofosforados, um perigoso agrotóxico. O mundo sofreu grande explosão demográfica a partir de 1950. O aumento da demanda por alimentos levou ao incremento do uso de agrotóxicos. A partir daí os dados se misturam. A curva de incidência de câncer do sistema digestivo – e de outros tipos – acompanha, como irmã siamesa, a curva do uso indiscriminado de agrotóxicos no mundo. Os africanos de Burkitt saíram de um lugar de agrotóxico zero para outro onde o uso era de larga escala. E a coisa aumentou década após década.

Estamos comendo veneno e uma ou outra comidinha cancerígena? Sinceramente, não sei. Mas, por via das dúvidas prefiro me precaver. Uma hortinha em casa é saudável e acompanhar o crescimento surpreendente dos vegetais ajuda a relaxar. Não bastasse isto, mexer com a terra descarrega a nociva energia estática que acumulamos durante o dia. Mas isto é papo pra outra ocasião. A par do câncer colorretal, dietas ricas em fibras são incontestavelmente um item a considerar na prevenção de doenças cardíacas, gastrointestinais, diabetes e outras. De qualquer forma, procurar alimentos com boa procedência e, se possível, ricos em fibras, é uma regra inquestionável nos dias de hoje. Ou estou delirando?


* Médico

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