segunda-feira, 26 de maio de 2014

O que será?

* Por Daniel Santos


Pigmento, mínimo rubi. Mas está só no começo o rubor que  ninguém sabe se vergonha ou majestade.

A cada orvalho, mais se encorpa e se apruma essa mancha que poderá ser a primeira menarca de uma ninfa ou a voluta lasciva de uma espanhola. Porque tudo é mistério ainda.

Um silêncio de nervosa expectativa circula pelo jardim. A corola ainda não se abriu desavergonhada nem as mãos da cobiça tentam alcançar o que, em breve, se empertigará em nome da Beleza e exigirá súditos.

E, agora, um coágulo, o mosto, a mórula. Parece carne, mas não é. Parece o rubro vestígio de um açoite, mas não é. E ninguém acredite, caso disserem “é o açafrão com o qual se empoam os flamingos!”.

O carmim fixa-se em definitivo, e pétalas de irresistível radar atraem a corte de besouros e zangões. Sabe-se, agora. O que era apenas rubor ganha a ressonância de um escândalo: a rosa está pronta e acabada. E vigora.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.



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