quarta-feira, 21 de maio de 2014

É sempre uma coisa ou outra?

* Por Fernando Yanmar Narciso

Escolham seus lados, pois o país está em guerra. Como assim, guerra? A gente nem ficou sabendo de nada, cadê os foguetes, os canhões, El Paredón? Ah, mas que está acontecendo, isso está. Ela já rola há quase um ano, lembram-se? Tudo começou como na maioria das guerras, por causa de um boatinho de nada...
Às vésperas do início da Copa das Confederações, surgiu um papo que o Governo Federal iria suspender o Bolsa Família no país. O povo, que mal havia começado a se recuperar do susto com a subida monstruosa do preço do tomate, se borrou de medo de perder a ajuda governamental- que os direitistas mal-informados insistem em chamar de esmola ou “Bolsa Vagabundagem”- entrou em pânico e lotou as unidades da Caixa Econômica Federal, exigindo uma explicação.

Quando foi confirmado que não passava de um boato, os mesmos direitistas mal-informados riram da cara do povão até quase terem um aneurisma, e provocaram-nos dizendo que o povo brasileiro só sabe se mobilizar quando ameaçam parar de pingar trocadinhos em seu chapéu. Esse foi o mote para o início das históricas manifestações que não pararam de ocorrer desde junho passado. Desde então, a internet e a grande mídia segregaram o país em dois grupos: Os que querem voltar ao poder, lugar que consideram deles “por direito”, e os que já estão lá há mais de uma década, ditando as regras do jogo e dando continuidade ao que o grupo anterior começou há décadas.

Os que querem voltar, por sua vez, parecem ter memória fraca, pois esqueceram que o que há de ruim hoje no país começou quando estavam no poder, e acusam os homens lá no topo de terem arruinado o que havia de bom em nossa nação. Paranoicos que só eles, vêm convocando as pessoas diariamente para levantarem-se em armas contra o “exército vermelho”, que na cabeça deles conspira para armar um golpe de estado e transformar o Brasil numa ditadura. O fato de que quem aplica golpes de estado é quem está do lado de fora do poder é um mero detalhe.

Na realidade, eles mal se aguentam de ansiedade para voltar a mandar no Brasil, chegam a ter orgasmos múltiplos quando pensam nisso... Estamos numa era em que injúria, calúnia e difamação tomaram o lugar do futebol como alegria do povo. Aproveitando que o Facebook é uma terra sem lei, as páginas de direita lançam um factoide aqui, um boatinho de nada ali, uma piada de cunho reacionário acolá e, quando menos se espera, aquilo vira uma enorme bola de neve, um rolo compressor desgovernado, e acaba dando no que deu.

O problema é que, não importa a direção ou para quão longe tentemos correr, as estradas parecem acabar convergindo para os mesmos pontos. Nessas manifestações, quais são as grandes, enaltecedoras reivindicações de nossos jovens rebeldes? Melhoras na saúde, na educação, no transporte público, diminuição de impostos, combate à roubalheira... Qual é a necessidade de invadir o Congresso pra pedir por isso? Essa gente só pensa no de comer! A Revolução Francesa riria da cara de nossa “revolução” do ano passado. Enquanto não surgir quem dê um passo adiante da multidão e proponha algo novo e enaltecedor, nada mudará.

O país passa por um retorno barulhento e perigoso da mentalidade de extrema-direita. Uma pesquisa apontou que mais da metade da população não quer saber de eleições, que votar não muda coisa alguma. Isso nos leva a crer que, se o povo não quer voltar, talvez ele prefira um governo militar. Os vândalos não saem mais das ruas, seguem incendiando ônibus, arrebentando vidraças, se esquecendo da existência da polícia e, como se fossem apaches num filme de cavalaria, amarrando supostos criminosos em postes e os linchando. Torçamos para que não façam churrasco de ninguém e nem os comam...

Por favor, não me levem a mal. Se indignar contra tudo e exigir mudanças são sentimentos que não têm preço, mas o galho é que a divisão da ordem mundial permanece a mesma de outros carnavais, o maniqueísmo continua rolando solto. Cavaleiros e dragões, bem e mal, claro e escuro, mocinhos e bandidos... Como realizar mudanças profundas nessa podridão sem abandonar essa mentalidade paleolítica?
Percebi que aquela “primavera brasileira” do ano passado não levaria a lugar nenhum quando não apareceu ninguém disposto a propor uma nova filosofia político-social ou inovações pertinentes que trouxessem uma mudança de mentalidade ao povão. É preciso haver uma evolução antes da revolução, infelizmente os manifestantes sequer se lembraram disso. O que queremos: Não sabemos. Quando o queremos: IMEDIATAMENTE!

*Designer e escritor. Contatos:
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Um comentário:

  1. Está tão embolado, e a invasão da mentira corre de tal forma, que será preciso o Brasil marcar um gol, logo no começo do jogo para as coisas voltarem ao normal. Viva o Brasil!

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