quarta-feira, 28 de maio de 2014

Confiar é preciso

A confiança é essencial para que qualquer espécie de relacionamento seja bem sucedida e harmoniosa. Nos negócios, por exemplo, será uma tremenda roubada ter por sócio alguém em quem não confiemos e que não confie em nós. Conflitos serão inevitáveis e, por consequência, o fracasso da empresa também. O mesmo vale em relacionamentos afetivos, tanto os de amizade, quanto os amorosos. Não posso, ou não consigo, considerar determinada pessoa como minha amiga, se não tiver irrestrita confiança nela. E vice-versa, claro. E nem estou levando em conta se a desconfiança é fundamentada em fatos pregressos ou não. Se desconfiarmos de alguém, portanto, ou se este desconfiar de nós, o melhor que podemos fazer é cada qual ir para o seu canto e seguir seu próprio caminho sozinho.

Uma infinidade de conflitos seria evitada se as pessoas agissem assim. Todavia... não agem. Reitero, pois, com absoluta convicção, que a desconfiança é veneno letal e fulminante em qualquer tipo de relacionamento, quer se trate de ligação comercial, quer afetiva ou social. Não é fácil conviver com alguém e gostar dessa pessoa se não confiarmos, sem restrições, nela. E vice-versa. Diria que é impossível.

Não há, portanto, amor ou amizade que resistam à desconfiança. É verdade que há situações em que há motivos concretos, e, portanto, legítimos, para desconfiarmos de alguém. O melhor que se pode fazer, nestes casos, insisto, é cada qual seguir seu caminho, para evitar conflitos e ressentimentos. É inconcebível entregar-se, de corpo e alma, a uma pessoa em quem não se confie. O pior é quando não há motivos para desconfiança, quando esta for ditada pela sua causa mais comum, mas mais grave e terrível: o ciúme. O filósofo grego Epicuro de Samos, por volta do ano 250 antes de Cristo, já constatou essa verdade e a trouxe à baila aos seus discípulos, ao afirmar: “A amizade acaba onde começa a desconfiança”. E não tenham dúvidas: acaba mesmo. Não só ela, como também qualquer outro tipo de relacionamento: os profissionais, os sociais e, sobretudo, os afetivos, no caso o amor;

O pior tipo de desconfiança é aquele em que nós não confiamos em nós mesmos. Em que não temos certeza da nossa capacidade, da nossa força, do nosso talento, do nosso valor e vai por aí afora. E isso é muito mais comum do que o leitor possa supor. Conheço várias pessoas nessa situação. Não acreditam em si mesmas, titubeiam ao tomarem as decisões mais triviais e julgam-se inferiores a todos. Há, em casos extremos, um desvio psicológico, conhecido como complexo de inferioridade. É, no meu entender, o suprassumo da desconfiança. Quem é desconfiado a esse ponto, está em constante conflito. Mas não com alguém de quem possa se afastar. Está em guerra permanente com o próximo mais próximo que se pode ter: consigo mesmo.

Nossas mais profundas convicções têm sua veracidade de fato testada na prática. Muitas vezes, iniciamos determinado empreendimento sob generalizada desconfiança e sob críticas gerais. Aparentemente, nossas atitudes são erradas e tendem a nos levar ao fracasso. Se confiarmos em nossa capacidade, se não a subestimarmos e muito menos a superestimarmos, certamente não daremos a mínima às opiniões negativas alheias. Podemos fracassar, sem dúvida, dando razão, dessa forma, aos que desconfiavam de nós.

Todavia, se o resultado final for bom, e não apenas para nós, mas para a coletividade, nosso modo de pensar e de agir, de acordo com o que acreditamos sem reservas, imediatamente será aceito por todos como sendo corretos e adequados. Só alguém muito tolo, ou mal intencionado, continuará desconfiando da nossa capacidade para levar a bom termo aquele empreendimento. E se fracassarmos? Bem, nesse caso... de nada adiantará argumentarmos. O resultado é que irá contar. Não raro fazemos tudo certinho, não omitimos nenhum detalhe e o que resulta daquilo que fazemos revela-se nocivo e danoso. Por que? Vá se saber!

O presidente norte-americano Abraham, Lincoln, polêmico por suas idéias e ações – que levaram, inclusive, os Estados Unidos à única guerra civil de sua história – afirmou, certa feita, em um de seus discursos: “Se o fim mostrar que estou certo, o que se disse contra mim não valerá grande coisa. Se o fim mostrar que estou errado, dez anjos jurando que eu estava certo não farão diferença”.. Ou farão? Nestes casos, teimar nas convicções mal sucedidas será a mais completa prova não só da nossa intransigência, mas de estúpida teimosia em se manter na trilha do erro.

Cultivei (e ainda cultivo) o hábito de confiar nas pessoas. A menos, claro, elas me dêem motivo concreto, cristalino e ostensivo de desconfiança. Afinal, confiança não deve ser confundida com ingenuidade. Há pessoas, todavia, que são condenadas por seu passado. Mesmo estas podem se redimir. A prudência manda, no entanto, que não nos arrisquemos. Arrisquei-me em várias ocasiões e me dei mal, ou, usando uma expressão popular, “dei com os burros n’água”  Não me arrependo de haver confiado em quem não era confiável, pois o errado, no caso, não fui eu. Ademais, como diz surrado clichê (que nem por isso é menos verdadeiro), “quem vê cara, não vê coração”.

Convivi com um amigo que pagou preço proibitivo por sua aparência. Era pessoa boníssima, que nunca fez mal nem mesmo a uma formiga, mas que, conforme opinião generalizada, “tinha cara de bandido”. Sua chata (e injusta) situação inspirou um dos meus contos que considero entre os melhores que já escrevi. Comeu o pão que o diabo amassou. Chegou a ser preso, por estar nos arredores de uma casa em que ocorrera um assalto. Empenhei-me por sua libertação, não só por falta de provas, mas pela confiança que depositava nele. E meu amigo não a desmereceu. No mesmo dia, o verdadeiro culpado foi preso, e confessou o delito, para sua sorte, confirmando as palavras de Abraham Lincoln. Os fatos foram muito mais convincentes, enfáticos e definitivos do que a generalizada desconfiança. O trágico é que nem sempre isso acontece.

 Boa leitura.

O Editor.     .  


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