quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

“Respeito é bom e a gente gosta”

* Por Mara Narciso

A diferença entre arrogância e prepotência é que na primeira você mostra altivez, soberba, orgulho, ou, no pior sentido, insolência e atrevimento, diz o Aurélio, e na segunda não há poder alegado, mas real, exercendo influência, oprimindo e agindo de forma despótica (mesma fonte). O arrogante pensa ter a força e o prepotente a tem. Quando os políticos fazem fila em direção à cadeia, nos lembramos das “carteiradas” que uns e outros dão por aí, inclusive os citados, buscando ganhos indevidos, seja numa fila, lugar onde todos deveriam ser iguais, ou para escapar das suas responsabilidades. Quem age desta forma não se acostumou com a própria importância. Quantos andam por aí com seus carrões e nariz empinado olhando acima da cabeça dos demais como se fosse ver o disco-voador primeiro?

Os que fazem serviços humildes sabem o que é ser olhado de cima, com desprezo e pouco caso. Ou nunca ser visto, não tendo nome, e parecendo invisível. Aqueles que são usuários dos serviços dessas pessoas costumam tratá-las com desdém, ou no mínimo de forma impaciente, como se elas fossem incapazes de entender. E até podem ter dificuldade em vista de ter tido, em sua maioria, pouca oportunidade, ou ainda, se a teve não conseguiu aproveitá-la. Não vou fingir demagogia dizendo que mentalmente nunca discrimino nada ou ninguém. É claro que isso seria uma deslavada mentira. Confesso: sou impaciente com a burrice, embora cometa as minhas e espere que os outros sejam tolerantes comigo. Feio isso, não é?

Saber alguma coisa dá status, ser e ter alguma coisa dá status, o que gera respeito, mas na nossa sociedade, que muitas vezes mostra-se podre, há valores que valem como moeda, por exemplo, estar casado. Há pessoas que se arrastam em casamentos infelizes com medo do que os outros vão pensar caso se separe. E posam sorridentes e hipócritas junto aos familiares comemorando várias décadas de uma situação falsa. Mas aí entra a religião. Respeito todas elas, ainda que ache alguns dogmas absurdos. Relacionamentos se mantêm numa mentira por medo de julgamentos e subseqüente desrespeito.

Está na moda dizer que se respeita a natureza. Quanta inocência!  Produzimos lixo interminavelmente. Ainda ontem, ao invés de consertar meu celular de mais de cinco anos, o descartei e comprei outro. Isto é não ter respeito. A Terra virou um monturo de lixo, e logo não teremos mais espaço para os mais de 7 bilhões de sobreviventes. Como manter adequadamente essa multidão de gente? O lixo tecnológico foi vomitado por todos os lados. A ordem deveria ser reciclar, reaproveitar, consertar, reutilizar. Mas o que vemos são novidades a cada instante, insufladas pela publicidade que quase nos obriga a comprar. Isso é progresso que faz crescer a Economia. Minha televisão – aparelho televisor - de 29 polegadas tem um imenso tubo, 16 anos e funciona bem. Num raio de quilômetros não deve haver similar. Até lancei esse desafio no Facebook. Apareceu um concorrente, mas que não me venceu.

Os animais? Quando estão servindo são respeitados, quando não, deletam-se. Quanta violência comprar um cãozinho e vendo-o incomodar, jogá-lo fora nas mãos de qualquer um. Como disse Rogério Magri, então ministro de Fernando Collor, “os cães são seres humanos”. E não são? Sem contar os torturados bichinhos criados para comer. Quanto à água, além de emporcalharmos as imediações das nascentes, ainda deixamos aberta a torneira durante seu uso. Enxovalhamos e assoreamos os rios, sangramos o Rio São Francisco. Lástima. Até parece que nos esquecemos que água em pó não existe.

Será que nos respeitamos? Cuidamos de nós, da nossa saúde, física e mental? Até que ponto estamos presos à opinião alheia, com medo de pensar por nós mesmos e seguirmos a nossa cartilha pessoal? Vivendo em sociedade, é preciso seguir normas e regras, cumprir leis, mas há cuidados que precisam ser individualizados. Quem está próximo merece carinho e atenção. Mas, como o mundo bate em todos, o mais frequente é que as pessoas das quais gostamos encontrem em nós, não um consolo, mas sinais de irritação. É preciso amar a nós e aos que estão em nosso redor. Óbvio e esquecido.

Gente, de um modo geral, anda com as unhas afiadas, xingando todo mundo, sendo agressiva sem motivo. Responde rasgando. Apanhou ali, bate aqui e a má-vontade se espalha como rastilho de pólvora. Assim, arruma o ambiente com espinhos e na hora de se sentar, vai acontecer o quê? Ter cabelo nas ventas, não ter sangue de barata, revidar, responder com violência, não levar desaforo para casa, berrar mais alto, “olho por olho, dente por dente” são valentias que enchem a vida de amargor. O sabor doce mora ao lado. Exercitar o respeito faz bem.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   


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