sábado, 25 de janeiro de 2014

O francês casual

* Por Ruth Barros


Anabel tem um amigo francês (ai) alto, moreno, bonito (ai, ai) e muito bem casado (ai, ai, ai, ai, ai). Esse moço, que além de tudo é muito simpático, é um executivo muito bem sucedido e chiquérrimo, porque afinal de contas ele é parisiense de boa conta bancária, somatória pra lá de favorável. Pois almoçando juntos na sexta-feira, estranhei que mantivesse o terno e gravata. Não que isso o desfavoreça, absolutamente, homem bacana de terno é o que há e esse é um gato, como já esclareci, mas pelo fato de manter o costume em um dia, sexta-feira, consagrado pela comunidade yuppie como casual day, ou seja, de roupas informais.

-Sou contra essa moda – esclareceu muito sério (ai). – Tem gente que não tem a menor discrição, os caras usam umas coisas espalhafatosas, medonhas e o terno, por mais pobre e simples que seja, sempre dá um ar mais profissional, menos ridículo que certas camisas de estampas berrantes.

Fui obrigada a concordar, já vi sujeitos com ternos muito feios e de mau gosto, mas o pior foi vê-los “a paisana”, de roupas normais, se é que é possível chamar de normal bermudão com sapato e meias até quase no joelho. Mas a coisa não pára por aí. Meu amigo prosseguiu, com seu adorável sotaque:

- Para as mulheres é pior, a maioria das brasileiras confunde casual com pouca roupa. Fica então um festival de saias muito curtas, decotes, saltos imensos, bijuterias escandalosas, enfim, o escritório fica meio com cara de ensaio de escola de samba.

Novamente concordei, não que tenha nada contra escola de samba, muito pelo contrário, e ele também não, mas não há porque confundir uma coisa com outra. Como diria o velho sábio chinês “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. E no caso da sexta-feira casual elas acabam se misturando.

- Como os caras vão com a roupa que querem e muitas vezes muito mal vestidos, ficam pouco a vontade para ir atrás de clientes, procurar negócios – explicou meu amigo, que é vice-presidente de um banco. – Então, pagamos por cinco dias da semana que acabam se reduzindo a quatro. O que vou fazer, cortar 20% do pagamento dos funcionários? Não dá.

Antes que os leitores queiram trucidar meu amigo por achá-lo implicante com os brasileiros, devo esclarecer que o fofo se naturalizou tupiniquim. E já colocou mais duas lindas brasileirinhas no mundo, que aliás também têm mãe brasileira.

Isso me fez lembrar do João Pedro Stedile, o líder do MST. Pai de quatro filhos, que acha pouco, ele andou incentivando algum tempo atrás os brasileiros para não adotarem o controle de natalidade, a “produzir socialistas”. Foi uma das coisas mais estúpidas que ouvi nos últimos meses, além de achar no mínimo falta de caridade com as mulheres pobres, aquelas que não têm acesso a anticoncepcionais, a saúde, a educação para os filhos, a praticamente nada. Essas mulheres, que muitas vezes depois são obrigadas a ver os rebentos nas cadeias ou mortos na violência das ruas e favelas, mereciam mais respeito.

Por causa de bobagens como essas, no caso uma aliança informal entre a Igreja, que acha que sexo só presta pra reprodução, a esquerda, que acha que presta para fabricar guerrilheiros e socialistas e o regime militar, que não queria se meter na questão, saltamos dos 90 milhões em ação da década de 70 para quase o dobro em 30 anos.  Imaginem, já que estamos no assunto, se fosse a França ou qualquer outro país rico que dobrasse de população nesse meio tempo? Seria o caos do sistema social, quase o fim do mundo, ou melhor, la fin de monde.

Anabel Serranegra gosta muito de Paris


* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.



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