terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A morte da mulher fatal

* Por Evelyne Furtado

A expressão anda em desuso, mas já foi muito utilizada. Mulher fatal era aquela que abatia a presa (o homem) a um olhar. Na verdade ela usava mais que o olhar. Vestia-se para matar, de preferência uma roupa preta, decotada, insinuante e tinha todo um jeito manhoso de falar.

O cinema eternizou mulheres fatais. Rita Hayworth, em Gilda pintou e bordou. Gilda ainda é um símbolo da mulher perigosamente sedutora, apesar do filme ser de 1946.

Outro exemplo é Marilyn Monroe, nome artístico de Norma Jean Baker, talvez o maior símbolo sexual feminino contemporâneo. A imagem de Marilyn é muito forte ainda hoje, apesar de ter morrido em 1962, na plenitude dos seus 36 anos. Muitas estrelas que sucederam a linda loura, imitaram alguma de suas poses clássicas, com biquinho sexy e tudo.

Aliás, diga-se de passagem, toda mulher já teve no seu imaginário um dia (ou uma noite) de mulher fatal e todo homem já sonhou ser seduzido por uma.

Atualmente não temos uma celebridade que personalize a mulher fatal. Talvez isso esteja ocorrendo pela rapidez com a qual a estrela do momento é substituída por outra.

Uma segunda alternativa é a de que as atrizes não estejam mais se deixando rotular como símbolo sexual.

As duas causas podem andar juntas, embora eu simpatize mais com a segunda, pois ela liberta a mulher desse papel que a aprisiona.

Na verdade a mulher fatal é uma sedutora e as sedutoras ainda existem, mesmo que não sejam mais pintadas com tintas tão fortes. Todas somos sedutoras, de uma forma ou de outra, mas falo daquelas que fazem da sedução o seu maior trunfo. Trato daquelas mulheres que sempre estão seduzindo. Essas que não se cansam em buscar mais uma vítima, pois é assim que vêem a sua presa. Mulheres que medem o seu valor através de seu poder de sedução.

Vendo com olhos mais apurados observo que a sedutora traz em si uma carência enorme. Um vazio interior sem fim que a leva a multiplicar as conquistas para alimentar sua fome de amor, sem que venham a conquistar um amor de verdade, pois não a amam como ela é, mas como ela se mostra ser.

Quero crer que o símbolo da mulher fatal esteja morrendo para dar vida a uma mulher com interesses maiores. Tomara que estejamos assistindo à transformação da mulher coquete em uma mulher mais profunda e mais feliz, uma vez que o fim da mulher fatal é quase sempre muito triste, haja vista o exemplo de Marilyn Monroe.

Acredito que hoje lidamos com nossas carências de modo mais direto e aparentemente mais difícil. Todavia esse enfrentamento é o caminho para nos libertar dessa saia justa para uma vida mais plena. Melhor deixarmos a mulher fatal apenas em nossas fantasias.


* Poetisa e cronista de Natal/RN

Um comentário:

  1. Abordagem que não condena a mulher fatal, dando-lhe essa possibilidade de comportamento, mas sem tirar-lhe outros atributos. Ficou original.

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