domingo, 29 de dezembro de 2013

Perdas no fim de ano


* Por Marcos Alves


Willian Almeida, 27 anos, morador da Praça Seca, em Jacarepaguá, no Rio, levou um tiro na barriga ao surpreender a mulher na cama com outro homem. Foi o amante quem apertou o gatilho durante a discussão. Vivo e hospitalizado, escapou da morte por pouco e agora terá que aprender a viver com a descoberta.

Fim de ano é um período de exageros mesmo. Na comida e na bebida também. A gente fica com aquela sensação de fastio, quando bastava estar satisfeito. Incrível como desejar "Feliz Natal" e "Um próspero ano novo" para alguns torne-se algo único e histórico. Um imenso mercado que movimenta um bocado de dinheiro.

Acredito em algo mais elevado que nos acompanha a existência. Há controvérsias, mas eu diria que se há um Deus de bondade, a quem de alguma forma devemos prestar contas, a gente anda devendo. Não acho que Deus seja ingênuo, então o mundo não está totalmente sujeito à nossa vontade. Basta olhar em volta.

Pode ter sido vingança ou coisa parecida, mas veja o que aconteceu em Petrópolis, região serrana do Rio. Um dia depois do Natal, na madrugada de terça-feira, João Batista Caetano, 45 anos,  foi apagar o fogo colocado por vândalos na caçamba que ainda deve estar na porta da casa dele. Terminado o serviço, virou as costas e dirigiu-se até a porta, mas antes de entrar levou um tiro pelas costas. Provavelmente disparado pelos mesmos caras que cometeram o incêndio.

Não sei o que ele fez para merecer tal sorte, porém é possível imaginar que alguém pode sentir falta dele, amigos e familiares que estiveram juntos no Natal. Perder alguém de quem gostamos é triste em qualquer época, mas no Natal deve ser pior. Só que na vida não perdemos apenas as pessoas de quem gostamos. Ao longo do tempo perdemos sentimentos, emoções, sensações que nunca mais voltam. Perdemos um jeito de sorrir – como lembra um poema de Mário Quintana.

Conforta-nos o fato de que podemos também ir adquirindo novas sensações, sentimentos, amizades e até parentes! E a vida segue, lenta às vezes, rápida demais em outras, mas segue em frente. E como diz Gonzaguinha, eu fico com a pureza das respostas das crianças: Viver e não ter vergonha de ser feliz.

Como fez James Brown, o homem que venceu a morte. As prisões e confusões da vida privada não lhe tiram as honras e homenagens que agora recebe no mundo todo. É um desses seres humanos que nasceram dotados de tal força e magnetismo que foge a explicações e fala alto na alma das pessoas.

Teve uma morte estúpida, o rei do soul. Não há outro adjetivo para a morte, se não chamá-la de estúpida. Esperava que James Brown morresse de velhice, não aos 73 anos, como agora, uns 20 anos mais velho. Talvez cantarolando sentado numa cadeira de balanço na varanda de casa, em alguma cidade da Geórgia. Antes disso só de algum mal súbito, causado por abuso – que ele nunca foi um sujeito comportado. Mas não – ele morreu de complicações causadas por uma pneumonia!

O dentista viu a infecção por aquela garganta única, fonte de muito sucesso e dinheiro. O aconselhou a procurar um especialista, no que Brown respondeu, bem a seu estilo: "sou o homem que mais trabalha no showbusiness e não posso parar". Internado dias depois, morreu sem cumprir a agenda que incluía um show na boite de B.B. King na passagem de ano em Nova York.

Das perdas desse final de ano talvez a menos dolorosa tenha sido a do compositor Braguinha. O autor de Carinhoso morreu tranqüilo e sereno, aos 99 anos de idade. Não deve ter ficado chateado de não atingir as 100 velinhas. Pelo contrário, deve estar junto com Pixinguinha a tocar marchinhas no céu.

Jornalista e diretor de vídeod

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