quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mínima poética


* Por Paulo Henriques Britto

Poesia como forma de dizer
o que de outras formas é omitido—
não de calar o que se vive e vê
e sente por vergonha do sentido.

Poesia como discurso completo,
ao mesmo tempo trama de fonemas,
artesanato de éter, e projeto
sobre a coisa que transborda o poema

(se bem que dele próprio projetada).
Palavra como lâmina só gume
que pelo que recorta é recortada,

cinzel de mármore, obra e tapume:
a fala —esquiva, oblíqua, angulosa-
do que resiste á retidão da prosa.

 De Mínima lírica (1989) [ metapoesia ]

Poeta, lingüista, professor e tradutor, autor dos livros “Liturgia da matéria”, “Mínima lírica”, “trovar claro” e “Macau”.



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