sábado, 21 de dezembro de 2013

Carta para Papai Noel

* Por Clóvis Campêlo

Prezado Papai Noel:

Venho por meio dessas mal traçadas linhas propor-lhe um acordo. Mesmo que eu não consiga mais gostar do senhor como fazia quando era pequeno, prometo não mais lhe injuriar ou destratar.

Sei que o senhor não nasceu no Polo Norte como sempre me fizeram acreditar.  Também, nessa altura da vida, não me interessa mais saber se o senhor é uma invenção da Coca-Cola, da CIA ou do FBI. Foda-se, essa sopinha de letras. Tampouco me interessa saber se trata bem as suas renas, poupando-as do excesso de trabalho, alimentando-as corretamente e levando-as ao veterinário sempre que necessário.

A única coisa que sei e percebo a seu respeito é que, mesmo sendo uma invenção, o senhor é querido no mundo todo e reconhecido como o símbolo mercantilista do Natal. Até a China nacionalista se rendeu e produz imagens suas que vende a preço de banana para o mundo todo. E, como dizem que a voz do povo é a voz de Deus, sou obrigado a lhe conferir essa outorga e esse título. Também, admito, sei que já me sinto maduro o suficiente para não mais alimentar insustentáveis teimosias

Por outro lado, fico a pensar como o senhor suporta essa roupa tão quente quando vem ao Nordeste atender aos pedidos que lhe são feitos. Se no hemisfério norte o Natal acontece no inverno, com neve, pés de pinheiros e chocolate quente, aqui no Nordeste estamos em pleno verão e lhe cairia bem melhor um calção vermelho (ou azul) de praia. Proponho até levá-lo à praia do Pina, aqui no Recife, para tomar uma cervejinha brasileira estupidamente gelada e degustar um quebradinho de aratu (ou um sururu de coco). Acho que o senhor esqueceria rapidamente da carne de foca que se consome no polo norte. Mas isso tudo são conjecturas e já começo a tergiversar sobre o meu propósito principalmente que é selar a paz entre nós.

Confesso ainda, que apesar de hostilizá-lo intensamente, sempre admirei o vermelho, o preto e o branco dessa sua roupa quente.

É por tudo isso e pelo muito mais do que se esconde nas entrelinhas dessa cartinha que proponho a paz. Juro, Papai Noel, que não aguento mais não gostar do senhor.


* Poeta, jornalista e radialista

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