sexta-feira, 22 de novembro de 2013

“Castigo de Deus”

* Por José Calvino
  
- A senhora ainda teve apoio da igreja, e eu que não tive de ninguém? – argumentou Azambujanra à Beata escrevinhadora que havia lançado o seu primeiro livro.
- Tive apoio de Deus, de Deus! – Respondeu neurastênica a Beata, de  braços erguidos, quase tendo um troço, o que fez com que  Azambujanra evitasse aquela cena desagradável, pois ele soubera  que a mesma havia tido um começo de Acidente Vascular Cerebral (AVC).
- Ele tinha deixado de beber – disse a amiga de Azambujanra.
- Foi castigo de Deus, mulher! – disse a comadre da amiga de Azambujanra.
- E ele, na gozação, sempre dizia quando estava bebericando:
 “ Eu não pulo do ‘A’ para o ‘V’, eu faço o alfabeto todo: a,b,c,d... - adiantou um carola amigo de Azambujanra. 
  
Qualquer coisa ruim que acontece, esse povo diz logo que é castigo de Deus, somente porque o meu amigo Azambujanra gosta de ler as blasfêmias de Saramago, que era ateu, como é o caso do escritor grego Nikos Kazantzakis. Esse povo não tem o que fazer, não?, pois fala demais!!!

15 de novembro de 2013. Azambujanra está sem pretensão alguma de comemorar a “Proclamação da República”, até porque, o que há para se comemorar estando cheia de corruptos? Nem tão pouco no próprio feriado, chamado  de “feriadão” por muitos, quando a data cai numa sexta-feira ou numa segunda-feira deixando, desta feita, de ser o primeiro dia útil, paralisando  repartições públicas e escolas. Isso é a República Federativa do Brasil!
  
Azambujanra ao comentar a palestra da jornalista espanhola Pilar Del Rio (viúva do escritor José Saramago,  homenageado da noite de 14 de novembro na abertura da Festa Literária Internacional de Pernambuco - Fliporto), que este ano teve a  figura do escritor paraibano José Lins do Rego (1901-1957) como o principal homenageado, citou emocionado que ela transmitiu o pensamento do romancista português e Nobel da Literatura de 1998, sobre a crise econômica mundial, com aplausos do pequeno público: “Saramago dizia que não havia nenhuma crise econômica, que o dinheiro não poderia ter simplesmente sumido. A crise, para ele, era de ordem moral”.

Quando chega nessa época do ano Azambujanra fica impressionado com a hipocrisia. Fala com exaltação dos doutores, militares e políticos corruptos, que se defendem como se fossem exemplos perfeitos quando tomam conhecimento ou escutam as palavras “falcatrua”, “violência”, etc, como se não cometessem esses atos contra os seus semelhantes.
 - O governo é um xexeiro de marca maior e conta com a conivência de alguns  elementos da justiça – esclareceu Azambujanra.
  
Sem apoio  Cultural e sem ouvir os meus conselhos, Azambujanra resolveu bancar mais uma vez a edição do seu livro (sem título) o qual distribuiu  na Praça do Carmo, na cidade de Olinda. O amigo, com a difícil tarefa de divulgação, teve um começo de AVC. Mas, com otimismo, continuamos  a prestigiar o evento que se estendeu até domingo, 17 de novembro desse ano.

Finalizando, é sempre bom lembrar o que respondeu José Saramago quando lhe  perguntaram: “Como podem homens sem Deus serem bons?” E ele respondeu tranquilamente: “Como podem homens com Deus serem tão maus?”
  

*Escritor, poeta e teatrólogo. Blog Fiteiro Cultural – HTTP://josecalvino.blogspot.com/ 


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