terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Recife de 1900

* Por Leonardo Dantas Silva

O século XX foi o século das transformações, fazendo a humanidade experimentar um grande surto de progresso, só interrompido, em sua segunda década, com a deflagração do primeiro conflito mundial, ocorrido entre 1914 e 1918, que veio a mudar o mapa da Europa com repercussão em outros continentes.

No início do século, o Recife possuía uma população de 113.106 habitantes, de um total de 1.178.150 espalhados pelos 98.281 quilômetros quadrados que restaram ao Estado de Pernambuco, após as sucessivas mutilações feitas ao seu território em 1817 e 1824. Em conseqüência dos seus ideais republicanos manifestados naquelas ocasiões, o território da antiga Província de Pernambuco foi reduzido de 266.012 quilômetros quadrados para os atuais 98.281 quilômetros quadrados.

A cidade dos primeiros anos do século XX possuía 245 ruas, 29 praças, 215 travessas e 67 becos. Havia 17.147 prédios, dos quais 16.595 habitáveis; 169 em construção e 383 em ruínas. Os aluguéis variavam entre 10 mil réis e 1 conto de réis.

No campo educacional, o Recife possuía 121 escolas de primeiro grau menor. O primeiro grau maior e o segundo grau eram ministrados pelo Ginásio Pernambucano, antigo Liceu Nacional da Província, criado em 1825, a Escola Normal, o colégio Pritaneu, a Propagadora da Educação (hoje Escola Normal Pinto Júnior), o Colégio de São José, o Colégio Eucarístico, o Colégio São Vicente de Paulo, o Colégio Salesiano do Sagrado Coração (1894), o Instituto Pernambucano, o Porto Carreiro, o Ayres Gama, o Onze de Agosto, o Nove de Janeiro, o São Joaquim e o São Luís Gonzaga. Havia ainda os cursos profissionalizantes do Liceu de Artes e Ofícios e da Associação dos Empregados do Comércio. A instrução superior estava a cargo das Faculdades de Direito (1827) e de Engenharia (1895).

A cidade pacata daquele início do século era iluminada a gás carbônico e o fornecimento de água potável era feito pela Companhia do Beberibe, que assinalava no seu relatório de 1899 o número de 4.912 prédios com água encanada, além do serviço de chafarizes espalhado na cidade e nos arrabaldes. O serviço de esgotamento sanitário era feito pela Companhia Recife Draynage, cujas máquinas estavam instaladas no Largo das Cinco Pontas e cujas obras foram iniciadas em 1871. Dispunha a cidade de serviço telefônico, inaugurado em fevereiro de 1883; bem como de serviço postal telegráfico, sendo ligada à Europa e ao Rio de Janeiro pelo cabo submarino, desde 22 de julho de 1864.

O movimento diversional estava centralizado no Teatro de Santa Isabel, palco das principais companhias líricas e centro de gravidade do mundo artístico e dos movimentos cívicos; seguindo-se o Clube Dramático; o Clube Internacional de Regatas, fundado em 17 de julho de 1885 e que funcionava “até a meia-noite” no prédio nº 53 da Rua da Aurora; a Sociedade Recreativa Juventude, no prédio nº 1 do Pátio de São Pedro; o Clube Carnavalesco de Alegorias e Críticas Filomomos, na Rua da Imperatriz; havendo ainda sociedades destinadas ao cultivo da boa música, como a Euterpe, fundada em 1900 pela professora de piano Thereza Borges da Fonseca Diniz e que funcionou até 1905, além das sociedades de teatro amador, localizadas em diversos subúrbios.

* Historiador, jornalista e escritor do Recife/PE


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