segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Feliz aniversário


* Por Daniel Santos


O menino preferia ficar em casa, fazer seus “boizinhos” com batatas e palitos de fósforos, escorregar pela ribanceira numa prancha de papelão, puxar pela rua o “trenzinho” de latas de sardinha. Só queria vadiar.

Às tias, pediu um bolo com recheio de doce de leite e um laguinho de espelho em cima com um cisne de plástico, além de muitos confeitos, balões multicoloridos e balas embrulhadas em papel fino de franjas.

Mas, não. Não era mais assim que se fazia. Por isso, levaram o garoto à cidade, enfeitaram-no numa butique fina, o cabeleireiro fez-lhe um penteado da moda e foi, enfim, para a mansão alugada para a festa.

No seu aniversário, estava amuado, mas a custa de beliscões a mãe lhe ensinou a sorrir. E assim deveria receber um a um na entrada, porque vinha gente de longe, gente do trabalho do pai, especialmente para vê-lo.

Fez o que lhe disseram, embora desconhecesse os convivas. Onde, os amiguinhos da rua? E as tias mais pobres? Talvez viessem mais tarde. Ficou na entrada esperando, enquanto lá dentro os demais se divertiam.


* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.

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