quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Veja o meu vício

* Por Gustavo do Carmo

Tudo começou quando eu queria ler textos da época em que a poeta Ana Cristina César se suicidou, ao se jogar da janela do apartamento dos pais, em Copacabana, Zona Sul do Rio, em 1983. Pesquisei no acervo do Jornal do Brasil no Google e não achava nada.

Já  conhecia  o  acervo  online  da  Veja.  Até já tinha  visto  por  ele  a  reportagem sobre  o acidente aéreo que matou alguns jornalistas de televisão em 1984 e mais dois da Rede Globo  no  dia  seguinte,  inclusive  o  filho  da  Danuza  Leão  e  do  Samuel Wainer.  Mas ainda não tinha me viciado.

Sim. Fiquei viciado. Achei a matéria sobre a Ana Cristina César um pouco incompleta. Mas o suficiente para me viciar. No texto havia uma menção ao também poeta Torquato Neto, que também se suicidara (mas intoxicado por gás de aquecedor de banheiro) onze anos antes.

A  partir  de  então,  passei  a  procurar  por  obituários  de  personalidades  falecidas bem antes de eu nascer ou quando era bem pequeno. Faço uma busca no Wikipédia para ter uma  referência da data da morte e então seleciono a edição de uma semana depois do falecimento.

Qualquer celebridade morta a partir de 1968  (ano do lançamento da Veja) eu vou lá e procuro. A minha leitura não se resume aos obituários desejados. Aproveito para ver a edição toda, disposto a descobrir anúncios antigos (fantásticos), costumes e celebridades da época. E  descobri  histórias interessantes, como a  do  sucesso  do lançamento  do livro Meu Pé de  Laranja  Lima  (que  depois  eu  procurei  pelo  obituário  do  seu autor,  José Mauro  de Vasconcelos), a história de um jornalista esportivo hoje muito conhecido em Cabo Frio (o Katuka), a reconciliação dos Trapalhões, a propaganda da construção do antigo hotel Meridien  (hoje Windsor Copacabana),  a trágica morte  de um  bebê  e  sua mãe  em  um assalto à banco em São Paulo há 30 anos (a violência já era como hoje e desde aquela época já  se  defendia  bandido) e  o curioso caso  de  uma mulher  que  se jogou  do  sexto andar no Leblon e pediu um cigarro quando foi resgatada, mas morreu dias depois.

Alguns obituários eu descobri acidentalmente, como o do escritor Pedro Nava  (que se suicidou no meio da praça em 1984) e do ex-presidente da República Emílio Garrastazu Medici - em cujo velório houve um barraco entre o seu neto e o também ex-presidente militar João Batista Figueiredo.

Além dos obituários de Ana Cristina César e do Torquato Neto, procurei também pela história  das  mortes  de Maysa,  Chacrinha,  Hélio  Oiticica,  o  ex-goleiro  do Fluminense Castilho,  Aracy  de  Almeida,  Grace  Kelly,  Cacilda  Becker,  Glauce Rocha,  Coco Chanel,  Pixinguinha,  Noel  Nutels,  Adriana  Prieto,  Igor  Stravinski, Ingrid  Bergman, John  Wayne,  Charles  Chaplin,  Garrincha,  Liilian  Lemmertz,  João Goulart,  Carlos Lacerda,  Sharon Tate  (mulher  do  cineasta Roman  Polanski, assassinada  pelo maníaco Charles Manson), Renato Russo (na mesma edição falava da complicação da cirurgia de lipoaspiração  da  modelo Cláudia  Liz,  que  milagrosamente  se  recuperou  sem  seqüelas uma semana depois), a modelo Adriana Oliveira e etc.

O obituário da estilista Zuzu Angel aparece censurado, mas o do ex-malandro Madame Satã aparece na página seguinte. Dessas e outras celebridades que eu não citei, alguns funéreos ganharam matérias completas, mas outros aparecem apenas em notas da seção Datas, que existe desde 1970, e iniciam sempre com “Morreram”, mas que não fala só de mortes. Fala de nascimentos também (iniciando com “Nasceu”), como o do jogador de  vôlei  Bruno  Rezende,  então  noticiado  somente  como  filho  dos  então  jogadores Bernardinho e Vera Mossa.

O que dificulta a pesquisa é o bug que costuma aproximar demais as páginas, obrigando a  reiniciação  da  página.  A  pesquisa  também  dá  resultados  irrelevantes  demais. Mesmo assim, vou continuar procurando obituários, mas vou pesquisar sobre assuntos agradáveis também.

Não há como negar que o acervo da Veja é indispensável, como dizia um antigo slogan da  revista  (juro que não estou  fazendo propaganda e nem lobby para ser contratado) e é mais confiável do que uma pesquisa no Wikipédia. Claro que eu devo ser o último a falar do acervo da Veja, mas fica a dica.
 
Eu nunca vou abandonar o vício do conhecimento, mas ser viciado em notícias trágicas e obituários não é nada bom, né? Para  quem  quiser  viajar  no  tempo  o  link  é http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx.   


E  quem  quiser  compartilhar  determinada  matéria  nas  redes  sociais,  copie e  cole no  seu  navegador  o  link  a  seguir: http://veja.abril.com.br/acervo/home.aspx? edicao=604&pg=34 e mude  para  o  número  da  edição  (que  aparece  no menu) e a página (pg) desejadas.

Na  semana  passada,  o  jornal  O  Globo  lançou  o  seu  acervo.  O  leque  de  pesquisa se estende  até  1925.  Porém,  o  sistema  é  mais  lento  e  não  tem  como  ir  direto para  a página  desejada.  É  oito  ou  oitenta.  Ou  você  busca  a  matéria  ou  a  edição inteira  (que no  domingo é enorme)  para  folheá-la toda. Se  der  problema  ou  se  você tiver  que  sair quando estiver no  final da edição, vai ter que  recomeçar da primeira página. E o pior: será pago em breve. Por enquanto é gratuito. Me desculpem se estou sendo tendencioso, mas o acervo da Veja é muito melhor.

* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu  blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores


Nenhum comentário:

Postar um comentário