sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Artimanhas femininas

* Por Rodrigo Ramazzini

O casal de namorados está deitado no sofá serenamente assistindo televisão em um dia chuvoso, quando...

- Amor?
- Hum!
- Quer?
- O quê?
- Bala. É a última... Quer?
- Não sei. Qual sabor é esta?
- Menta.
- Não sei se quero...
- Decide...
- Não gosto muito de menta...
- Tá...
- Tá o quê?
- Agora é tarde! Comi...
- Eu não acredito!
- Ué! Tu disseste que não queria...
- Eu não disse nada!
- Claro que disse!
- Eu disse apenas que não gostava muito de menta...
- Então...
- Isso não quer dizer que não queria a bala.
- Ah para!
- Para nada! Eu não sei por que depois de tantos anos eu ainda me surpreendo com o teu egoísmo. Não sei mesmo!
- Eu? Egoísta? Eu te ofereci a bala antes de comer.
- Muito egoísta! Muito!
- Eu não acredito que estás fazendo isso por causa de uma bala. Não acredito mesmo...
- Hoje é uma bala. Amanhã é outra coisa e assim por diante...
- Lição de moral, não! Por favor...
- Não é lição de moral! É a realidade... Olha... Sinceramente... Eu não sei se eu quero isso para minha vida! Não sei mesmo...
- Isso o quê?
- Viver com alguém tão egoísta. Eu penso que morar com alguém é dividir, compartilhar as coisas... Como vai ser depois que casarmos, hein?
- Meu Deus do céu! Tudo isso é por causa de uma bala? Toma então... Nem está muito babada!
- Que nojo! Agora, eu não quero!
- Bom! Eu ofereci...
- É isso que eu digo... Esse teu egoísmo... Essa tua imaturidade...
- Não estou entendendo todo esse drama. Por quê?
- Se tu achas que é drama...
- Estás de TPM?
- Faz diferença?
- Responde...
- Pode ser...
- Está explicado, então...
- Está explicado o quê?
- Nada! Nada...
- Sei...
- Tu vais ficar com esses beiços para o meu lado?
- O que tu achas?
- Eu não acredito! Por causa de uma bala? Uma bala?
- Não é só por causa da bala. Já te expliquei...
- Eu não acredito que a gente vai brigar por causa de uma bala. Vamos? Responde?
- Não é por isso. Já falei!
- É capaz dessa bala até me fazer mal! Vou até colocar fora...
- Estás insinuando que eu te desejo mal? É isso?
- Ai meu Deus do céu! Quer complicar, né? Quer brigar mesmo?
- Não! Só perguntei... Perguntar não ofende. Ofende?
- Eu não quero brigar contigo!
- Mas, estás levando a isso...

Silêncio.

- Vais ficar assim?
- Assim como?
- Assim... Emburrada?
- Não estou emburrada. Estou triste. Fico imaginando se eu estivesse grávida...
- Tu estás grávida?
- Não! Mas, imagina se eu tivesse? Teu filho iria nascer com cara de bala de menta...
- Para! Para!
- Estou falando sério.
- Vais fazer eu me sentir culpado assim...
- É bom! Assim, tu pensas melhor nas tuas atitudes antes de agir...

Silêncio.

- O que eu posso fazer para me redimir?
- Hum... Não sei...
- Diz? Eu faço tudo que quiseres...
- Deixa eu pensar...
- Carinhos? Beijos? Abraço?
- Não.
- Não?

Ela faz uma cara de “tá bom, vamos lá”, respira fundo e parte para o pedido.

- Quero um beijinho, uma massagem nas costas e um brigadeiro da padaria da esquina! O doce primeiro...
- Estou indo na padaria. Já volto, amor!

Então, assim que o namorado sai, ela estica-se e deita-se confortavelmente no sofá, troca do canal de futebol na televisão e abre um pequeno sorriso de satisfação. Missão cumprida.



* Jornalista e contista gaúcho.

2 comentários:

  1. Diálogo totalmente convincente, escrito por quem entende do assunto, que tem bastante prática e conhece a fundo das infantilidades e caprichos femininos.

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  2. Bah, Mara! Assim, vou ficar me "achando". Há! Há! Há!

    Mais uma vez: muito, muito obrigado!

    Tenha um ótimo final de semana!

    Aquele abraço!

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