quinta-feira, 25 de julho de 2013

Óvulos penosos. Está servido?

* Por Marcelo Sguassábia

Os veganos estão certos. Estão certíssimos. Não só pela determinação de não ingerir cadáveres de animais, mas também por, coerentemente, se recusarem a consumir os derivados deles. Especialmente o ovo, o mais nojento e abominável desses subprodutos.

Que não se conteste o valor nutricional do dito cujo, o que o coloca entre os alimentos mais completos que existem. Sem falar do sabor, que quando frito é, de fato, uma iguaria. Basta ele e um pouco de arroz branco, e teremos um dos mais estonteantes manjares já concebidos pela espécie humana.

O problema é quando você se põe a pensar na natureza daquilo que está comendo. E aí vem à mente alguns fatos e imagens não propriamente abridores de apetite – como o órgão excretor do produto, a cloaca, e os não raros ovos com suas cascas saindo de fábrica manchadas de sangue. Uma vez coletados, higienizados e enfileiradinhos em suas assépticas embalagens de supermercado, não revelam à dona de casa a suja e dura crueza de sua gestação. Reflita, analise, leve o assunto ao debate doméstico e em sã consciência não admitirá mais um único ovo em seu cardápio - nem mesmo aquela pinceladinha discreta em cima da empada.

Ovo é óvulo, o maior do reino animal. Gosmento e quase sempre mal-cheiroso, quando in natura, permanece microscopicamente alojado no ovário da galinha desde o nascimento do bicho, esperando na fila pra ser posto pra fora.

Sim, a aparente delícia é de revirar o estômago. Inverta a situação e compreenderá um pouco melhor o absurdo: imagine uma galinha ciscando um absorvente feminino. Usado, evidentemente. Não seria exatamente esse o comportamento dos comedores de ovos? Considerando-se a ínfima inteligência da galinha, é até admissível o despropósito de vê-la degustando umCarefree de procedência ignorada. Mas e nós, animais racionais, que justificativa podemos dar ao ato bárbaro de sentar à mesa e mandar um zoiudão para o bucho?

Só que é preciso determinação para levar a abstinência adiante: nove entre dez receitas doces ou salgadas levam ovos - inteiros ou só as gemas. Por que continuam assim tão indispensáveis, esses pintinhos que não vingaram, nas caçarolas, frigideiras e batedeiras de bolo? Como é que a tecnologia ainda não conseguiu providenciar um substituto sintético à altura, com as mesmas propriedades de liga, que dão ponto às receitas das tias velhas? Ou pelo menos encontrando uma alternativa no reino vegetal, capaz de acabar de vez com a primazia gineco-galinácea no mundo maravilhoso da culinária.

Por outro lado, se não fossem aproveitados pelo homem em sua dieta, seria necessário inventar o que fazer com eles, já que uma única galinha põe em média 265 ovos ao ano. Com expectativa de vida produtiva de dois anos em ambiente de granja, vamos arredondar para 500 peças o portfólio penoso ao longo da existência. Isso a galinha confinada, pois a de fundo de quintal chega fácil aos 15 anos. Com a palavra, os veganos...

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).


Um comentário:

  1. Ovo frito na manteiga é mais que iguaria. É celestial. Quem se importa de ser um óvulo? Quanto ao colesterol, aí já é uma outra história. Eu não como ovo há quase 12 anos. Boa argumentação, Marcelo e veganos.

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