sexta-feira, 19 de julho de 2013

A vendedora

* Por Rodrigo Ramazzini

- Bom dia!
- Oi!
- Em que posso ajudá-la?
- Só tô olhando mesmo...
- Fica a vontade! Precisando é só chamar. Meu nome é Marcele...
- Tá! Pode deixar... Os vestidos que têm são aqueles ali?
- São sim... Se não tiver o tamanho aqui tenho mais lá dentro.
- Tá... Bonito esse preto, hein?
- É sim! Nesta última coleção eles capricharam. Um mais bonito que o outro!
- É... Esse floreado também!
- É verdade! E estão com um preço bem em conta!
- É...
- À vista tem desconto de 25%.
- Hum...
- Ainda posso parcelar em quatros vezes iguais...
- Hum... Está quanto esse floreado?
- R$ 80 à vista.
- Bom o preço mesmo!
- Como a loja está renovando o estoque esses vestidos que estão expostos estão bem baratos!
- É verdade...
- Gostaria de experimentar?
- Não sei!
- Não paga nada! Há! Há! Há!
- Me convenceu! Vou experimentar, sim!
- O preto e o floreado?
- É...
- Eu levo para a senhora. O provador é ali...

A cliente experimentou o vestido preto e não gostou em seu corpo. Então, passou a provar o vestido floreado. Olhou-se no espelho e achou-se linda e maravilhosa. Então, procurando uma segunda opinião e a confirmação do próprio gosto, ela perguntou a vendedora:

- O que achou?

Silêncio momentâneo. Um dilema nasceu em meio aos pensamentos da vendedora com o questionamento. Se falasse a verdade, que a cliente estava ridícula e parecia um botijão de gás de vestido com aquela estampa floreada, provavelmente, perderia a venda, que por sinal estavam em baixa naquele mês. Ainda corria o risco de sofrer ofensas dela e ter que se explicar na direção da loja. Por outro lado, se resolvesse omitir a situação e concordar que ela estava bonita ficaria com a consciência pesada por um longo tempo, pois por algum motivo aquela mulher despertou a sua compaixão e o seu lado mais sincero.

- O que achou? Insistiu a cliente.

O coração da vendedora acelerou. Ficou aflita. Precisava responder rapidamente algo para a cliente. Mas, o quê? O quê? Indagava-se. Clamou por Deus. Foi então que, ingressou na loja a filha adolescente da cliente que ao ver a mãe com aquela roupa, disparou:

- Que linda, mãe! O vestido ficou lindo na senhora. Vai levar, né?

A vendedora respirou aliviada. A responsabilidade de opinar e o sentimento de culpa se dissiparam com a posição da filha da cliente. “Gosto é gosto. Ridículo para uns, mas lindo para outros”, pensou. Assim, como em muitas oportunidades anteriores, restava-lhe somente terminar de efetuar a venda. Como boa profissional do ramo, apenas complementou:

- E o preço está ótimo!



* Jornalista e contista gaúcho

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