sábado, 22 de junho de 2013

Falta de líderes


O mundo provavelmente comemorará, em maio de 2015, os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, responsável pela morte estimada de 50 milhões de pessoas e por uma destruição como jamais se viu antes e nem depois desse trágico momento da História. Em 1945, quando a Alemanha nazista finalmente se rendeu, as opiniões generalizadas eram as de que nada sequer remotamente parecido voltaria a acontecer. Dizia-se que a humanidade havia aprendido a lição e que jamais voltaria a recorrer às armas, pelo menos naquelas proporções, para resolver pendências, territoriais, étnicas, econômicas, de hegemonia regional etc.etc.etc.

Será que não? Ao término da Primeira Guerra Mundial as opiniões haviam sido iguais. E todos viram no que deu. Bastaram, apenas, 21 anos, quando as feridas da que foi considerada na ocasião como a “guerra destinada a acabar com todas as guerras” ainda nem estavam cicatrizadas, para que os homens voltassem a recorrer ao mesmíssimo expediente, e bastante ampliado em relação ao conflito anterior, e promover chacina e destruição de proporções absurdas.

A realidade contemporânea mostra que a humanidade não aprendeu nada com estas duas tragédias. Por isso, repete os mesmos erros que a conduziram aos citados conflitos. Voltou-se, por exemplo, a tentar-se promover “limpezas étnicas”, em várias partes do mundo, termo por si só hediondo por aquilo que significa, provando que o bárbaro e absurdo Holocausto, que eliminou, em série, numa insana indústria da morte, pelo menos seis milhões de judeus, sem falar nos ciganos, russos ou deficientes que não pertenciam a nenhum desses povos, muitos dos quais próprios alemães, exterminados sem chance de defesa, não deixou nenhuma lição.

Causam arrepios acontecimentos, por exemplo, como o atentado de 11 de setembro de 2001, nos edifícios gêmeos do World Trade Center, totalmente demolidos pela ação simultaneamente suicida e homicida de fanáticos enlouquecidos. Foi o pior ato terrorista do pós-guerra, mas não o único. É possível de se catalogar por volta de um milhar de atentados, variando o número de vítimas e dos estragos materiais causados, mas todos com motivação mais ou menos parecida.

Não menos chocante, por exemplo, foi o ataque com gás sarim, no metrô de Tóquio, que causou 12 mortes (poderia ter causado milhares) e deixou mais de 5.500 passageiros intoxicados, ação atribuída a uma seita de fanáticos, a Verdade Suprema de Aum, liderada por um guru paranóico, Shoko Asahara. Violência, intolerância étnica, política e religiosa e injustiça social são as características do século passado e da primeira década deste.

Conflitos, passeatas, greves, manifestações (como as que ocorrem atualmente Brasil afora e que não se sabe quando e como irão acabar e no que vão resultar) e repressão: é a dura rotina de um mundo que assiste possivelmente ao final de uma época, de um perigoso período de transição e o início de outra. O que virá, de tudo isso, ninguém tem condições de sequer imaginar. Para que se tenha uma idéia, as pequenas guerras têm sido tantas, e em tão variadas partes do mundo, que não há espaço nos noticiários para noticiar todas.

Aliás, se consultarmos a História, concluiremos que são comportamentos que sempre acompanharam os homens e as nações que eles integram ao longo dos tempos. A situação atual, no entanto, é mais perigosa por uma série de razões. Um desses motivos é a simples existência de armas que podem destruir em minutos dezenas de planetas do porte do nosso, extinguindo todas as formas de vida que nele habitam. O fim da Guerra Fria, que mantinha o mundo permanentemente na corda-bamba, diante da possibilidade de uma guerra nuclear entre as superpotências, trouxe inegável alívio para a humanidade. No entanto, ao contrário do que pode parecer, a situação agora é muito mais perigosa do que antes da extinção da União Soviética.

Informe do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres, divulgado em abril de 1995, revelou que havia um vazio de poder mundial. Entendo que essa situação ainda persista, se é que não tenha se agravado. O mundo carecia de líderes, de acordo com o citado relatório. Esse panorama, porém, não se alterou para melhor Aliás, podemos contar os líderes remanescentes, os estadistas, os homens capazes de mudar os rumos da História, aqueles de grande projeção internacional, nos dedos, talvez, de uma única das mãos.

As Nações Unidas mostram-se impotentes para arbitrar e solucionar os inúmeros conflitos que se multiplicam. Não solucionou, por exemplo, para citar apenas os mais recentes, os confrontos do Egito, da Líbia, da Síria (que segue sangrento e indefinido), da Turquia e vai por aí afora. Aliás, não solucionou nenhum em seus 68 anos de existência. Não passa de simples fórum de inócuos e meramente retóricos debates, embora em termos sociais tenha sua importância graças a alguns de seus órgãos, como o Unicef, a Unesco, a FAO, a OIT e a Organização Mundial de Saúde.

Enquanto o mundo se mostra carente de lideranças, o crime organizado, em todas as suas formas, principalmente o narcotráfico, o fanatismo religioso, o nacionalismo extremado (provavelmente oportunista e aventureiro) e o racismo seguem fazendo estragos. As comemorações do fim da Segunda Guerra Mundial serão, portanto, uma oportunidade para que as pessoas com capacidade de decisão reflitam sobre os rumos que estamos tomando, para evitar uma terceira e última conflagração que, com toda a certeza, pulverizaria o Planeta.

Como Adolf Hitler surgiu do ostracismo, numa época de vazio de lideranças como agora, há o perigo de neste preciso instante estarem se desenvolvendo, nas provetas do ódio e da intolerância, como monstruosos embriões, um, dois, dez ditadores homicidas como ele. Um único já bastaria para selar nosso destino. Deus que nos livre deste perigo mais real do que ousamos admitir. Afinal, como a experiência já demonstrou fartamente, o axioma que diz que “o poder não admite vácuos” não é somente bombástica frase de efeito. Pensem nisto.


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