domingo, 30 de junho de 2013

E se você jogasse a Copa?

*Por José Paulo Lanyi


Às vezes paro tudo e deixo a lógica para os outros. Faço de conta que o mundo é diferente e vejo o que acontece. Posso explicar com um exemplo. Outro dia soube do nome do novo campeão do Torneio de Roland Garros. Um garotão que, dizia a reportagem, tinha um senhor retrospecto. Eu não sabia quem ele era. Faz tempo que não dou a mínima para os campeonatos de tênis. Vi a cara do rapaz e concluí que, estivesse ele ao meu lado, a comprar na sapataria, não o distinguiria entre os demais. Experimentasse os seus sapatos, para mim estaria bem. Poderia mesmo confundi-lo com um vendedor.

Na TV, o jovem celebrava o seu feito. Perguntei-me quanto aquilo não lhe custara. Sem que ele soubesse da minha discreta existência, lambera muita quadra de saibro para chegar ao topo.

Imaginei, então, um absurdo. Ligaria a TV e, algo surpreso, depararia com o Fernando Mariz Masagão em Wimbledon.
 
EU
Oi, Mariella, tudo bem? Não sabia que o Fernando jogava tênis...

MARIELLA AUGUSTA
Eu também não. Na semana passada ele disse que faria uma surpresa. Aí me ligou lá daquele orelhão ao lado da quadra de Wimbledon.

EU
Orelhão? Mas isso não era no Maracanã?

MARIELLA AUGUSTA
Ai, Zé... Conservaram alguns poucos orelhões. Um deles instalaram em Wimbledon!

EU
Que estranho! Isso é bizarro! Orelhão é coisa de brasileiro!

MARIELLA AUGUSTA
Claro que não, Zé! Quer apostar o quê comigo?

EU
Nada, Mariella, você nunca me paga quando perde...

MARIELLA AUGUSTA
Ah, Zé, deixa de polêmica, vai...

EU (irônico)
Tá legal... Quer falar de amenidades, vamos falar de amenidades...

MARIELLA AUGUSTA
Zé, Zé...

EU
Então vamos lá... Ele tem tudo para ganhar. Está indo muito bem...

MARIELLA AUGUSTA
O Fernando é o máximo...

EU
Mas ele devia ter me avisado. Agora está muito em cima para uma festa decente...

MARIELLA AUGUSTA
Ah, Zé... Quando ele voltar a gente compra uma Coca-Cola e aqueles salgadinhos de saquinho...

EU
Tem razão, Mariella. Ele não está nem aí... E agora vai ser campeão de Wimbledon... O Fernando não está nem aí...

Na Copa é a mesma coisa... O hino brasileiro enquadra, passo a passo, cada uma das nossas estrelas... Dida, Ronaldo Gordo,  Kaká, Roberto Carlos, Pablo Uchoa...
Pablo Uchoa????

(No MSN, depois do jogo)

EU
Pablito, cacete, vc arrebentou!

PABLO UCHOA

Fala, Zé! Vc viu a piaba que demos naqueles gringos?

EU
Porra, Pablo, o mundo inteiro viu! Mas como é que foi isso? Como é que vc conseguiu jogar a Copa?

PABLO UCHOA
Ah, velho, eu estava aqui em Londres, um tédio desgraçado. Aí liguei para o Parreira e disse que queria jogar...

EU
E ele?

PABLO UCHOA
Bom... Eu estou aqui, não estou?

EU
He..he..he... É verdade.

PABLO UCHOA
Vc quer jogar também?

EU
Não vai dar, Pablito. Agora, com essa história de duas colunas por semana no Comunique-se...

PABLO UCHOA
Bobagem, manda os textos daqui! Eu falo com o Parreira! Se bobear, a gente joga junto contra a Austrália!

EU
Não, Pablo, deixa para a próxima...

PABLO UCHOA
C q sabe...

EU
Enfia os caras, Pablito!

PABLO UCHOA
Xá comigo, Zé! Abração!

EU
Abração, se cuida!
Agora, com o Pablito, temos um quinteto mágico. Nunca será tão fácil.     

(*) José Paulo Lanyi é jornalista, escritor e dramaturgo, autor do romance "Calixto-Azar de Quem Votou em Mim", do romance cênico (gênero que criou) "Deus me Disse que não Existe", da peça "Quando Dorme o Vilarejo" (Prêmio Vladimir Herzog) e da coletânea “Teatro de José Paulo Lanyi e Outros Loucos” (no prelo), todos da editora O Artífice. Trabalha com o músico paulistano Flávio Villar Fernandes, com quem compôs a trilha “Invernada Op1 N1” e a sinfonia Atlântica.



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