sábado, 25 de maio de 2013

E o terrorista, morreu?!

* Por Paulo Reims

Infelizmente, no dia 17 de maio pp, morreu o maior genocida, terrorista da América Latina. Jorge Rafael Videla, que presidiu a junta militar que governou a Argentina, após o golpe militar de 1976. Foi a ditadura mais violenta da história da Argentina. Não se pode conceber a ideia de como os militares, que tinham e ainda têm sede de se impor pelo poder dar armas, mas em total subserviência às elites nacionais e internacionais, não conseguiram observar que Videla era um psicopata radical. Ou sabiam, e escolheram entre eles o pior? Pois há outra informação de que entre os três que compunham a junta, não se sabia qual era o pior... Mas a certeza de que ele era um psicopata confirma também a tese de que, na verdade, os militares nunca estiveram preocupados com o bem estar e a dignidade do povo, e sim dos grupos que lhes subsidiavam para fazer valer seus interesses extremamente egoístas.

Estou convencido de que até o diabo, se assim se pode qualificar, é mais equilibrado que Videla. E isto me faz pensar que o encardido está em palpos de aranha; deve ter arregimentado o seu exército infernal, pois a qualquer momento Videla poderá lhe dar o golpe e depô-lo do supremo posto da maldade friamente arquitetada.

Seria este diagnóstico da conjuntura infernal um julgamento do “falecido” tirano? Não, pois ele mesmo confessou que sentia um peso na alma, mas que não se arrependia de nada do que fez e mandou fazer. Foram muitos milhares de sequestros, torturas e assassinatos de homens, mulheres, jovens e crianças. Não se arrependia, nem mesmo, das crianças arrancadas de suas mães, das quais não se sabe o paradeiro. Ele, absolutamente monstruoso, considerava-se acima do bem e do mal, e no direito de julgar a tudo e a todos arbitrária e sumariamente. Disse que aquelas várias centenas de mães, das quais lhes sequestrou as crianças recém-nascidas e que deram à luz sob tortura (a algumas mães presas eram feitas cesarianas, para que as crianças nascessem mais rápido e as mães pudessem ser mortas mais depressa) , não tinham condições de educar os filhos(as). Aliás, este argumento é usado com muita facilidade em muitos lugares.

Videla denominou estas mães de terroristas, pode isto? Quem era o terrorista ali? Não somente o general Videla, mas toda a cúpula das Forças Armadas da Argentina que permitia tamanha atrocidade.

A psicopatia de Videla era tão grande e visível que chegava ao cúmulo de ir à missa e comungar diariamente; e não lhe era negada a comunhão, por medo, creio eu... O que não deixa de caracterizar um pecado gravíssimo pois, neste caso, a fé deve lançar fora o medo e enfrentar o martírio. Evidente que não é fácil, mas o silêncio, muitas vezes, caracteriza cumplicidade. Disse o Mestre Jesus: “Quem quiser salvar sua vida, não se comprometendo com a justiça, vai perdê-la; e quem perdê-la, por causa do Reino, que é vida, vai salvá-la”.

Com certeza o deus de Videla não é o Deus revelado pelo Mestre Jesus, e nem o meu. Queria enganar a outros com esta aparência religiosa, e enganava-se a si mesmo.

Videla foi condenado duas vezes à prisão perpétua por assassinatos e torturas, além de uma pena de 50 anos de prisão pelo roubo de bebês. E a Glória Peres não o mencionou na “Salve Jorge”!

Os organismos de direitos humanos apresentaram uma cifra de 30.000 pessoas desaparecidas, e Videla disse com “tranquilidade”: “Foram apenas 7 ou 8 mil pessoas”. Novamente a resposta de um psicopata perigosamente frio, um verdadeiro terrorista, não só vivendo, mas governando a sociedade argentina...

As Mães da Praça de Maio continuam até hoje a reclamar e exigindo saber do paradeiro de seus entes queridos. Corajosas e guerreiras, continuam nos dando lição de compromisso com a vida, a verdade e a justiça, questionando seriamente o silêncio medíocre dos que se dizem e se acham bons.

Iniciei a matéria dizendo que infelizmente ele morreu. O fiz por dois motivos: 1)Porque Videla iria depor a respeito da Operação Condor, que foi uma ação conjunta de repressão a todas as pessoas que se opunham às ditaduras instaladas nos seis países do cone sul: Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Esta operação realizada pelos militares da América Latina, sempre assessorados pela CIA do imperialismo, foi batizada de condor, ave típica dos Andes, e símbolo da astúcia na caça às suas presas. Estas presas eram todas as pessoas que lutavam pela democracia e pela vida com dignidade para todas as pessoas, sem exceção, e não pela satisfação mórbida das elites, que querem sempre mais, mesmo ao custo do sangue do povo, que só tem direito a existir para satisfazer as necessidades dos que ditam as ordens.O monstro morreu e não deu respostas sobre o destino dos desaparecidos. Alguns milhares sabemos que foram jogados dos aviões nos altos mares. O Brasil também saiu perdendo. A Comissão Nacional da Verdade poderia tornar seu relatório muito mais completo. 2) Ele deveria sobreviver para continuar pagando aqui pelo seus inumeráveis atos terroristas.

Foi noticiado que ele morreu de causas naturais. Ou morreram com ele? Por isso os pontos ?! do título.

Chegando perto do seu fim, ele poderia revelar nomes e comprometer tantos outros criminosos que são cultuados aqui, lá e acolá...


* Jornalista

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