sexta-feira, 31 de maio de 2013

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 7 anos, dois meses e quatro dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Consolidação e consagração.

Coluna Contrastes e confrontos – Urariano Mota, crônica, “Gringos e Macacos”.

Coluna Do real ao surreal – Eduardo Oliveira Freire, conto “Doces lembranças”

Coluna No sopro do Minuano – Rodrigo Ramazzini, conto “’Insight”..

Coluna Observações e reminiscências – José Calvino de Andrade Lima, artigo “Saúde e assistência”.

Coluna Porta Aberta – Oswaldo Pastorelli, poema, “A flor docemente pousada”...


@@@

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso” Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” – Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br



Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação. 
Consolidação e consagração

A ópera conquistou o status que goza, atualmente, no âmbito da chamada música erudita, ou clássica, graças à capacidade de renovação dos inúmeros compositores que lhe deram permanência e transcendência. Além de seus inegáveis méritos artísticos, propiciou a criação de muitos empregos, e não apenas para instrumentistas, mas para cantores, cenógrafos, figurinistas, iluminadores etc. Levou, todavia, bom tempo para se consolidar, como gênero híbrido, misto de composição musical e drama, com muitos elementos da arte de representar, mas com a diferença de trocar os diálogos “falados” pelos “cantados”.

Conquistou, todavia, público exigente, mas fiel, que só cresceu, com a adesão de compositores geniais, que haviam se destacado em outros gêneros clássicos e que passaram a compor óperas, cada vez mais refinadas, inspiradas e criativas. Um desses gênios foi, sem dúvida, Wolfgang Amadeus Mozart, que soube encontrar libretos adequados, de inegável qualidade artística, para suas composições. Sua produção operística, primores de perfeição, é das mais vastas e memoráveis, com destaque para obras como “O rapto do serralho” (16 de julho de 1782), “As bodas de Fígaro (1° de maio de 1786), “Don Giovanni” (29 de outubro de 1787) e “A flauta mágica” (30 de setembro de 1791), entre tantas e tantas e tantas magníficas produções.

Até o fenomenal Ludwig van Beethoven – cujo gênero preferido nunca foi a ópera – fez sucesso no drama cantado, com “Fidélio”, cuja estréia se deu em 20 de novembro de 1805. Cada um desses imortais deixou um pouco de si, alguma coisa nova, seu selo de qualidade na técnica de composição operística. Carl Maria Von Weber, por exemplo, reformou os conceitos do gênero, escolhendo temas populares adaptáveis ao romantismo musical. Sua ópera mais marcante foi “Freischuetz”, marco precursor de temas nacionalistas germânicos, que seriam levados às últimas conseqüências por Richard Wagner.

Influenciados por Weber, diversos compositores, Europa afora, enveredaram por idêntica temática nacionalista. O dinamarquês Friedrich Daniel Rudolf Kuhlau foi um deles. O sueco Ivar Hallstrom, foi outro. O checo Bedrich Smetana (cuja obra mais notável é a ópera “A noiva vendida”, estreada em 30 de maio de 1853) foi um terceiro. E vai por aí afora. O período, meados do século XIX, marcou a adesão dos compositores russos ao gênero. O precursor foi Mikhail Glincka, com a obra “A vida pelo czar”, cuja estréia se deu em 9 de dezembro de 1836.

Essa composição foi a primeira ópera de cunho nacionalista da Rússia, que revelaria, a partir de então, grande quantidade de compositores de reconhecido valor no mundo operístico.  Para o meu gosto, o principal foi Modest Mussorgski. Sua peça “Bóris Goudonov”, baseada em um drama de Aleksandr Puchkin sobre um personagem lendário russo que tinha esse nome, é considerada uma das mais perfeitas do gênero em todos os tempos. É de tirar o fôlego! Constitui-se no ápice qualitativo da ópera na Rússia, país que também revelou ao mundo o genial e atormentado Piotr Tchaikowski, autor de “Evgueny Onieguin” e “A dama de espadas”; Aleksandr Borodin, que compôs “O príncipe Igor”; Nikolai-Rimski-Korsakov, compositor de “O galo de ouro” e Igor Stravinsky, que nos legou, entre outras obras, “O rouxinol”, “Édipo rei”, “A carreira de libertino” e “Pássaro de fogo”.

Entretanto, um dos maiores reformadores da ópera e um dos seus maiores expoentes de todos os tempos foi o polêmico e genial compositor Richard Wagner, que abandonou todas as formas tradicionais até então características do gênero, mas restabeleceu sua substância e sua essência. Entre outras coisas, aboliu, por completo, a ária. Substituiu-a pela cena totalmente musicada, introduzindo o leitmotiv, ou seja, um tema-condutor. Valeu-se da melodia contínua, sustentada por recursos orquestrais, de enorme força dramática. Transformou, enfim, a velha ópera numa espécie de sinfonia, carregada de intenso drama, com a participação de vozes fazendo o coro. Conseguiu, portanto, fazer o que os florentinos haviam concebido em 1600 e que havia se perdido pelo caminho.

Wagner concretizou, sobretudo, o grande sonho de Gluck. Subordinou a música completamente ao drama, promovendo a absoluta fusão entre ambos. Por isso, conquistou a preferência do público na maior parte da Europa, embora encontrasse (e ainda encontre) resistência em vários círculos, não em decorrência de qualidade musical, mas de seu suposto e controvertido anti-semitismo. Com Wagner, a ópera chegou quase aos limites de suas possibilidades. O que seria atingido, afinal, por Richard Strauss, anos depois.

A obra operística de Wagner é das mais ricas e expressivas e. Virtualmente, não há nenhum amante de música erudita que não a conheça, mesmo que não a aprecie (o que refletiria contundente falta de gosto). Suas principais óperas são: “Tanhauser” (19 de outubro de 1845), “Lohengrin” (28 de junho de 1850), “Tristão e Isolda” (10 de junho de 1865), “Os mestres cantores de Nuremberg” (21 de junho de 1868), “O ouro do Reno” (22 de setembro de 1869), “A Walquíria” (26 de junho de 1870), “Siegfrid e o crepúsculo dos deuses” (16 e 17 de agosto de 1876) e, claro, “Parsifal”, considerada a sua obra prima.

Entretanto, a Península Itálica, berço do gênero, não ficou à margem de mais esse seu processo de reforma e de consolidação. Isso graças à atuação inovadora de Giuseppe Verdi, cujas composições são classificadas pelos historiadores de arte como Neo-românticas. Seguindo caminhos bem diversos dos de Wagner, em suas últimas composições o gênio italiano fez com que suas peças atingissem formas bastante parecidas com o estilo wagneriano. Suas óperas mais notáveis são: “Otelo” (5 de fevereiro de 1887), “Falstaff” (9 de fevereiro de 1893), “Rigoletto” (11 de março de 1851), “Il trovatore” (19 de janeiro de 1853), “La traviata” (6 de março de 1853), “Um baile de máscaras” (17 de fevereiro de 1859), “A força do destino” (10 de novembro de 1862), “Don Carlos” (11 de março de 1867) e “Aida” (24 de dezembro de 1871).

Boa leitura.


O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.
Gringos e Macacos

* Por Urariano Mota

Um jovem de grande inteligência e observação, que conhece muitos países europeus, me enviou esta mensagem ontem:

“Para muitos gringos, os brasileiros, os que não são europeus, não passam de macacos. Aquilo que o senhor escreveu em ‘O filho renegado de Deus’ ainda acontece na Europa. Aquilo não está só como os gringos viam um negro no Recife em 1961. Mas muita gente tenta esconder essa realidade. Ou fazer de conta que não acontece. Mas acontece, todos os dias, ainda hoje”.

E de fato, amigos, leio na Folha de São Paulo nesta quinta-feira  que  jovens da periferia, lá na exemplar Suécia, revoltados, queimaram carros. E que esses protestos começaram depois da repressão policial ter matado um imigrante velho. Pior, a mesma polícia que matou abre investigação sobre o crime. Mas nem com tal providência evitou a revolta dos jovens. Eles acusam as forças de segurança de abuso de autoridade, de bater em idosos e crianças e de chamar os imigrantes, na maioria negros, de ‘macacos’...”.

Então ligo a mensagem recebida à notícia de hoje, e por isso navego pela internet para ver o quanto a Europa e os Estados Unidos em crise descontam nas costas dos imigrantes os problemas econômicos. O novo aqui – se novidade há – é o crescimento do ódio em velhos preconceitos contra os latinos, africanos, ou de um modo mais amplo, contra os não-europeus. Assim ocorre na Itália, onde a nova ministra da Integração, Cecile Kyenge, vem recebendo insultos por ser negra e mulher. Sites de extrema-direita a têm rotulado como “macaco congolês”.

Assim é com o jogador Mario Balotelli, o craque da seleção italiana, que tem sido vítima de humilhações nos estádios, como no San Siro, em que a torcida da casa fez barulhos e imitações de macacos para provocá-lo. No primeiro tempo, o atleta mandou a torcida adversária se calar, porém perto do fim do segundo tempo a situação ficou insustentável e o juiz  teve que paralisar o jogo por alguns minutos. Essas noticias falam que esse não foi um caso isolado. Em Portugal, a situação se repete com uma brasileira de nome Kelly dentro do BBB português. Recentemente, Macau, um dos participantes do Big Brother de Portugal, imitou um macaco enquanto Kelly tomava banho. Já na Espanha, depois de fazer uma falta no atacante Cristiano Ronaldo, na derrota do Barcelona para o Real Madrid, por 2 a 1, o lateral-direito Daniel Alves teve que ouvir insultos no Santiago Bernabéu, de acordo com a imprensa espanhola. O brasileiro, já nos últimos minutos do jogo, escutou sons de imitações de macacos vindos das arquibancadas do estádio.

Esse tem sido um comportamento repetido, da Inglaterra à França, mais a Grécia e onde a crise econômica desponta. O insulto e o desprezo por humanos diferentes  não é novo. A novidade é que os macacos antigos agora vão além dos negros, atingem os muçulmanos, imigrantes pobres, pessoas de pele clara, e tudo que for estranho. Enquanto escrevo, recebo a informação de que os estrangeiros não gostam de ser tratados  por “gringos” no Brasil. É natural e justo que não se sintam bem. Mas em um contexto de incompreensões e discórdia,  creio que o leitor entenderá o título da coluna.

O trecho do romance “O filho renegado de Deus” a que o jovem se referiu é este:

“- Eu serei o seu guia e intérprete no Recife, excelência.

Então uma jovem ao lado de Ted Kennedy, com jeito de fina, educada, parecendo uma condessa, então essa senhora vai falar para Edward, em gíria do Sul dos Estados Unidos:

- Quem vai nos servir é este macaco?!

Sim, então nessa frase o negro Filadelfo sentirá, com tamanha raiva, mágoa que o deixará ferido, então o negrinho vai sentir que serão crescidas dentro de si florestas de macacos, um povo de grandes símios, um mato, uma cerrada população de árvores onde pulam chimpanzés como ele, como sua mãe, como sua avó escrava, um povo de caricatura a pular entre árvores, onde se confundem os colonizadores filhos de colonizadores, netos de colonizadores, todos de capacete e rifle em safáris. É natural que não diga nem ao padrinho Manoel de Carvalho, pois o espírito acima de tudo não o perdoaria, e Filadelfo não podia contar que apenas respondeu, quando deveria cuspir, escarrar no imaculado e gentil braço da suave dama, mas apenas disse:

- Senhora, eu não sou macaco.

- Oh, não, o senhor entendeu mal, ela não disse isso – meio a contragosto contemporizou o nobre representante dos Estados Unidos. Ao que ele, o macaco que falava, apenas disse:

- Senhor, eu falo inglês e entendo bem as suas gírias”.

* Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici, “Soledad no Recife” e “O filho renegado de Deus”.  Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros.

Doces lembranças

* Por Eduardo Oliveira Freire

Lembro-me que adorava passear na fazenda dos meus avós. Era tratado com um “reizinho” por todos. Quando brincava com os filhos dos empregados, sempre era o líder. Tempos felizes...

Mas, um dia, um monte de homens armados invadiu a fazenda, prenderam meus pais e meus avós. Os empregados com seus filhos se abraçavam felizes e fiquei sem ação. Uma antiga empregada abraçou-me e a ouvi pedir para os caras armados me deixasse ficar com ela.

Então, fui morar com ela numa casa simples da periferia. No início, fiquei revoltado, queria minha vida antiga de volta, mas, com o tempo, fui me adaptando e os dias na fazenda se tornaram um belo sonho. Anos depois, quando voltava do trabalho, na porta de casa havia uma jornalista. Queria me entrevistar sobre minha família biológica. Minha mãe de criação apareceu e a expulsou e veio conversar comigo.

Bem... É lógico que eu sabia de tudo, porém, não queria ter consciência disso, principalmente, perder as doces lembranças da infância. A verdade veio dilacerando meu reino particular.

Minha verdadeira família escravizava as pessoas para trabalhar na fazenda. Todos me tratavam bem porque eram obrigados. Fiquei alguns dias à deriva, como se estivesse acordado de um coma. O que farei?

Minha mãe adotiva me disse para tocar a vida. Seguirei seu conselho.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor


Insight

* Por Rodrigo Ramazzini

Em um ambiente de trabalho.
- Fred...
- Fala.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro! Fala...
- Não é sobre o nosso trabalho em si.
- Tudo bem, Rafael!
- Nada a ver até...
- Pergunta. Sem problemas...
- Chefe, por acaso, alguma vez na vida, tu te perguntaste... Sei lá... Em uma determinação situação... Em um determinado momento...  Algo do tipo “o que eu estou fazendo aqui”?
- Olha, Rafael...
- Digo... Tipo... Surge do nada assim a pergunta... Parecendo que passou a compreender algo... E que tu estás no lugar errado... E se fez essa pergunta, entende?
- Entendi... Olha, Rafael... O que eu vou te dizer... Eu acho... Eu acho que todo mundo já pensou isso ao menos uma vez na vida...
- Pois é...
- Ou melhor, já se perguntou isso uma vez na vida... Não achas?
- Pois é...
- Possivelmente, mais de uma vez até...
- É...
- A gente acaba, às vezes, mesmo sem querer, se colocando ou vivenciando cada situação que eu vou te contar!
- É...
- Que acaba sendo impossível não se perguntar isso.
- Entendi... Entendi... Me diz outra, então...
- Fala...
- E o que tu fez ou faria se... Sei lá... Tipo... Se pegasse pensando isso?
- Olha... Acho que quando tens esse tipo de pensamento... Faz esse tipo de reflexão... Esse tipo de questionamento... É porque tu estás em uma situação incomoda...
- Pois é...
- Logicamente, o que eu faria seria tentar sair dessa situação...
- Entendi...
- Claro! Sempre que possível... Sabe como é... Tem vezes que não tem como!
- Entendi... Mas, se tivesse?
- Se tivesse, nem pensaria duas vezes...
- Entendi... Entendi... Entendi...
- Me deixou curioso, Rafael! Por que as perguntas?
- É que... É que acabei de ter esse insight...
- Como assim, Rafael?
- É que acabei de me perguntar “o que estou fazendo aqui neste emprego”?
- Rafael?
- Eu quero demissão!


* Jornalista e contista gaúcho
Saúde e assistência

*Por José Calvino

A Constituição reza que: “É da competência do Estado e dos Municípios cuidar da saúde e assistência públicas, bem como da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiências físicas, sensoriais, mentais, como também aos idosos é garantida (...) Segurança econômica, condições de habitação e convívio familiar e comunitário que evitem o isolamento ou marginalização social, conforme dispõe Lei Federal...”

Essa contratação de 6.000 médicos cubanos para o Brasil é uma piada de mau gosto. O governo nunca deu condições para os médicos brasileiros atenderem bem à população. Com esse círculo vicioso eu tenho certeza que os médicos cubanos não conseguirão, a começar pelo tratamento eficiente, a exemplo da limpeza (um item importante para saúde) e da marcação de consulta médica: péssima, arcaica e desrespeitosa. O atendimento hospitalar é ainda pior, realmente não estão cuidando da saúde do nosso povo. Um absurdo!

Muitos médicos ainda reclamam ou reclamaram (época da ditadura militar) do sistema integrado de saúde. Sempre denunciei alguns Planos de Saúde. Pois bem, alguns médicos civis e oficiais da polícia são contratados para atenderem em suas clínicas particulares os associados e já aconteceu de doutores oficiais encaminharem de suas clínicas para o Centro Hospitalar da Polícia pacientes pertencentes a diversos planos de saúde, desta feita prejudicando os próprios componentes da PM no tocante à marcação de consultas. E quando se trata de algum dos associados, de pertencer ao quadro da PM, são solicitados mais uma vez os mesmos exames requisitados nas suas clínicas, para com isso receberem os honorários das conveniadas e do Estado. Como são corriqueiras entre os médicos, dentistas, etc. essas falcatruas, já fui vítima de alguns sob alegação de que o Estado ou os Planos de Saúde passam meses sem pagar! Alguns nomes dos médicos denunciei nos anos 70/80 (regime militar) Fiz outras denuncias nos anos 90 (regime democrático!)

Atualmente escrevi para os jornais que não existe nada mais inútil do que os “disque-qualquer coisa” do serviço público. Exemplos: Fale Conosco (Estado) e Alô Saúde (Prefeitura do Recife). Fui informado mais uma vez que o Estado e a Prefeitura não pagam as clínicas conveniadas, então será que irão pagar aos médicos cubanos?

*Escritor, poeta e teatrólogo. Blog Fiteiro Cultural – http://josecalvino.blogspot.com/

A flor docemente pousada

* Por Osvaldo Pastorelli

A flor docemente pousada
no seio da amada
revela paixão deslavada
e os dedos tímidos passeiam
 pelas pétalas cuja cadencia
 de movimentos, suaviza o ar
com aroma adocicado a escorrer
 úmidos anseios,
 num devagar quase lento,
desce por entre os seios túrgidos
 saboreando a aspereza
 de peles arrepiadas
 e contorna o umbigo
 beijando cada milímetro
 a textura de sua forma,
 e num apreciar maligno
 continua a descida se arrepiando
 pela quentura da virilha
 indo se afogar na grande
 gruta coberta pela mata
 que acolhe em seu seio
 o que eu sou:
múltiplos pedaços de desejos

    * Poeta e artista plástico

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Literário: Um blog que pensa

LINHA DO TEMPO: 7 anos, dois meses e três dias de existência.

Leia nesta edição:

Editorial – Inovações que foram saltos qualitativos..

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, crônica, “O ‘Santo Graal’”.

Coluna Contradições e paradoxos – Marcelo Sguassábia, crônica, “Quem mandou me obedecer?”.

Coluna Do fantástico ao trivial – Gustavo do Carmo, microcontos “Coração”.

Coluna Porta Aberta – Raul Longo, artigo “Capitalismo x Comunismo”.

Coluna Porta Aberta – Raquel Moysés, artigo “A Guerra do Paraguai: uma tríplice infâmia”.


@@@

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas”Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
 “Cronos e Narciso” Pedro J. Bondaczuk – Contato: WWW.editorabarauna.com.br
“Lance Fatal” Pedro J. Bondaczuk - Contato: WWW.editorabarauna.com.br


Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.

Inovações que foram saltos qualitativos

A ópera, depois de longo período de estagnação, que causou desinteresse público pelo gênero a ponto de quase levá-lo à extinção, subitamente entrou em nova fase, em que foi revigorada mediante mudanças, principalmente nos temas que passaram a ser explorados pelos compositores. Esse primeiro movimento reformador (ocorreram outros, de que também tratarei) centralizou-se, principalmente, em Nápoles, mas não apenas ali. Caracterizou-se pelo aparecimento do que passou a ser conhecido como “ópera buffa napolitana” e teve no compositor Giambattista Pergolesi seu principal expoente. Sua composição mais conhecida foi “La serva padrona”, cujo libreto é de autoria de Gennaro Antonio Federico.

O enredo trata, com leveza e bom-humor (explorando o lado picaresco da situação) de um caso que na época não era muito comum. Narra as peripécias da criada Serpina. Com malícia e inegável esperteza, essa personagem consegue convencer seu patrão, Umberto, a desposá-la. Guindada, dessa forma, à condição de patroa, desforra as humilhações que sofreu, enquanto empregada, nas que passaram a substituí-la nessa função. A ópera agradou em cheio o público, que gostou dessa ousada mudança temática, o que estimulou outros compositores a seguirem a mesma linha.

Outra ópera cômica, de grande valor artístico, foi “O matrimônio secreto”, de Domenico Cimarosa, cujo autor do libreto foi Giovanni Bertati, levada aos palcos em 1792. Outras tantas peças operísticas na mesma linha foram compostas e apresentadas, mas nenhuma delas teve tamanha relevância como as duas que citei. Ademais, as mudanças nos temas e nas técnicas não se restringiram à Península Itálica e a seus compositores.

Christoph Gluck, por exemplo, que tinha como principal (embora não único) libretista Ranieri di Calzabigi, introduziu, na Alemanha, uma série de mudanças no gênero, tão importantes que passaram a ser conhecidas como a “segunda reforma da ópera”. Na verdade, o que ele fez foi, de certa forma, promover uma volta às origens. Ou seja, tornou a subordinar, como originalmente acontecia, a música “exclusivamente” à narração do drama, suprimindo o excesso de árias que então era moda.

Exemplo típico disso foi sua ópera “Orfeu e Eurídice”, estreada em 5 de outubro de 1762. Essa composição é tida como o sepultamento do estilo barroco na música. Este caracterizava-se, grosso modo, por firulas vocais gratuitas e desvinculadas do contexto, além de outros tantos “penduricalhos”. Há, ainda hoje, quem aprecie esse tipo de composição. Da minha parte, embora considere o estilo barroco relevante do ponto de vista histórico, não gosto dele. É uma questão de gosto, claro e este não se discute. Todavia minha preferência é por uma música bem mais refinada, entre outras coisas, do ponto de vista técnico.

O fato é que, a partir das composições de Gluck, que não tardaram em ser assimiladas por outros tantos compositores, Europa afora, estava imposto novo modelo de se compor óperas. Seu estilo tornou-se uma espécie de parâmetro desse período, classificado pelos historiadores de arte como “clássico” do gênero operístico, com inegável e consensualmente reconhecido avanço qualitativo. Gluck viria a compor várias outras peças, tão boas ou melhores que “Orfeu e Eurídice”, como  “Alceste”, “Iphigenie en Aulide” e sua continuação, “Iphigenie em Tauride”, entre tantas.

Mas a Península Itálica não ficaria a reboque de nenhum outro país no quesito inovação do gênero, que significasse, simultaneamente, em evolução qualitativa. Foi ali que surgiu, em meados do século XVIII e início do século XIX, o que se convencionou chamar de “Grande Ópera”. E foi grande, de fato.

Luigi Cherubini compôs, por exemplo, “Medeia”, encenada pela primeira vez em 13 de março de 1797. Gasparo Spontini legou à posteridade essa maravilha chamada “A Vestal”. Gioacchino Rossini consagrou-se com “O barbeiro de Sevilha” (22 de fevereiro de 1806), “La Cerentola” (25 de janeiro de 1817) e, principalmente, “Guilherme Tell” (3 de agosto de 1829). Vicenzo Bellini compôs “A Sonâmbula” (6 de março de 1831), “Norma” (26 de dezembro de 1831) e “I Puritani” (25 de janeiro de 1835). E não se pode esquecer de Gaetano Donizetti, com “Ana Bolena” (26 de dezembro de 1830), “O Elixir do Amor” (12 de maio de 1832) e “Lucia de Lammermoor” (25 de setembro de 1835). Há, claro, outros tantos compositores geniais, italianos, alemães, franceses etc., dos quais tratarei no devido tempo.

Boa leitura.


O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
O “Santo Graal”

* Por Pedro J. Bondaczuk


A busca da felicidade é o maior empenho do homem, em todos os tempos, embora poucos saibam, de fato, o que os faz felizes ou tenham a mais leve noção do significado desse conceito, que é vago e carregado de equívocos, diferente para cada pessoa. Filósofos, escritores, poetas e psicólogos têm apontado, através dos séculos, caminhos vários na busca desse "tosão de ouro", desse "Santo Graal", desse ideal sem forma, sem que eles próprios, na maioria das vezes, o tenham encontrado.

O indivíduo feliz é aquele que encontra razões para viver até o seu último sopro de vida. Ou, pelo menos, esta é uma das faces desse diamante multifacetado chamado de "felicidade". O mundo não é mau, como ouvimos e lemos amiúde, desde tenra infância. A existência não é ruim, um vale de dores e de lágrimas, como asseguram furibundos e fanáticos pregadores ascéticos. A felicidade não é uma ocorrência rara e virtualmente ilusória. Nós é que complicamos a vida.

Nossa vaidade, nossa arrogância e nossa prepotência contra o próximo é que, como a mola, voltam para nós com a mesma força com que as destinamos aos outros e nos oprimem, nos machucam e nos humilham. Corremos o tempo todo atrás de sombras e não percebemos a substância parada bem diante dos nossos narizes...

Lembro, a título de esclarecimento, que Santo Graal é uma expressão medieval que designa, normalmente, o cálice supostamente usado por Jesus Cristo na ceia que antecedeu sua prisão, seu arremedo de julgamento e sua conseqüente crucificação. Sua busca fascinou (e ainda fascina) pessoas das mais variadas personalidades e atividades, como aventureiros, pesquisadores e, sobretudo, religiosos, mundo afora.

Está presente em inúmeras lendas, que atravessaram séculos e chegaram aos nossos dias. Existem muitos questionamentos a respeito, sobre a sua natureza, formato e, até mesmo, existência. É, realmente, um cálice? Onde está? Com quem? De fato existe? Ninguém ousa, ou sabe responder.

Mas, voltemos ao tema, objeto desta crônica. Um dos maiores pecados que uma pessoa pode cometer, se não o maior, é o de não ser feliz. É o de alimentar rancores, inveja, cobiça e egoísmo, em detrimento dos sentimentos nobres, das emoções sadias e dos atos de grandeza. A felicidade, ao contrário do que muitos pensam, não consiste na posse de bens materiais e nem na companhia de pessoas que os sirvam e bajulem. Estes até podem contribuir para que sejamos felizes, mas, sozinhos, não nos proporcionam essa desejada bem-aventurança.

A felicidade não é nada concreto, visível ou palpável, mas um conceito, uma postura, um comportamento. É, por exemplo, a satisfação com o que se tem. É a alegria com as aparentemente pequenas coisas da vida que, no entanto, são as que realmente contam. É saber se emocionar com o nascer e o pôr-do-sol, o desabrochar de uma flor, o sorriso de uma criança e, sobretudo, nutrir genuína gratidão pelo privilégio de viver.  

Há pessoas que deixam de usufruir a felicidade por não a saberem sequer identificar. Contam, por exemplo, com uma família unida e amorosa; são cercadas de afeto de múltiplos amigos, mas não sabem dar valor a esse magno privilégio, alheias ao fato de que a maioria não conta com essa bênção. Apostam na infelicidade e findam por, de fato, serem infelizes.

Devemos ser pródigos em agradecimentos e parcimoniosos em reclamações. Caso contrário... Seremos  rematados tolos de chutar nossa felicidade para um lugar em que jamais a conseguiremos alcançar. Ninguém, em lugar algum, é feliz o tempo todo. Isso não existe. Sempre haverá uma preocupação, uma angústia, um contratempo, um desgosto qualquer, pequeno ou grande, para nos atormentar. Isso, contudo, não pode influir em nosso humor, não pelo menos por muito tempo. A felicidade é constituída de “momentos”, mais ou menos duradouros, de acordo com nossas ações e, também, da nossa percepção.

Há pessoas que perdem não apenas um minuto, mas horas sem fim, dias, meses, anos, quando não a vida toda, acalentando mágoas, chateações e desejos de vingança, abdicando da possibilidade de serem felizes. Vale a pena abrir mão de tanto por tão pouco? Claro que não! Se há um tema que sempre vai gerar infinitas especulações, este é o da felicidade. Pessoas de todas as partes, profissões e condições sociais têm sua “receita” pessoal para serem felizes. Todas são válidas, pois a maioria é fruto de uma experiência própria. Nenhuma, porém, é absoluta. Também tenho a minha “fórmula” que, como as demais, é passível de contestação.

Creio que o caminho mais curto para a felicidade é sabermos valorizar o que temos e o que de bom nos acontece. É gozarmos de boa saúde, termos uma família amorosa e unida e uma infinidade de amigos, leais, solícitos e presentes. É conservarmos o bom-humor nas piores circunstâncias e encararmos a vida por uma ótica sempre otimista.

Tenhamos, pois, fé no futuro e façamos a nossa parte para tornar o mundo melhor, mais solidário e mais justo. Sejamos, sempre, a “cabeça” do corpo social, jamais a “cauda”. E ousemos exercitar nosso talento, não no sentido de buscar glória ou fortuna, mas de justificar a nossa existência. Não tenhamos, sobretudo, medo de sermos felizes. Só assim teremos condições de conquistar e, mais do que isso, de usufruir, desse tão procurado Santo Graal, que está ao alcance das nossas mãos, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso. Simples assim!
       

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk 

Quem mandou me obedecer?

* Por Marcelo Sguassábia

- Minha Nossa Senhora dos esquálidos, o senhor está que é só pele e osso! O que aconteceu? A ideia era perder 15 quilos em dois meses, e em três semanas o senhor perdeu 42!

- Bom, eu simplesmente fiz o que o doutor mandou: dieta e exercício. Cortei gordura, açúcar, massa, refrigerante. Cortei de vez. Só salada, frutas e arroz integral. Deu certo, né? Não vai me dar os parabéns, doutor?

- Eu vou é lhe dar um puxão de orelha daqueles, mas o merecido mesmo era colocar em você uma camisa de força, chamar uma ambulância e interná-lo no hospício mais próximo!!

- Não estou entendendo...

- Veja você como são as coisas. Eu costumo recomendar aos meus pacientes pelo menos 140 minutos diários de bicicleta ergométrica, com carga média de esforço e respeitando a frequência cardíaca máxima.

- Sim, exatamente como eu tenho feito.

- Acontece que, até hoje, só você foi o louco que resolveu seguir isso à risca. Quando você comprou a ergométrica veio junto um livreto com a relação de assistências técnicas autorizadas, não veio? Se você procurar por elas, vai ver que nem existem, porque ninguém usa uma bicicleta dessas a ponto de precisar de oficina. São quinze dias de pedaladas na carga mais levinha e pronto, o sujeito encosta e vira cabide de roupa. Quem pode precisar da assistência técnica é o cara que vai comprar a bicicleta de segunda mão. Só que aí já acabou o prazo de garantia, embora o produto esteja como saiu da loja. Nem o plástico do selim é retirado, pode reparar. Isso acontece com 100% dos pacientes, no mundo inteiro. Há estudos científicos que comprovam o que estou falando!

- Espera aí, explica melhor essa história. O doutor está se contradizendo. Eu obedeci exatamente às orientações médicas e levo bronca por ter feito a lição de casa?

- Então, mas quando é que eu ia imaginar que alguém um dia ia seguir esse suplício a ferro e fogo? Eu recomendo por desencargo de consciência, meu amigo, já sabendo de antemão que serei desobedecido. A lógica é a seguinte: quando eu prescrevo no mínimo 140 minutos de pedaladas, é porque eu sei que o sujeito vai fazer no máximo 5. Então eu coloco essa margem a mais de 135 minutos para que pelo menos 5 sejam feitos. Compreendeu agora?

- Sim, mas...

- O mesmo ocorre com a orientação alimentar que lhe passei. Fala sério: como é que pode um ser humano passar só à base de verdura, fruta e arroz integral? Nem na Índia, meu caro. Nem faquir de circo consegue isso. Eu lhe indiquei esse cardápio pra que o senhor cortasse quando muito a picanha e a garapa, mas continuasse comendo queijo, fritura, bolo de chocolate, essas coisas que ninguém resiste. Nem eu.

- Eu juro que posso explicar. Na verdade...

- E não me venha com desculpa esfarrapada. Estou solicitando nessa guia aqui uma série de exames, para a gente investigar direitinho o estrago que o senhor fez com o seu organismo. Desculpe eu ficar assim, meio exaltado, mas tudo tem limite. Ora, onde já se viu... tem louco pra tudo nesse mundo.

·         Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).



Coração

Por Gustavo do Carmo

Cara e Coração
Ele viu a cara e o coração. Acabou de retirar o órgão de um cadáver na aula de anatomia.

@@@

Corintiano
— Doutor, eu não me engano. Meu coração é corintiano. —Mas o senhor está enganado sim. O doador desse seu novo coração torcia pelo Flamengo. O paciente enfartou.

@@@

Alado
Seu coração não era alado, mas voou longe quando seu dono sofreu um grave acidente de moto.

@@@

Roubo
Ela roubou seu coração. Rendeu a equipe médica que transportava o órgão e impediu o transplante.

@@@

Coração
Guardou seu amigo no coração a sete chaves. Perdeu a chave de número 4.

@@@

Tum, Tum
— Oi, tum, tum, bate coração oi tum, o coração pode bater. Dizia o médico tentando ressuscitar o paciente com o desfibrilador.

@@@

Convencido
— Meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê. — É que ele sabe que eu vou tratar bem dele. Disse o cardiologista convencido.

@@@

Explode Coração
Não deu mais pra segurar. Seu coração explodiu e ele morreu de ataque cardíaco.

@@@

Dor
Sentiu uma dor no coração. Não perdeu nenhuma amada ou ente querido. O poeta estava tendo um enfarte.

@@@

Dono
— Meu coração tem dono. É de um pedreiro lá de Santarém. Disse a celebridade esnobe, que recebeu um coração transplantado.

* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu  blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores


Capitalismo x Comunismo

* Por Raul Longo

Pouca gente tem paciência para ler e entender “O Capital” de Karl Marx. Eu não me considero suficiente para tanto e das vezes que tentei, entendi coisa ou outra. Mas divaguei na maior parte.

Maior parte do que li, e foi muito pouco. Afora publicações que continham trechos da obra, completo mesmo apenas um dos 4 densos e portentosos livros.

Infelizmente não conheci o Che Guevara, mas gostaria de perguntar como conseguiu ler e entender “O Capital” e ao mesmo tempo fazer revolução. Apesar de estudioso, Che não deve ter lido “O Capital” inteiro.

A Rosa Luxemburgo leu e quando quero entender alguma coisa do Marx, recorro a ela. Não sei se por ser polonesa ou por ter sido mulher, compreendo melhor a Rosa.

Apesar de ter escrito “O Capital” para explicar ao proletariado de todo o mundo como e por que meios o Capitalismo nos explora, infelizmente poucos de nós o entendemos em toda sua abrangência crítica ao sistema. Daí é que alguns governos se aproveitaram para dominar totalitariamente seus povos em nome do Comunismo, sem nada terem de comunistas.

Por sua vez os Capitalistas usaram os crimes sociais praticados por aqueles falsos comunistas para se apontarem como libertários. Uma ova!

Tiranos hipócritas praticaram muitos crimes fingindo-se de Comunistas, sim; mas não menos hipócritas nem menos tiranos os que justificaram as barbáries cometidas em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil, dizendo combater o totalitarismo Comunista.

O verdadeiro Comunismo não é nem pode ser totalitário. Como o que tem de ser comum, pode ser exclusivo? Se for exclusivo, não é Comunista.

Já o Capitalismo, não tem jeito. É essencial que seja exclusivista.

O que é o Capital se não o acúmulo? E como todos podem acumular a mesma coisa? Não há meio! É ilógico, inviável e inexequível!

Essa história de que aqueles que acumulam Capital se tornam distribuidores do que acumularam, é conversa para enganar criança pequena ou adulto tolo. É preciso ser muito tonto para acreditar que apenas 10% (média europeia) ou 1% (média latino-americana) tenham de ficar cada vez mais ricos, para que haja alguma distribuição de riqueza?

Pode haver um raciocínio mais estúpido do que esse?!!

Aí vêm aqueles exemplos, muito comuns na mídia cotidiana, pintando o Capitalismo de rosa na divulgação da boa vida dos cidadãos da parte ocidental do Hemisfério Norte. E não aparece ninguém para avaliar dois aspectos simples, evidentes e gritantes:

Quem que mantém o consumismo irresponsável dos cidadãos dos países ricos? É só raciocinar um pouco: os estadunidenses poderiam ser tão gordos se os africanos não fossem tão magros?

A maior parte dos minérios utilizados pelas indústrias que enriquecem o Hemisfério Norte é levada da África. E todos os governos tiranos da África foram impostos pelos governos das nações do Hemisfério Norte.

Isso é uma evidência e não é preciso ler Marx para enxergá-la. É só não se deixar cegar e emburrecer pela mídia.

Mas há ainda uma realidade menos evidente, mais difícil de ser enxergada, porque escondida, omitida, não informada: existem pobres e miseráveis também no Hemisfério Norte. E não são poucos!

Segundo o US Census Bureau, o IBGE dos Estados Unidos, 58,5% da população daquele país entre 25 e 75 anos de idade viverá ao menos um ano abaixo do nível de pobreza. https://es.wikipedia.org/wiki/Pobreza_en_Estados_Unidos. Ou seja, mais da metade da população do país que concentra os maiores acumuladores de Capital do mundo, por pelo menos 360 dias de sua vida passará fome.

Claro que não consecutivos, pois todo ser humano acaba morrendo se ficar esse tempo todo sem comer coisa alguma. É preciso encontrar algum resto de sanduíche jogado ao lixo pelo crasse merdia dos Estados Unidos ou do Brasil.

Obesos e untuosos pela fartura, lá como cá a crasse mérdia se sente feliz por pertencer aos 40% dos privilegiados que não passam fome um único dia e continuam ignorando as omissões e acreditando nas mentiras com que a mídia internacional, Hollywood incluída, embala seus sonhos pueris de meninos abobados.

Continuarão dizendo que Comunista é comedor de criancinha enquanto assistem pela TV ou leem nos jornais e revistas quanto o mundo Capitalista é elegante, fofo e aconchegante.

Sentindo-se assim tão seguro e protegido, claro que o crasse mérdia jamais lerá Karl Marx e não será por aí que poderá perceber que o sistema Capitalista não tem o menor interesse em sua condição de vida, tão descartável quanto o lixo que produz e sem o menor significado perante o objetivo único e exclusivo do sistema: o acúmulo de Capital.

Num rasgo de inteligência o crasse mérdia se defenderá lembrando que o sistema depende intrinsicamente de seu poder de consumo. E é verdade, sem o consumo da crasse mérdia o Capitalismo vai a falência, assim como a mídia desaparece se não houver quem acredite em suas mentiras ou questione suas omissões.
Já que ler Marx não vai mesmo, envie o arquivo anexo para o crasse mérdia que você conhece. Por certo ele gosta de brincar de carrinho e quem sabe essas informações consigam que comece a pensar em alguma coisa a respeito do sistema que Marx analisou em “O Capital”. Ou pelo menos a desconfiar do que a mídia lhe anuncia.


* Jornalista e escritor