quarta-feira, 24 de abril de 2013


Ninguém entra e ninguém sai!

* Por Fernando Yanmar Narciso

Levem esta lição com vocês para o túmulo, crianças. Pessoas odeiam pessoas. Levei muito tempo para descobrir a grande verdade da humanidade, e quando a descobri me vi perdido no mundo. Mas quanto mais tempo passarmos pensando nessa idéia, melhor compreenderemos a nossa condição. Quantas vezes já vimos pessoas que foram amigas por uma vida inteira e que se tornaram inimigas mortais da noite pro dia por causa de uma besteira? Quantas vezes já conhecemos pessoas que, à primeira vista, se identificaram conosco, para logo depois fingirem que nem nos conheceram? Apesar da convivência com outras pessoas, estamos todos irremediavelmente sozinhos.

O pensamento coletivo morreu com a chegada da globalização. Só o bem-estar individual nos importa agora, os outros que se virem. É muito bonito e tudo ler aquelas mensagens enaltecedoras no Facebook pregando a união entre os povos, a tolerância e um sincero abraço para resolver as nossas diferenças, mas aqui, do outro lado do monitor, tudo isso é mentira. Atualmente, qualquer coisinha vira motivo para separar as pessoas em grupinhos, nos quais se você estiver dentro, tudo bem. Mas experimenta não estar neles ou tentar sair para ver o que te acontece!

O preço da exclusividade de um grupo sempre é pago com a perda do fator humano. O mundo das artes é repleto de grupinhos. Meu ponto de vista a respeito da arte é que ela deve atingir o maior número possível de pessoas, uma forma de se expressar compreensível por qualquer tipo de gente. Infelizmente, não é assim que a maioria dos meus colegas de pena enxergam as coisas.

Nada mais irritante que ouvir de artista tal que você “não entendeu o conceito da obra, por isso não gostou”, ou “minha arte é elevada demais, complexa demais para os comuns”, ou pior, “você não é crítico de arte”. Fala, Homero! Por que não preferir criar algo mais simples e despojado, que até um recém-nascido possa apontar o dedo e dizer do que se trata? Mas não. Somos artistas, precisamos ser compreendidos só por uma meia dúzia de três ou quatro. Está em nosso sangue o sabor da exclusividade...


Nem me deixem começar a falar de gêneros musicais! Quer saber o quanto vale a pena conversar com alguém? Basta perguntar qual é o músico favorito da pessoa. E no mundo do rock, o meu elemento, é onde dá para perceber a formação de guetos mais claramente. Teoricamente, metaleiros não se misturam com o bando do pop rock, punks não se misturam com a turma dos ripongas sessentistas, a turma do metal-farofa não pode nem ver a turma do grunge, e por aí vai. E olha que, pelo menos no papel, o rock é o principal ninho de cérebros da música.

Fulaninho não me representa. Esse é o atual meme da moda nas redes sociais. Se uma pessoa ilustre apresenta pontos de vista ridículos ou controversos, logo começam a chover imagens de todas as classes sociais, raças e religiões dizendo“Sei-lá-quem não me representa!” O atual alvo preferencial desse meme, pelo menos até meados da semana retrasada, foi o pastor Marco Feliciano, atual encarregado da Comissão de Direitos Humanos. Claramente nascido com um ouvido e duas bocas, ele não para de polemizar com suas frases deliciosamente estúpidas a respeito de Jesus, Deus, negros, gays, judeus e mortos ilustres, que ele insiste em dizer que morreram jovens porque venderam a alma ao diabo. Para todos os efeitos, a presença patética de Feliciano serviu para colocar em evidência uma comissão do governo que quase ninguém sabia que existia e principalmente para torná-lo a pessoa mais influente do Brasil na atualidade. É óbvio que ele tá amando toda essa atenção, e assim como os Sarneys, Renans e ACMs da vida, ele vai permanecer exatamente onde está por todo o tempo do mundo, não importa quantos cachorros soltem em cima dele.

Quanto a esse caso isolado, até que o “Não me representa” tem um uso lógico. O problema é quando começam a usar o “Não me representa” para contra-atacar qualquer coisa! Esse meme é o caminho mais curto para se chegar ao totalitarismo, uma forma fácil, para não dizer fascista, de construir uma cerca ao nosso redor, e sentir-se em destaque no meio da multidão. Uma imagem muito famosa agora é a da Regina Casé dizendo que brasileiro que é brasileiro tem que gostar de axé, pagode, funk e sertanejo. “Não me representa” à vista!

Orientação sexual. Desde a queda do império grego, onde ninguém era de ninguém, não descobriram uma forma mais eficiente de catar o feijão. Agora circula por aí uma imagem exaltando o “orgulho de ser heterossexual”, e que todos são obrigados a se adequar à “maioria esmagadora” de héteros do mundo, pois eles é que estão no caminho certo. Até diria que essa gente se parece com Hitler, se ignorássemos o fato de que Adolfinho, o homem mais diabólico e perigoso da história, não era “da laia deles”, se é que vocês me entendem.

Três vivas para a segregação e a intolerância!


Um comentário:

  1. Misturou alhos com bugalhos, falou mal de Feliciano, do segregacionismo e dos guetos, enfim, arrasou. Espero que repercuta do tanto que o texto merece.

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