quarta-feira, 20 de março de 2013


Fotos: Clóvis Campêlo

Igreja Basílica de Nossa Senhora do Carmo


* Por Flávio Guerra

O inventário dos prédios construídos pelos holandeses do Recife, organizado em 1654, logo após a expulsão dos invasores, menciona na rubrica 293: “Fronteira às Cinco Pontas, pela banda do rio, entre a força de Santo Antônio, está uma grande casa chamada a Boa Vista, com suas galerias e janelas, e no alto da mesma um torreão, obra flamenga vistosa. Estas casas são quartel do ajudante de tenente Roque Ferreira”.

Neste palácio, que escapou da destruição da cidade Maurícia, determinada pelos holandeses em 1645, quando praticamente rebentou a luta pela restauração pernambucana, durante muito tempo habitou o conde Maurício de Nassau, que o tinha como residência de recreio, pela sua bela posição, plantado à beira de ameno rio e voltado para o continente, no lado do poente.

E o nome de Boa Vista, Schoonzit no holandês, foi mesmo determinado pelo conde alemão, governador dos flamengos no Brasil, justamente em virtude daquela posição urbana.

Em época não precisada, porém que se determina como sendo antes de 1675, foi feita aos religiosos carmelitas a doação do referido palácio, que estava em ruínas, a fim de que nele estabelecessem “um hospício e uma capela na banda do Recife”, sendo seu primeiro prior o padre Frei Cristovão de Cristo.

E aceitamos aquele ano de 1765 baseado em informes de Pereira da Costa, que diz haver verificado uma carta régia expedida naquele ano “mandando que os frades do Carmo existente no Recife se recolhessem ao convento de Olinda”, o que dava a entender haver outro no Recife.

A verdade é que desde 1672 o Conselho Ultramarino negava autorização aos padres carmelitas para construir um Convento no Recife, devendo, sim, restaurar e utilizar breve o de Olinda, que fora incendiado pelos holandeses.

Mas em 1674, a 12 de setembro, o mesmo Conselho mudava de opinião e se manifestava favorável à concessão aos ditos padres dos terrenos no Recife “para levantar a sua nova Igreja e Recolhimento”, embora com isso tivesse a coroa que enfrentar um “autêntico corredor de queixas” encaminhadas pela Câmara de Olinda, protestando contra a “cessão de se deixar os carmelitas construir uma suntuosa Igreja e Convento no Recife, abandonando os de Olinda”.

Esclarece-se, assim, que o convento dos carmelitas no Recife e respectiva Igreja, foram fundados inicialmente nas ruínas do antigo palácio da Boa Vista, construído por Maurício de Nassau, estendendo-se após por mais uma “grande data de terras salgadas doadas aos religiosos”, pelo governador Aires de Souza Castro.


* Escritor

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