quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


Yraima

* Por Jair Lopes

A jovem cientista Yraima Moura Lopes Cordeiro é membro da Academia Brasileira de Ciências. Doutora em ciências biológicas, hoje é professora adjunta do Departamento de Fármacos da Faculdade de Farmácia da UFRJ, universidade pela qual se graduou em ciências biológicas / modalidade médica e obteve os títulos de mestre e doutora, Summa cum laude, em química biológica.

Lembrando que a ABC é uma entidade que congrega os melhores e mais expressivos cientistas do país. Em paralelo, poderíamos dizer que a ABC representa para a ciência pátria o que a ABL representa para a literatura brasileira, mas com uma importante ressalva. Enquanto a ABL reúne em sua irmandade esdrúxulas indicações políticas como José Sarney e Marco Maciel, por exemplo, e outras inexplicáveis como Arnaldo Niskier e Ivo Pitanguy, a ABC utiliza critérios estritamente técnicos, de modo que seus membros são todos laureados com, no mínimo, doutorado. Além disso, grande maioria dos velhinhos membros da ABL, se limita a tomar chá nas reuniões modorrentas das quintas feiras e se auto louvar pelas obras que produziu. Enquanto a ABC é conhecida pela atuação firme e produtiva de seus membros nas suas respectivas áreas de trabalho.

Yraima foi uma garotinha perfeitamente normal para época e lugar onde nasceu e cresceu. Nasceu no Rio de Janeiro na década de 70, exatamente dois minutos após sua irmã Naiana, a qual também é doutora, mas em outra área.

O que faz uma garota em tudo normal se tornar sumidade em alguma área? A meu ver, seus pais e o ambiente saudável que a envolveu. Heloisa e Ruy, além de pais convencionais na educação de seus rebentos, sempre foram leitores vorazes e seletivos, na casa deles nunca estiveram ausentes bons livros de todas as áreas, bem como horas regulares de leituras diárias. As gêmeas, e mais o garoto Aimberê que veio depois, tiveram como referência e “habitat”um ambiente em que livros faziam parte do mobiliário e eram lidos e manuseados com familiaridade todos os dias. Assim, quando Yraima ingressou na escola, nunca se sentiu “obrigada” a estudar, nunca achou que livros e estudos eram chaturas pelas quais tinha que passar como um sacrifício de vestal, pelo contrário, a cultura livresca fazia parte de seu DNA familiar e ela nunca teve necessidade se esforçar muito para adquirir conhecimento. Vale lembrar também que sua infância foi povoada de aventuras e seres fantásticos, como gnomos, que habitavam o sítio de seu avô nas noites de verão iluminadas de pirilampos e sonorizadas por grilos e outros terríveis bichos talvez alienígenas que comiam cérebros de crianças. Como se vê, uma infância perfeitamente saudável, que ela, a irmã e o irmão aproveitavam nadando numa piscina natural do sítio, mesmo quando a temperatura invernal desaconselhava essa prática. Aliás, Yraima é exímia nadadora desde praticamente o berço, aprendeu a nadar antes de deixar as fraldas.

As férias quase sempre incluíam dias vividos intensamente em Visconde de Mauá onde rios, cachoeiras e mata atlântica de transição se conjugam na forma de um quase santuário de natureza preservada povoada com gente que sabe respeitá-la.

Pois é, instrumentada com uma infância prenhe de fantasias, espaços e brincadeiras saudáveis; tendo pais disciplinados que davam valor ao hábito da leitura e aos estudos; boa aluna que estudou numa escola montessoriana; tendo facilidade para aprender idiomas – é fluente em várias línguas, inclusive alemão; e tendo gosto pela ciência desde muito cedo, é plausível e compreensível que hoje esteja ente os luminares que compõem o plantel da ABC.

Então, Yraima, ao contrário dos advogados deste Patropi, que ao passar nas provas da OAB passam a se auto intitular “doutores”, como se tivessem defendido alguma tese, é doutora De facto e De Jure, pois defendeu tese frente uma banca, tendo feito pesquisas para seu trabalho até em alemão na própria Alemanha.

Parabéns para essa guria que engrandece a ciência do país e que, por acaso, é minha sobrinha.

      · Escritor, autor dos livros “O Tuaregue” e “A fonte e as galinhas”.

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