domingo, 24 de fevereiro de 2013


Ulisses

* Por Alfred Tennyson

É pouco o proveito de um inútil rei,
Da calma da lareira, entre inférteis fragas,
Unido à velha esposa, que menta e distribui
Leis de desigualdade a uma selvagem raça
Que acumula e dorme e come e não me conhece.

Eu não posso repousar da viagem: beberei
A vida até a borra; todo tempo eu gozei
Grandemente, sofri muito, juntamente com aqueles
Que me amaram e sozinho; no litoral e quando

Por arrastadas correntes as pluviosas Híades
Vexavam o sombrio mar: eu estou a tornar-me um nome;
Para sempre rumando com cúpido coração
Conheci e vi muito; cidades de homens
E maneiras e climas, conselhos e governos,
Eu mesmo não o último, mas honrado por todos;
E delibei o deleite da batalha com meus pares,
Longe nos soantes planos da tempestuosa Tróia,
Eu sou parte de tudo o que eu encontrei;
Embora toda experiência seja um arco por onde
Brilha o ignorado mundo, cuja margem fenece
Pra sempre e pra sempre assim que eu me movo.
Quão tediosa a pausa, fabricar um final,
Oxidar sem ser lustrado, não chamejar no uso!
Respirar não é vida. Vida empilhada em vida
Seriam todas tão pouco, e de uma pra mim
Já pouco remanesce: mas cada hora é salva
Daquele eterno silêncio, alguma coisa a mais,
Um guia de novas coisas; e vileza seria,
Por uns, três sóis estocar e guardar em mim mesmo,
E este gris espírito ansiando em desejo
Pra buscar conhecimento como estrela cadente,
Além do último linde do pensamento humano.

Este é o meu filho, o meu próprio Telêmaco,
Para ele eu lego o cetro e a ilha—
É o meu bem amado, discernindo pra cumprir
Esse labor, de calma prudência pra fazer fiel
Esse rústico povo, e por suaves degraus
Subordiná-los todos ao útil e ao bom.
É o mais inocente, centrado na esfera
Dos deveres comuns, decente pra não falhar
Em ofícios de ternura, e também pra pagar
A adequada adoração aos meus domésticos deuses
Quando eu estiver ido. Sua lide lida, eu a minha.

Aqui está o porto; o navio tufa suas velas:
Aqui paira o vasto escuro dos mares. Meus marujos,
Almas que pensavam e suavam e urdiam comigo –
Que sempre com um festivo boas-vindas recebiam
O trovão e os raios de sol, e opunham livres
Corações e livres frontes — vós e eu estamos velhos;
A velhice tem entanto sua honra e seu trabalho;
A morte encerra tudo: mas algo antes do fim,
Um lavor de nobre nota pode ainda ser feito,
Apropriado pra homens que lutaram com deuses.
As luzes começam a cintilar nas rochas:
O longo dia desvanece: a lenta lua sobe: o abismo
Geme ao redor com muitas vozes. Vamos amigos,
Não é assim tão tarde pra buscar um novo mundo.
Desatracai, e sentados bem em ordem batei
As sonantes esteiras; pois meu propósito quer
Navegar além do pôr do sol e do mergulho
De todas as estrelas ocíduas, até que eu morra
Pode ser que os golfos nos banhem e afundemos:
Pode ser que toquemos as Ilhas Afortunadas,
E o grande Aquiles vejamos, a quem nós conhecemos.
Se muito está perdido, muito temos; embora
Não tenhamos agora a força que em velhos dias
Movia terra e céu; o que nós somos, somos;
Um igual temperamento de heróicos corações,
Fracos por tempo e fado, mas fortes em seguir
A lutar, a buscar, a achar e não ceder.

(Tradução: Joedson Adriano)

* Poeta inglês do século XIX

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