segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


Bênçãos

Por Raul Longo

Se fosse Deus,
por mera magnanimidade
abençoaria algo em ti,
Mulher.
Abençoaria, talvez...
teu sorriso.
Não o dos lábios,
que por menores
sempre se fazem razão maior
de meus desejos...
Mas a luz do sorriso
de teus olhos.
Ou, quem sabe,
abençoasse
essa tua luz, Mulher.
Não a que intumesce
teu ventre e em ti se desenvolve
até que venha afora.
E já no primeiro instante da vida
bale pela ausência de teu calor...
Mas sim a luz que infiltra
entre teus cabelos
e desenha em teu corpo
a silhueta dos meus anseios.
Provável fosse excesso
de amor paternal,
mas poderia abençoar também...
tuas mãos.
Não apenas as que me afagam
e perdoam,
nem só as que me acarinham
e apóiam.
Também não as que me estimulam
e excitam...
Mas principalmente as que
mostram o que me esconde a vaidade
de ser tão Deus...
que não há uma amiga em minha solidão,
não há uma mãe em minha improbabilidade.
Não há qualquer prazer em minha pretensa infinidade.
Se fosse Deus,
talvez em nada te abençoaria
Mulher,
pois por tua ausência...
me suicidaria.
E é por essa certeza que em mim
se confirma a teoria
de que...
Se fosse Deus,
homem não seria.

* Poeta, jornalista e escritor

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