terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Azambujanra e a mulata da Mangueira

* Por José Calvino

Comentei com Azambujanra que o conto “Clotilde viu fantasma?, de Pedro Bondaczuk, publicado no Literário em 07 do corrente mês era muito bem escrito. Esperamos confiantes a sua edição, que despertou muito o nosso interesse. Falando em sonho, desfiles, Palácio do Samba da Mangueira etc, na conversa fiquei impressionado com a história da mulata da Mangueira contada por Azambujanra:

Em 1980, Azambujanra com seus 33 anos (idade de Cristo!) foi ao Rio de Janeiro, na semana pré-carnavalesca. Numa certa tarde linda, na Cinelândia, Azambujanra resolve tomar uns chopes no famoso Amarelinho Bar, todo trajado de branco, chapéu tipo panamá (comprado em Caruaru-PE), de alpargatas brancas (parecia um fazendeiro), barba preta com uma mecha branca na parte do queixo, começou a namorar uma mulata linda de cabelos trançados num estilo africano, cada trança com bolinhas de todas as cores. Ela já tinha diante de si uma pilha de cartões de chopes. No início até pensou que fosse um travesti, mas na verdade se tratava de uma passista que tinha o samba na veia e desfilava na Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Entrando em contacto com a mulata, pois era vizinho de mesa, combinaram dançar no Bola Preta, que fica atrás do dito bar. Dançaram a noite toda e pela manhã brincaram no Cordão da Bola Preta. Sendo a maior festa popular do planeta, marcaram um encontro para o segundo dia de carnaval no mesmo bar.

No sábado Azambujanra recebe um chamado urgente, voltando para o Recife sem no entanto comunicar o seu regresso. Assim, faltou ao encontro com a dita mulata. Passados os anos, isto é, uns quinze anos, não tinha como se comunicar e resolveu rever a sua mulata, que não lhe saia da lembrança.

1995, no Amarelinho Bar. Naquela noite, os garçons não eram os mesmos e perguntando aos novatos se conheciam a passista da Mangueira, esses lhe informaram que já ouviram falar da dita cuja, mas que seria fácil encontrá-la no morro. Perguntado pelo seu nome, que havia esquecido, disseram chamar-se Glorinha (nome fictício). Azambujanra ao subir o morro lembrava a dança no Bola Preta...
- O que ela vai dizer quando me vir, será que vai me reconhecer?

Lá estava Glorinha, obesa, ensaiando no Palácio do Samba. Não acreditou ser a mulata que havia dançado e brincado no Cordão da Bola Preta. Agora, na ala das baianas.
- Não é possível! Não estou sonhando...

Decepcionado, assim mesmo criou coragem e resolveu enfrentar aquela situação, dirigindo-se a ela:
- Glorinha?
- Eu nunca te vi, cara!
- Rapaz!!!

Não podia imaginar. E, como diz o ditado popular: “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece”.

*Escritor, poeta e teatrólogo. Blog Fiteiro Cultural – http://josecalvino.blogspot.com/

Um comentário:

  1. "Nunca te vi, sempre te amei". A vida em tempos futuros nos reserva decepções, mas também alegrias em rever certas almas. É por isso que digo: fico velha, mas não fico obesa e nem loira.

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