sábado, 23 de fevereiro de 2013


Arraes em dois tempos

Por Clóvis Campêlo

Quatro anos separam as duas fotografias acima.

A primeira foi feita em 1994, no Pátio do Carmo, quando do comício de encerramento da campanha de Miguel Arraes para o Governo do Estado. Pela legenda do Partido Socialista Brasileiro, Arraes se elegeria governador com 1.262.417 votos, derrotando Gustavo Krause, do PFL, que teve 759.786 votos. Arraes, que parecia imbatível, tornava-se governador de Pernambuco pela terceira vez.

Os senadores eleitos foram Carlos Wilson, então no PSDB, e Roberto Freire, do PPS. O primeiro renunciaria ao mandato em janeiro de 2003, para assumir a presidência da Infraero. O segundo, foi candidato a vice-presidente da República, em 1998, na chapa de Ciro Gomes.

A segundo fotografia foi feita na Ponte Princesa Isabel, em 1998, quando Arraes tentava se eleger governador do Estado pela quarta vez. Desgastado pela escândalo dos precatórios, teve apenas 744.280 votos, sofrendo uma fragorosa derrota para Jarbas Vasconcelos, que teve a votação expressiva de 1.809.792 votos. Com a sua campanha vitoriosa, Jarbas Vasconcelos arrastou José Jorge, do PFL, para o Senado. Tudo indicava que o mito Arraes chegava ao fim.

Consta também que Jarbas e seus novos aliados da direita haviam estabelecido um pacto para governar o Estado de Pernambuco e o Recife por no mínimo 20 anos. Vale lembrar que em 1996 Roberto Magalhães havia vencido as eleições municipais para a Prefeitura do Recife, criando as condições adequadas para a ascensão de Jarbas e a queda de Arraes.

No entanto, a vitória surpreendente de João Paulo de Lima e Silva, em 2000, derrotando Magalhães que buscava a reeleição e estabelecendo pela primeira vez um governo petista no Recife, mostrou que esse projeto tinha fôlego curto e trouxe de volta ao cenário político as propostas da esquerda pernambucana, que, desde então, mantem-se no poder tanto no âmbito estadual quanto municipal.

Lembro que após a vitória de João Paulo aqui no Recife, no segundo turno das eleições municipais de 2000, quando todos os seus eleitores se reuniram na praça do Marco Zero para comemorar o feito, entre as bandeiras vermelhas do PT e do PCdoB, tremulava a bandeira azul da campanha de Arraes, em 1998. No meio do povo do Recife, no meio da poeira levantada pela vitória que ninguém de sã consciência esperava no início da campanha, o mito e a esperança estavam de volta.

* Poeta, jornalista e radialista

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