sábado, 22 de dezembro de 2012

Chuá!

* Por Sílvio Lancellotti

Não tinha altura, não dispunha do físico suficiente. Mas, adorava jogar basquetebol na sua escola. Adorava tanto que o treinador da seleção o adotou como um mascote. Carregava o saco de uniformes nos jogos do time infantil. Era o último dos reservas no time juvenil. Às vezes, quando o placar de um prélio favorecia a sua equipe, entrava na quadra, para os últimos segundos.

Considerava-se injustiçado, porém. Havia implorado ao seu pai que lhe providenciasse uma tabela e um aro, oficiais, no quintal de sua casa. Todos os dias, depois das aulas, gastava horas e horas no treinamento dos arremessos – uma década e meia antes de aparecer, no esporte, um tal de Oscar Schmidt.

O treinador, de todo modo, basicamente o esquecia. Pior, o desprezava. Ocorreu, no entanto, numa pugna importantíssima, que faltou o Caio, o craque do elenco. E que outros seis atletas, dos doze da equipe, acabaram eliminados com cinco faltas. O marcador apontava uma igualdade, 56 X 56, a menos de um minuto para o encerramento do duelo. Sem opção, o treinador o escalou.

Coube-lhe cobrar um lateral, quase na linha do garrafão do inimigo. Com a empáfia dos humilhados, lançou a bola a um colega e a recebeu de volta. O treinador havia desenhado o lance na sua pranchetinha. Teria de fingir um arremesso e, daí, passar a pelota ao Toninho, o melhor do elenco depois do Caio. Num lampejo, resolveu falcatruar. Ao invés de fingir um arremesso, num lindo jump, conseguiu os dois pontos que levaram a sua escola ao triunfo. Os colegas deliraram com a sua ousadia. O treinador o aplaudiu bastante.

Só que, na peleja seguinte, a final da temporada, o manteve no banco de reservas. Sim, manteve, até que faltasse um suspiro para a pugna acabar, o placar em 48 X 48. Com uma frase fatal, o colocou na batalha: “Repita o que você fez, dias atrás!” Pois reprisou, de maneira ainda mais espetacular. Ao invés de fingir um arremesso, ao invés de perpetrar um lindo jump, invadiu o garrafão, fez a cesta e sofreu uma infração. Que converteu, vantagem de três pontos, o título do torneio. Resumo: abandonou o basquete naquela data.

Hoje, consta que é um jornalista, um comentarista de televisão.

* Diplomou-se em Arquitetura. Trabalhou na revista “Veja” de 1967 até 1976, onde se tornou editor de “Artes & Espetáculos”. Passou por “Vogue”, agências de publicidade, foi redator-chefe de “Istoé”, colunista da “Folha” e do “Estadão”, fez programas de gastronomia em várias emissoras de TV, virou comentarista de esportes da Band, Manchete e Record, até se fixar, em 2003, na ESPN. Trabalha, além da ESPN, na Reuters, na “Flash”, no portal Ig e na “Viva São Paulo” e é sócio da filha e do genro na Lancellotti Pizza Delivery – site de Internet www.lancellotti.com.br.

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