quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Vamos trocar livros?

* Por Mara Narciso

Há quem diga que gosta de ler, mas não tem tempo. É evidente que depende do que for priorizado. Outros afirmam que livro é artigo de luxo no Brasil, no qual uma nova classe média se desloca para o consumo. Como disse o escritor Petrônio Braz, patrono do Clube de Leitura Felicidade Patrocínio: “Ter curso superior não distingue ninguém, é obrigação. O diferencial é fazer as coisas bem feitas, e para isso é preciso buscar aprimoramento nos livros.” Falava à cerca de cento e quarenta pessoas que atenderam ao chamado para o Primeiro Escambo de Livros do Clube de Leitura Felicidade Patrocínio.

Durante um mês foi solicitado que pessoas doassem livros usados e feito o convite para que comparecessem ao clube para trocá-los. O ingresso era portar um livro ou vários para permutar. Antes da troca, seriam avaliados pelo jornalista Roberto Pinto Fonseca e o leitor receberia uma ficha de determinado valor, a qual poderia ser trocada por outro livro. Estes também poderiam ser comprados por preços simbólicos de um, dois ou três reais. Por ali passaram mais de mil livros - cálculo grosseiro, já que não foram contados e continuaram chegando até bem depois do final da festa que aconteceu na tarde de sábado, dia 24 de novembro.

Uma hora antes do início das atividades caiu uma tempestade de arrepiar, porém boa, porque melhorou a temperatura fervente. Havia segurança na entrada, que entregava um folheto com as normas do escambo. No segundo andar, onde os livros estavam expostos, havia alguns leitores com seus livros debaixo do braço, já de olho no que pretendiam levar. Muitos se mostravam aflitos, a procura dos títulos mais famosos, best sellers, os da moda, ou ainda os clássicos. Por entre quadros sobre cavaletes, no ambiente de pintura branca e piso rústico, os objetos do desejo daquele público estavam muito vivos empilhados e distribuídos sobre sete mesas.

Para que um só leitor não capturasse os melhores títulos, orientou-se que a troca leitor a leitor estaria valendo desde a chegada. As permutas com livros doados que estavam nas mesas, seria depois. Mas a afobação e descontrole dos montes-clarenses a procura dos livros foi tão grande, que se antecipou o início das trocas.

A entrada de donos de sebos foi desestimulada. A intenção não era juntar livros e nem angariar fundos. O objetivo era fazer circular livros, tirá-los das gavetas e estantes, pois um exemplar só acontece quando está sendo lido. Seria melhor e mais econômico se cada um deles fosse usado mais de uma vez. Mesmo com as normas de paridade visivelmente desobedecidas, não houve brigas, nem tampouco cenas desagradáveis. Os livros estavam ali e as pessoas os queriam. Uma cena emblemática e gostosa de se ver: jovens em busca do saber, com os braços ocupados por livros de vários assuntos, feitios, tamanhos e estados de conservação. Pena que a televisão não estava ali para registrar.

Não é propriamente fácil aos apaixonados por livros desgarrarem-se deles. Então foi visto o exercício do desapego, especialmente quando o próprio autor dava o seu livro. Quase que se podia ouvir um grito de dor.

O Grupo Fibra chegou de repente, surpreendendo aos presentes. Estavam com o rosto pintado de branco e vestiam roupas com fitas coloridas. Declamaram, dançaram e cantaram músicas folclóricas com muita alegria. É tão bom que haja gente disposta a se doar assim!

Devido ao burburinho e agitação, peculiaridades desse tipo de atividade - escolha de livros-, a resenha de “Jesus - causa mortis” de Manoel Hygino dos Santos, da Academia Mineira de Letras, que seria proferida por Dona Yvonne Silveira, Presidente da Academia Montesclarense de Letras, foi adiada. A escritora Geralda Magela de Sena declamou o poema “A Telha de Vidro”, cuja mensagem deveria ser trazida para todas as vidas - luz, muita luz e claridade.

Felicidade Patrocínio, mentora e organizadora desse novo passo para ampliar a rede de leitores, mostrou grande desprendimento, abrindo a sua galeria/ateliê para um público convidado via rádio, televisão e internet. É despojamento que chega. Temerário é pouco para quantificar esse gesto ousado. Em princípio, quem gosta de livros deveria ter o espírito mais polido. Mesmo com a mudança das regras no meio das atividades, o escambo foi um sucesso, pois as pessoas atenderam ao convite, os livros tiveram a poeira espanada e foram distribuídos.

Fotos registraram o acontecimento, e mais tarde os leitores desceram para o lanche, num momento de calma e confraternização, durante o qual, felizes, mostravam as suas aquisições. Os livros que sobraram serão doados ao presídio e ao Centro da Criança e do Adolescente Paula Elizabeth, após a separação por temática.

Foi dada a segunda largada cultural do Clube de Leitura Felicidade Patrocínio. A primeira foi a sua criação há 18 meses, com discussões literárias a cada mês. Agora é esperar para breve que os livros distribuídos sejam lidos, e que voltem ao Clube para o Segundo Escambo, e então, ficar sob os olhos e a admiração de outros premiados leitores.


*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade” – blog http://www.teclai.com.br/

2 comentários:

  1. Livro é bom assim, lido e circulando. Não como ornamento decorativo. Ótimo texto, Mara!

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    1. Que bonitinho seu comentário, Marcelo. Sabe que deveríamos até mesmo em família propor uma troca assim?
      Muito obrigada!

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