terça-feira, 20 de novembro de 2012

Motivo

* Por Evelyne Furtado

Há dias penso em escrever sobre a efemeridade. Ainda tento lidar com a fugacidade da beleza, da alegria e dos encontros felizes.

Indago, divago, invado-me, procuro motivos e ainda não cheguei ao meu texto, simplesmente por não aceitar totalmente a impermanência do que me é aprazível, ou simplesmente confortável.

A vida, indiferente à minha vontade, ensina. Não me furto ao aprendizado. Já sei quando não há alternativas às mudanças. Já treino outros passos; outros caminhos.

Porém, ainda bato pé como criança em algumas ocasiões. Inquieto-me e todas as minhas inquietações levam-me à completude de Cecília Meireles, que cedo aprendeu a lidar com o efêmero. Enquanto não encontro as minhas próprias respostas faço de seus versos e verdades o meu canto.

Motivo

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo: — mais nada.

* Poetisa e cronista de Natal/RN

Um comentário:

  1. O que é o nosso tempo de vida? Um sopro. Até em relação ao universo, a Terra é apenas um instante. A consciência da nossa insignificância assusta. Por isso é preciso acreditar em Deus e na vida eterna.

    ResponderExcluir